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26 de out. de 2014

As vezes


(Escrito em 05.07.14)

As vezes da um aperto no peito e vem uma melancolia que pensávamos extinta. Sobe da terra como vapores sobem do esgoto. Só que a tristeza da gente chega a ser poética quando não é excessiva.

Estou ouvindo música oriental. Estou cansada e esses vapores sobem, enchem o quarto e me cercam. Tentam me contar tristezas, lembrar de dores. Tentam me fazer entrar no esgoto por livre e espontânea vontade - mas não quero, não vou.

Queria muito que essa pequena angústia continuasse pequena, continuasse curta e desaparecesse amanhã junto com a cerração do dia.

Já carreguei muitas melancolias. Chega. Perdi a capacidade adolescente de ver nisso romantismo. Por que estou triste? Fiz tudo certo hoje, fiz tudo que gosto de fazer. Cuidei bem de mim, estou tranqüila.

"Por que estás abatida, oh minha alma? E por que te perturbas dentro de mim?"


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos


David Mourão - Ferreira

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