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17 de jan. de 2021

Quando as bolhas espocam *


Não, eu não sou escritora. Tive uns surtos tempo atrás mas perdi a mão. Perdi o trem. 

Houve vários trens em minha vida e todos se foram.

Há um momento ideal para as coisas acontecerem. Elas se insinuam, brilham, permanecem suspensas por alguns momentos no ar e por fim espocam sem muito alarde.

Revirei meu blog desde o início. Descobri que lá atrás, no começo, eu escrevia muito, mas muito mal. Ridiculamente. Desejei apagar aquele monte de banalidade mas não o fiz.  Não consegui me renegar. Acho que me amo. 

Pois bem, segui viagem e percebi minha fase áurea.   Vi o tempo quando "as coisas estavam suspensas no ar" sorrindo e me convidando a seguir em frente, me aperfeiçoar. Evoluir.  Crescer. Tirei do sepulcro uns textos muito bons, de minha autoria. Tão bons que humilharam-me enormemente. Olharam-me de cima para baixo, meteram o dedo em minha cara e disseram: acabou pra você.   Foi uma coisa pesada perceber que a fertilidade passou e alma também envelhece. Não me sinto mais capaz de escrever nada com aquela qualidade.  As bolhas espocaram e fiquei aqui, com o copinho de sabão na mão, sem ação.

Sinto certa saudade daquela Cristina angustiada que escrevia coisas mais sensíveis. Até porque a angustiada tinha uns acessos espirituosos. Eu gostava dela.

E aqui estou eu, com a sensação estranha de que não adianta correr atrás. Que a vida segue sempre em frente e isso não é necessariamente bom.  Em algumas estações ela deveria parar um pouco, mas não para.   

Só tenho então o computador diante da cara e um impulso tênue de dar mais uns passos só pra não perder muito o jeito de andar. Preciso continuar mesmo que não valha nada, que ninguém queira nem precise.  É uma espécie de missão que tenho que cumprir, com ou sem glória.   Porque a vida continua marchando feito louca e ela não quer ser esquecida. Ela quer que eu a registre mal ou bem, para a minha glória ou humilhação.

Pois registro sem glamour que é noite, tenho azia e cansei de querer coisas. Olho para trás e vejo tristezas. Sim, há alegrias bem risonhas, mas os véus da tristezas não saem da frente e atrapalham um pouco a olhada. O futuro é um fim-de-festa onde não preciso me preocupar em limpar o salão. Só quero tirar os sapatos e tomar um banho.  E ninguém quer saber o que virá.

Nada incrível vai acontecer amanhã. O que tinha que ser, já foi. E isso é tudo.

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