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30 de jan. de 2016

Sinais











Vejo você bem longe
Do outro lado do rio
Não claramente
Não quero falar-te mas quero contato
Envio-te sinais veementes mas secretos

Envio-te meus mais intensos pensamentos
Doloridas saudades
Coisas pulsantes e sem nome
Aflições sufocadas
Não percebes?

Mando-te gaviões e gaivotas
E escuros pássaros mudos
Mas eles não te encontram
Não te tocam
Não se chocam contra teu peito quente

Mando-te sinais veementes
Que chegariam a Andrômeda
Que chegariam a Deus!
Que Ele me valha
Enquanto sangro

A água corre muda e funda
E forma  redemoinhos contorcidos

Distância é a mais certeira definição de morte
Mas ela será vencida
Quando também eu atravessar
Numa embarcação branca de ossos
Que preparo com desvelo

Toda distância é morte
Todo rio será vencido.

Concentro-me
E envio-te corvos
E pensamentos vermelhos
Sentimentos emaranhados
E dores de filha
Mas não me olhas, não dás sinal!
Então corto meus pés e os lanço
Em desespero mando também joelhos e pernas
Na esperança de que te achem
Que me vejas neles
Que te lembres!

Pois vai também a cabeça
Que cai pesada, some
E ressurge resoluta e encharcada
Minutos... horas...
Aí vão meus olhos
Que flutuam pasmos
Sem ter onde agarrar
Dou-te tufos de cabelos
Muito unidos e emaranhados

Ninhos meus
Nascedouros de medos e amores
Jogo-te minhas unhas cravadas nas vísceras
Que te pasmarão
Que te agredirão pela sua feiúra
Elas percorrem a correnteza em dores
Deixando um rastro, um véu,
Um cheiro.

Mando-te mãos e cérebro
- Que tudo se perca!
E o punhal com que me decepei vai junto
Seja ele a testemunha da intensidade
De tudo isso que não vês.

O rio arrasta seu véu
Como uma noiva em transe
Meus sinais são buquê
Eu fico
Não sigo
Irei mais tarde
Quando não aguentar mais

Agora acompanho com os olhos
Apreensiva
Esse estranha procissão
E a coleta que farás.

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