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28 de mar. de 2016

O louco


Acho que todo louco tem alguma história triste para contar. Claro, nós não queremos ouvir.

Toda vez que encontro na rua uma pessoa desajustada penso no caminho que ela percorreu até chegar onde chegou. Quando deixou de ser uma criança delicada? Quando deixou de ser um adolescente adorável, cheio de idéias engraçadas? Quando, exatamente, se desesperou de tudo?

Qual será a história de cada louco? Eu queria saber. Deve ser comovente. Eu iria sofrer... mas queria saber a história dos loucos. A partir de qual cena seu caminho foi desviado? Em qual momento exato não haveria mais volta? Qual o golpe fatal? Qual foi a dor que não passou? Quem declarou seu caso perdido?

Onde estavam os amigos, os vizinhos solidários, os amores redentores, os professores paternais?

Esses dias fui fazer um lanche a noite. Sentada em minha mesinha vi um menino de uns 8 ou 10 anos de idade. Sujo, descabelado, com um olhar que as vezes parecia perdido e outras vezes ameaçador; mudava de aspecto a cada olhadela minha.  Parecia um bichinho, um bichinho acuado saindo da toca por força da fome. Parecia ter medo de algo que eu não conseguir enxergar. Talvez nem fosse medo. Aquela expressão pode ter-se  apegado ao seu rosto como um papel jogado pelo vendo.  

Que dolorido é o caminho até a desesperança! E como pode um menino já ter percorrido esse longo caminho?

Todo louco tem uma história. Pena que não paremos para ouvir.

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