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1 de set. de 2018

Num sábado de sol

Hoje é sábado e passei o dia todo com a sensação de estar no lugar errado. Meu quarto era o lugar errado apesar de ser exatamente o lugar onde eu queria estar. Lendo, navegando, dormindo, remexendo gavetas, e-mails, fazendo nada.   Bom demais, mas... será que deixei de fazer alguma coisa que deveria fazer?  O que eu deveria estar fazendo? Qual é o certo? Tem certo?

Não sei de onde vem essas exigências fantasmas que encardem o nosso ócio.

Estive viajando esses dias. Sabe essas viagens em grupo onde a gente conhece um monte de lugares legais mas não para um só minuto e chega exaurida ao hotel? Pois é. Em alguns momentos eu dizia a mim mesma que tudo o que eu queria fazer quando voltasse pra casa era não fazer nada, não ir a lugar algum por uns dias. E hoje foi meu grande momento de cumprir essa agenda oca, já que nos dias anteriores ainda tive que desfazer malas, lavar roupas, pintar cabelo, ajeitar unhas.

O sol brilhando lá fora e a exigência interna de aproveitar o sol. Respondi a mim mesma que já aproveitei todo o sol do mundo nessa viagem de verão e agora chega. Não adiantou porque sábado é sábado e a obrigação de qualquer ser humano grato à vida é aproveitar o sol uma vez que ele esteja instalado no céu - e estava. Quase senti vergonha de mim. E quase senti medo de quem alguém me telefonasse pra perguntar o que eu estava fazendo e eu me visse obrigada a responder que não estava fazendo nada num sábado desse.

Não fazer nada num sábado de sol é um ato de ingratidão. Uma grande desfeita ao dono do sol e dono do sábado.   Acho que o sentimento era esse: de ter pisado na bola com alguém que foi legal comigo. Ou: não existe esse hiato no mundo real. Ele é ilusório. Se estou paradona é porque alguma coisa deixei de fazer. Estou me devendo algo.

Imagino agora as outras exigências-fantasmas  menos explícitas que nos incomodam ao longo da vida. Quanto do que fazemos realmente queremos fazer? E quanto do que não fazemos nos pesa como uma transgressão?

Quanto do que fazemos é só pra evitar um hipotético arrependimento futuro mas na verdade não queríamos fazer hoje?

O que é a vida? Uma corrida atrás de uma felicidade que nem sabemos qual cara tem? Correríamos atrás da plenitude se ninguém nos tivesse dito que era isso que deveríamos fazer?  O que é a vida? é um amontoado de informações que não nos favorecem em nada?

E aquele cachorro da esquina, também sofre disso? Ele tem as suas próprias exigências-fantasma-caninas? Se tem, coitado. Não pode nem desabafar num blog.

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