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25 de out. de 2014

Cais


Cais não é saudade. Não é lembrar de alguém. Não é fatalidade, não é "coisas da vida". Cais é o medo fossilizado. Não é tristeza de estar só: é tristeza de não ter ido.

Abaixo dos pés, as águas. Inquietas e livres, encharcadas de histórias. E as tábuas enegrecidas e fofas, afirmando que o tempo passou. As águas convidavam e sugeriam, mas nunca deram garantias.  Nunca deram garantias... Você queria culpá-las. Ali, na beira, nas madeiras velhas está o testemunho da sua covardia.

Todo cais é um monumento.

...aos que olharam a chance, o último convite,  se apequenando ali no fim, no horizonte.

Eles não vão voltar.

Visitar o cais é lembrar de quem foi. É saber que quem foi, não volta. Ninguém vem te buscar e não há remédio para o não ter ido.

Quem visita o cais não tem pressa de voltar pra casa mas quando volta tem os olhos cheios de outros mundos imaginários, outros mares possíveis.  Na beira do cais cabem todas as imaginações, todas as invejas.

O cais é a segurança dos infelizes, a eternização do status quo. É se saber um covarde de colarinho puído.

Por isso não gosto de cais. Eles não são bonitos. Ou são, mas como os cemitérios.

Cais são demarcações, são os limites que você não pôde ultrapassar. Ali sua vida fica presa, mas meio frouxa, num vai e vem de barquinho amarrado. Você relembra o último lampejo de juventude, quando era possível tornar tudo possível. Seus pensamentos se misturam, esbarram um no outro, mas não vão muito além. Eles não são barcos nem pássaros; são só os seus pensamentos.

Há uma idade muito grave: a idade do cais. É nela que as pessoas se matam.


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