Quem vai ao shopping no Carnaval - pensei - é porque não quer Carnaval. Isso me parecia lógico, mas saibam que nem todos concordam. Alguém decidiu perseguir os "shopeiros" com uma bandinha irritante cujo som era onipresente. Nunca pensei que o shopping tivesse tanta acústica. Não havia para onde me refugiar daquilo! A praga da música não acabava mais, emendava uma na outra como um trenzinho aloprado, matraqueando nos corredores lajotados.
A bandinha era formada por palhaços saltitantes, coloridos e energizados. Tocavam empolgadamente marchinhas antigas misturadas com cantigas de roda. As crianças os cercavam eufóricas e todos pareciam igualmente seduzidos. Ou hipnotizados. Ou "macumbados". As meninas, lindas e espevitadas, dançavam com eles, pulavam, aplaudiam, riam, balançavam as marias-chiquinhas. Os meninos quicavam em seus tênis lunares e seus shortões engraçados. Eles estavam adorando! E os pais, pesados, pregados no chão, sorriam derretidos, cheios de ternura melosa. Tiravam milhares de fotos e trocavam sorriso com os pais ao lado. Estranho, mas o me parecia ser o inferno virou um pedaço do céu.
Que visão desconcertante! Que festa as crianças podem fazer só pelo fato de estarem felizes! Fiquei tão emocionada com aquela alegria singela! Comecei a me derreter... A empolgação dos pequenos era uma coisa tão e iluminada e ao mesmo tempo simples que me deixou sem jeito. Me senti um ogro atrás da árvore, uma bruxa má e azeda. Fui condenada em silêncio.
Agora me diga como foi que eu não percebi de cara o potencial de felicidade da bandinha? Como não me passou pela cabeça que os pequenos iriam adorar o lance, que aquilo combinava com criança como picolé combina com praia? Mas que ranzinza eu estava sendo!
Ninguém dava folga para os jovens palhaços que pareciam entender tudo de criança e também não se cansavam. Foi uma cena e tanto. Um tapão colorido no meio da minha lata.
... Ai me perguntei a partir de qual momento, exatamente, deixei a simplicidade de lado e passei a reclamar de bandinhas? Meu Deus, o que a vida faz com a gente!
Moral da história: bora reagir.
Fim.
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