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7 de jun. de 2015

Karaoke

Karaokês são divertidíssimos - quando é a gente que está cantando.  Difícil é aturar os outros. Karaokês são muito instrutivos: nesses eventos somos ensinados a ter uma paciência infinita gerada pela esperança de também cantar e esquecer aquele sofrimento.

É o momento também em que aprendemos a valorizar o cantor que mais odiamos. Descobrimos que ele não é tão ruim assim.

Karaokes  são eventos que nos ensinam o que é paciência infinita e generosidade angelical. E ensina outra coisa mais difícil do que fazer vista grossa: fazer ouvido de mercador.

A arte de não ouvir é uma das que mais precisamos aprender.  Isso porque a maior parte dos nossos dissabores nos invadem através dos nossos ouvidos. Os olhos e os ouvidos são as portas do coração. Pois participando das insuportáveis noites de karaokê você vai aprender a arte de esperar, de fingir que gosta, de aplaudir querendo vaiar, de rir do que não tem graça, de ouvir o que detesta - e sorrindo.

Karaokê é um exercício de civilidade a que todos deveríamos nos submeter vez por outra.

De minha parte acho que estou indo muito bem com essas lições. Estou há horas ouvindo as piores músicas cantadas pelos piores cantores que já pisaram o planeta. O exercício de não escutar fingindo que estou escutando  já me ajudou muito a habitar outro planeta quando esse aqui não está valendo a pena.   Estou de parabéns pelo meu poder de concentração. Já posso levantar, pegar minha condecoração e finalmente ir embora.

Karaokês são torturantes para quem não está participando.  Se não fosse um treinamento de civilidade, deveriam proibir.

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