Tenho mania de querer justiça e de implicar com a impunidade. Tenho mania de achar que ninguém pode ter sossego depois de cometer um mal.
Já fui diversas vezes desafiada quanto a isso no que se refere
à minha fé. Por eu ser cristã as pessoas acham que me contradigo ao aceitar o
Deus que manda perdoarmos os inimigos e ao mesmo tempo querer que os bandidos
sejam exemplarmente punidos. Só que não há contradição alguma nisso.
Veja:
Perdoar é um mandamento de Deus PARA MIM, não para o Estado. Uma coisa é dizer "perdoa". Outra coisa é dizer "imponha aos outros o perdão compulsório."
Uma coisa é EU dar a outra face por convicções próprias, porque quis. Outra coisa bem diferente é o Estado me forçar a dar a outra face. Aí já é cachorrice. Perdão só tem valor se for espontâneo e consciente. Se não for é só impunidade mesmo, não tem nada de elevado.
O perdão em particular é o exercício do amor
consciente e livre. É virtude. Quando você perdoa o ofensor, se ele continuar ofendendo o problema é seu. Sim, possivelmente você terá um problema mas esse é um risco que VOCÊ ESCOLHEU pagar. Mas
quando você quer que João fique impune pelo tapa que ele deu em José, você não está sendo bondoso. Está sendo cínico.
O perdão tem um ônus para o ofendido. Por isso só ele tem o direito de decidir se quer ou não quer arcar com esse ônus. É maligno impor à coletividade o peso da impunidade em nome do "amor". Que amor mais cara de pau é esse? Mostrar "amor" às custas do sofrimento de toda uma coletividade? Que gaiatice é essa?
Evangelho é graça.
Lei é justiça.
Misericórdia é melhor do que justiça.
Impunidade é um inferno.
Cristo JAMAIS pregou impunidade. A Bíblia toda mostra que uma vez praticado o
mal, ALGUÉM VAI TER QUE PAGAR por ele. O pecado não é coisa de somenos. Impossível jogar o mal para baixo do tapete. Ele sempre volta.
A lição do Evangelho não é "deixa pra lá". Deus não deixa pra lá. O que ele nos perdoa é porque já foi pago. Jesus se colocou em nosso lugar e morreu para ser a expiação pelos nossos pecados. Mas isso é uma questão espiritual. A dívida para com Deus já foi paga, se aceitarmos esse favor. Mas a conta para com a sociedade não tem nada a ver com isso. Deus "é outro departamento".
O resultado espiritual do pecado foi neutralizado, não porque Deus "deixou pra lá" mas porque a justiça de Deus pesou sobre Jesus. Detalhe: Jesus não foi obrigado. Deus não baixou um decreto dizendo que ele iria pagar pelo que fizemos. Foi um sacrifício espontâneo.
O princípio fundamental do Evangelho não é a impunidade, é a SUBSTITUIÇÃO.
Todas as vezes que sugiro criação de leis severas vem alguém
querendo me jogar na cara meu cristianismo. Ora, não é porque Cristo disse
"perdoai" que vou sair por aí abrindo as portas das
penitenciárias. É para EU perdoar, não para os outros. A ordem de Jesus foi para os seus seguidores, não para as
instituições.
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