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3 de nov. de 2015

À boca do poeta



Hoje não quero nada meu
Quero tudo emprestado

Quero o desfalecimento dos amantes
As letras do Vinícius
A voz profunda, a rouquidão
Os cabelos longos como trilhos

Quero a leveza da bailarina
Quando se lança lânguida
Pretendo falar pela boca de um poeta
Que seja melhor do que eu
E destemido como o príncipe dos contos.

Quero a doçura da criança
Quando ela pede o impossível
E tanto se empenha
Em um desejo sem esperança

Abro mão dos meus arabescos
E letras e rimas
Porque não quero nada meu
Quero ver-me no outro
Pela boca do outro
Pelo brilho dos seus dentes
Respiraçao e palavras.

Meu querido poeta
Abre a tua boca em divinhações
E mostra a verdade comum de todos os homens!

Se tens olhos úmidos
E palavras exatas
Se tens um soluço livre como gaivota
E pés ligeiros
E a loucura necessária
E beijos trêmulos,
Se sabes tocar,
Então empresta-me teus dons
Porque o que sinto hoje
Não cabe nos meus.


Cristina Faraon

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