.

.

20 de fev. de 2015

À margem


Jesus disse que veio ao mundo para "desfazer as obras do diabo". Disse também que quem o seguisse e imitasse iria enfrentar todo tipo de perseguição.

Alguns entendem que "desfazer as obras do diabo" tenha a ver com sair por aí praticando o exorcismo. Se fosse isso seria tão fácil! Estou certa de que Cristo nos chamou para desfazer o mal onde há maldade, impor o bem onde o mal impera, limpar o que está sujo, desentortar o que está torto e por aí vai. Ele não se referia simplesmente a assuntos "espirituais" e impalpáveis.

Acabei de assistir Clube de Compras de Dallas. Um bom exemplo do que é ir se deixando levar pelo que é certo e descobrir de repente que está andando na contramão do mundo.

O mundo se move por interesse, ambição, vaidade, dinheiro e sexo. Ninguém liga muito para essas afirmativas até o dia em que vê, como o personagem, as pessoas morrerem por causa do lobby da indústria de remédios. A indústria de remédios pressiona o governo para só liberarem o medicamento que é do interesse deles, que dará mais lucro, ainda que isso custe a vida de milhões. Lutar contra isso significa perder dinheiro, conquistar inimigos, perder o emprego, perder a vida talvez.  Sim, "desfazer as obras do diabo" dá mais trabalho do que gritar "sai desse corpo que não te pertence."

De todas as lutas possíveis e imagináveis, nenhuma é mais árdua do que lutar contra leis injustas. No Brasil isso é claríssimo. Estamos lotados de leis injustas.

Lutar contra injustiças legais é lutar contra nosso sistema maligno em seu nascedouro. É nesse ponto que o sujeito se desespera. Percebe que as pessoas se vendem, que tudo depende de interesses mesquinhos e que essa historinha de justiça, igualdade, respeito, proteção à vida, é tudo conversa fiada. Ninguém está interessado nisso.

Fazer o bem é estar à margem, nadar contra, se desgastar, chorar e arrumar inimigos mortais. Se pra você "fazer o bem" se resume a distribuir cestas básicas, você ainda está vivendo no país dos sonhos. Distribuir cestas é bom e válido, mas lutar contra o mal é atacar justamente onde a pobreza é gerada. Aí você se indispõe tanto com o opressor quanto com o oprimido. Porque enquanto estiver adulando o discurso de vitimização tudo bem, mas quando começar a mostrar que certos maus hábitos tem que ser abandonados para a vida melhorar, aí você deixa de ser visto como santo e passa a ser visto como monstro.

É difícil. É dificil mesmo. Inclusive porque o mal está compartimentado. O poder não está  só na mão de um sujeito exatamente. É uma cadeia sem fim que não sabemos onde começa nem onde termina. Dessa forma ninguém se sente responsável pelas próprias maldades porque não começou com ele nem acabará com ele e qualquer coisa que se faça parece não afetar o todo. Chego a pensar que o poder centralizado seria melhor. Porque se tudo vai mal, sabemos a quem culpar. Quando a culpa não é de ninguém todos se sentem anistiados. Será? Nem sei...

É fácil fazer campanha na televisão contra o bulling. Quero ver você chamar atenção dos seus amigos, dizer que precisam conversar com seus filhos, corrigi-los e orientá-los. Você vai atrair ódio. Quero ver fazer campanha de conscientização no colégio pressionando diretores e professores, procurando os pais dos alunos opressores e dizer o que o filho deles está fazendo.

Ao fim de cada discussão para tratar de qualquer problema veremos que a culpa é dos outros, de um ser sem rosto que ninguém sabe onde mora. Ninguém tem culpa de nada. Somos uma sociedade de inocentes. Essa é a nossa desgraça.

Nenhum comentário:

Páginas