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17 de jul. de 2014

Negruras


Comecei a assistir, com uns amigos, um desses filmes horrorosos com sangue, gritos e torturas. Claro que não consegui ficar até o fim. Repulsivo e angustiante.

Que tipo de vida têm as pessoas que, dentro de si, concebem um filme assim?  É necessário marcas escondidas, dores, doenças e um certo tanto de lixo como matéria prima armazenada. Que tipo de mente respira imaginando isso? Por quantas horas durante o dia?  Não se assustam consigo mesmas?  E se há mercado pra isso, esse mundo é um lugar tenebroso mesmo!

As vezes acho que a Terra é uma enorme caverna muito, muito escura. Nós nos assustaríamos se pudéssemos enxergar tudo. A escuridão, no caso, é um alento. Enquanto caminhamos pisamos em insetos, esbarramos em cadáveres e moscas enormes. Há baratas e larvas, escarros e dedos. Lesmas estão debaixo dos nossos pés mas não percebemos. Seguimos em frente, reclamando apenas da ausência de luz.

Talvez convivamos com pessoas que, se pudessem ser viradas do avesso, seriam um filme de terror. Há zumbis por todos os lados, estou certa disso. Quem são eles? Não sei. 

E por falar em zumbi, acabei de reler ainda agora um texto meu, aqui no blog, no qual eu dizia que a vida só é completa se contiver também dor e o sofrimento. Quando reli lembrei do filme horroroso que comecei a ver e disse para mim mesma, assustada, que eu não estava me referindo àquilo. Não! Deixem-me explicar que a "atração pela dor"  que eu mencionava tinha a ver com cometer erros, envolver-se em situações de risco e relações tensas. Nada parecido com esse pesadelo da tela.   Então expliquei a mim mesma que não sou um desses seres deturpados que trazem à luz diversões macabras. Sou uma pessoa boa. 
Sou uma pessoa boa?

Tenho realmente condições de enxergar a mim mesma a ponto de poder recomendar-me aos outros com segurança?  Ou a caverna por onde anda meu verdadeiro EU é tão escura quando a que acabei de imaginar?

Se acendêssemos uma lamparina no labirinto da nossa mente - sim, da nossa própria mente, não na dos outros! - não ficaríamos assustados?  Do que somos capazes?     O pai que matou a filha: será que ela sabia desde sempre que era capaz disso? E a moça que matou os pais à pauladas? Desde quando se sentiu capaz?

Nossa cegueira nos protege de enlouquecer. Ou nos protege de notarmos que somos loucos. Nos protege da angústia da descoberta. Como se fôssemos mais de um: o EU ingênuo e "acreditador" e o "'EU" mau e louco; meu irmão gêmeo a quem não posso ser apresentado. Sou a pessoa má e sou a que acredita que sou boa. Sou duas, separadas uma da outra pela parede da escuridão. A parede que nos separa das nossas dolorosas verdades.

Não vemos tudo. Somos estranhos a nós mesmos. O interessante é que temos no peito um ideal de bondade e beleza que nos motiva, nos enternece e, de certa forma, levanta o nosso olhar e nos faz continuar andando nas trevas enquanto acreditamos na luz.

Não sei bem qual o nome desse "lado puro que não se enxerga". Dizem que é "espírito".

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