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5 de jun. de 2020

Os malucos dos esportes radicais






Estive assistindo esses dias a um documentário sobre pessoas que arriscam a vida - e frequentemente a perdem  - praticando os esportes mais malucos. Malabarismos impensáveis na bicicleta, numa corda através no Grand Canyon, esquiando em velocidades absurdas através de rochas, mergulhando sem cilindro abaixo de cem metros.

Não são loucos. Geralmente são pessoas quimicamente viciadas em uma substância que o próprio corpo produz: a adrenalina.  Adrenalina vicia sim. E mata, porque não dá pra conseguir na farmácia nem na boca de fumo. É necessário arriscar a vida para sentir seu efeito na dosagem desejada.

Numa entrevista um jovem admitiu isso. Disse não saber viver sem aquele êxtase provocado pela aventura, pela proximidade da morte. Seu organismo era inundado por uma dose inebriante de adrenalina e era algo tão maravilhoso que simplesmente dava mais para viver sem.  Em cada aventura ele  procurava mais e mais. Por fim admitiu que sabia que iria morrer por causa disso,  mas não conseguia parar.  Mostrou uma foto  como vários amigos companheiros de aventuras e foi apontando os que já haviam morrido. Vários. "O próximo pode ser eu". Ele estava ciente.

Bem, essa é só uma maneira de enxergar os "malucos radicais".  Mas claro que eles não são só isso.

Eles são  peças curiosas dessa engrenagem incrível formada pela totalidade  dos seres humanos entrelaçados no mundo.  Eles nos mostram as inúmeras possibilidades de existência. São o leque.

Assim como precisamos dos médicos,  engenheiros, químicos e mecânicos, precisamos também, e desesperadamente, da leveza desses loucos que fazem evoluções  dentro das ondas gigantescas. Precisamos de pessoas que nos mostrem na prática que a vida é muito mais variada e colorida do que conseguimos imaginar. Não podemos viver só de matemática. É enlouquecedor! Precisamos daquele cara que engole fogo, que escala a montanha, que se joga da montanha. Precisamos de quem nos diga que PODEMOS TRANSCENDER.

Fico feliz quando vejo que não sou só isso, mas de certa forma sou "aquilo" também porque "todos somos parte do gênero humano". Eu olho aquelas loucuras todas e por um instante brevíssimo ganho asas e me sinto... maior.  Há como sair, saltar além.

Há algo a mais dentro de nós.  Eles nos provam que podemos ir além do que pensamos que somos. Não somos feitos só do que se pode explicar.  Como a proximidade com a morte pode trazer tanto êxtase?  Em qual momento mágico o perigo deixa de ser um monstro  e se torna um companheiro de aventura?

Não sei de muita coisa. Não tenho respostas redondas mas sei que faço parte da mesma raça daqueles caras que dão quatro cambalhotas montados na motocicleta.   De alguma maneira estou ali muito bem representada por eles.

Pode parecer que não, mas a vida precisa deles. Somos, como eu disse, uma engrenagem. Uma engrenagem muitíssimo  sofisticada onde cada um  desses  loucos dão cor e sentido ao todo. Não é  um sentido obvio. É um sentido mais fino, sutil, que se insinua no meio de todas as reentrâncias dessa máquina gigantesca. Eles são leves como metáforas. São a exuberância da  vida sendo desenhada para a gente entender melhor.

Eles são um  desafio e um convite. Quem não precisa disso?

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