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24 de mar. de 2016

Ciclos



Estou plenamente convencida de que o universo se movimenta incessantemente por ciclos. Não caminhamos necessariamente em uma direção, nem pra frente nem pé atrás. Pelo contrário, estamos condenados a círculos de caminhada enormes, imensos, de forma que por mais que andemos para a frente, essa frente é inevitavelmente curva e não temos meios de evitar chegar exatamente ao ponto do qual partimos.

Estou convencida de que é inútil denunciarmos a destruição do planeta. Podemos atrasa-la, quando muito, para o bem da nossa e da próxima geração, no máximo. Mas ela virá, tão certo como o dia seguindo-se a noite. Não deveríamos nos preocupar demasiadamente com isso. Mas preocupar-nos com uma coisa ou outra é algo tão profundamente ligado a nossa natureza que também não vejo sentido em denunciar nossa própria tolice se não conseguimos mudá-la.

Quando passei a acreditar no imenso círculo no qual estamos vivendo, observo que isso me leva ao fatalismo. O fatalismo é muito mal visto, pois nos condena a ser meros espectadores da nossa própria história, dos movimentos do mundo. É muito mais honroso que sejamos agentes, atores, ativos, não platéia.

Por ser possível observarmos os resultados, assustadores ou não, da ação do homem no planeta, somos acometidos da falsa impressão de que, por percebe-la, temos algum domínio sobre ela. Não temos.

Um ajuntamento de muitas pessoas pode acarretar um momento de pânico. Nesse pânico pode acontecer o deslocamento de grande massa humana em um determinada direção e esse deslocamento pode causar pisoteamento e morte. Isso é assustador. Quem olha de fora pode ser levado a acreditar que é muito simples parar a turba e evitar a mortes. Tudo parece ser tão simples e previsível que não entendemos por que aquelas pessoas simplesmente não param o que estão fazendo. Basta parar, basta querer. Só que nenhuma delas, que caminha para a frente com suas próprias pernas, tem realmente controle sobre o que está fazendo. O mesmo se dá com a guerra e tudo mais. Era só parar, não dar tiro e pronto!  Quanto mais afastados estamos do poder de decisão, mais simples  a questão aparenta ser. Os discursos a respeito do desmatamento de nossas florestas vão para as nossas crianças, a dona de casa, o pessoal da cidade. Eles se escandalizam e angustiam. Essas campanhas não tem poder algum sobre a vida de quem está com a serra na mão. Eles simplesmente não conseguem parar. 

Da mesma forma são todos os movimentos sociais. Acredito firmemente que o mundo já passou por diversos ciclos de criação, deterioração, destruição e recriação. Tudo já foi novo, passou a ser velho,  afundou e tornou-se novo de novo. Não conseguimos evitar e só não aproveito o texto para pregar o silêncio porque isso também não adianta.

É irresistivel se alarmar, é irresistível denunciar, é irresistível continuar e afundar. Por isso falo, por isso calo, por isso suspiro e vou dormir. Amanhã é outro dia e talvez eu seja assaltada por melhores pensamentos.

Da mesma forma que tememos a morte e até pressentimos sua chegada mas não a impedimos nosso fim é tão certo quanto o recomeço que nos aguarda.

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