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23 de set. de 2016

E tudo começou com uma moedinha...


É chato ser chamada de miserável. Mas já fui. Só por  reclamar da imposição ameaçadora dos flanelinhas que insistem em se auto contratarem como nossos funcionários para desempenharem a "dificílima" tarefa de olhar os nossos carros.

Por muito tempo me recusei, na medida do possível, a pagar tal imposto. Hoje me rendi. Não sei o que é pior: o olhar ameaçador desses "cidadãos de bem" ou a pressão social dos "amigos" que acham que temos que nos sentir culpados por andar de carro próprio.

Antigamente as pessoas achavam que tínhamos o dever moral de fazer papel de babacas, tudo em nome da "caridade". Disfarçavam a covardia debaixo de um sorriso bonachão e trêmulo de quem não quer conflito. Agora como a coisa cresceu, enraizou e tomou conta de tudo, estes mesmos já começam a reclamar. Tarde demais. Antes nos chamavam de miseráveis. Agora que o valor da "taxa" só faz crescer e já estão até exigindo pagamento antecipado, agora reclamam.

O brasileiro perdeu a noção dos seus direitos. Não entende que imposto só se paga para o Estado - e olha lá!  Custam a assimilar a noção de  que você só tem que pagar pelos serviços de alguém a quem tenha contratado livremente e que se a gente sente receio de dizer "não" é porque tem alguma coisa errada aí.  Mas nosso povinho não entende que eu não tenho que reconhecer os direitos de ninguém sobre uma via pública. Que a via pública é pública.

Se há uma coisa que me irrita é covardia disfarçada de caridade.

Sou uma incentivadora de atos de generosidade. Ajudas, esmolas, auxílios, tudo isso deve fazer parte das nossas vidas. Não faz  bem a ninguém se trancar em uma bolha de egoísmo.  Mas uma coisa é DAR e outra bem diferente é ser EXTORQUIDO.

Pra extorsão não exite valor mínimo.

É necessário entendermos que se hoje alguém se julga no direito de me exigir dois reais, nada o impedirá de aumentar o valor da exigência amanhã. Se continuarmos assim, em pouco tempo teremos que começar a pagar pedágio pra bandido.  E não espere que o poder público nos defenda. É mais fácil o governo se associar a eles pra levar uma fatia.

Há uns anos, quando estive no Rio, fui estacionar perto do Pão de Açúcar e o bandido da área  queria cobrar trinta reais para eu deixar o carro em via pública. Não, eles não estão tomando conta dos carros. Eles simplesmente tomaram posse da rua e cobravam por seu uso.  Nossos governantes não fazem nada porque são da mesma laia. Um ladrão não se indigna contra outro ladrão. Há uma camaradagem implícita.

Nossa idiotice é tão crassa que observei por várias vezes pessoas amigas dando dinheiro a flanelinha com ar blasè, posando como se fosse um charme muito grande fazer papel de otário. Posando como quem diz "sou bem sucedido, umas moedinhas não me farão falta. Eu posso."   Dar dinheiro seria então uma evidência de que você está acima da plebe.

Se cinquenta reais por mês não fazem diferença para você então porquê não o dá a quem trabalha? Por que não aumentar o salário da sua empregada? Ou dê de gorjeta mensal para o porteiro.

Ah, e tem mais essa: eles já têm até associação! "Associação dos Flanelinhas, Lavadores e Manobristas" . Que direito pode ter alguém que me subtrai direitos?   Lavadores e Manobristas tudo bem mas querer remuneração por "olhar" o meu carro ? E sem meu consentimento?   Eu olho centenas de carros todos os dias e nunca ganhei um tostão com isso.

Ser explorada pelo Governo é uma fatalidade para a qual eu não contribuí. Mas pagar imposto para flanelinha foi uma coisa que CADA UM DE NÓS PLANTOU por pura palermice. Você, que sempre criticou pessoas como eu, é um dos responsáveis por estarmos nas mãos deles.

E antes que você me corrija eu já vou dizendo: NÃO, isso não é caridade; é extorsão mesmo.

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