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24 de fev. de 2014

Preparação

Aos poucos, querendo ou não, a gente vai se sentindo muito bem e à vontade no papel de tia, mãe, vovó, senhora. A vida é muito bonita, principalmente quando descobrimos que a maioria dos nossos antigos medos não tinham razão de ser.

Lembro da primeira vez que ouvi alguém me chamar de "coroa". Era um rapazinho de uns 16 anos mais ou menos. Eu ia passando e ele exclamou: "ô coroa gostosa!"  Não morri. Tô vivinha, pra contar a história.

A vida é como uma grande caixa onde jogamos objetos de vários formatos todos os dias. Fazemos isso sempre muito preocupados achando que não vão caber; "a caixa" não suportará tudo o que lhe está sendo imposto.  Quando a sacudimos, percebemos que as coisas se acomodam por si mesmas e no final das contas tudo encontra o seu lugar. Um dia caixa fica cheia: não faltou nada, não sobrou nada.

Não há o que temer. Quando cada coisa que tem que acontecer, acontecer de fato, estaremos simplesmente preparados.

Quando eu tinha 17 anos pensava com horror nos meus 50. Era como o fim da vida, o fim da linha, a decreptude, um mundo cinzento e triste. Quando pensava nisso eu sabia que não estava preparada para viver aquilo. "Cinquenta anos? É demais para mim! Será possível alguém ser feliz com cinquenta anos?"

De fato aos dezessete eu não estava mesmo preparada. Aliás, alguém que consegue ter um pensamento tao equivocado como esse não está preparado pra nada na vida! Mas então o tempo passou. Devagarzinho, dia apos dia, como naqueles programas de computador em que um rosto se transforma em outro rosto mas a gente não consegue entender como nem a partir de quando. Fui sendo trabalhada pelo tempo e aqui estou eu - muito bem, obrigada.

Aos dezessete fui tola e sábia: fui sábia em perceber meu despreparo, mas fui tola em olhar o futuro imaginando que seria jogada lá de repente pela máquina do tempo.

Agora olho para a velhice e sinto a mesma tentação de achar que enfrentarei o horror dos horrores e concluir, por fim, que não estou preparada. Sinto a tentação, mas dessa vez não cedo a ela. Aprendi a lição. Já não tenho mais medo. Sei que nos sacolejos da vida eu estarei preparada, perfeitamente preparada.

Essa tranquilidade de hoje me leva a concluir que sou mais calma e feliz agora do que quando sofria as tolas inquietações dos meus dezessete anos. É lindo ser jovem, mas não é nada confortável.

Se tem um ditado que eu gosto e é o "meu" ditado, é este aqui: "No fim, dá tudo certo."

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