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23 de mai. de 2019

Você fareja?

Você é do bem: você  luta contra o preconceito e rejeita estereótipos.  Aí chega uma pessoa que encarna 100% um estereótipo reconhecível.    Tipo "esse cara sorri, gesticula, fala e se veste como um autentico 171". 

Você diz para si mesmo "eu sou um lixo preconceituoso!" e  torce para aquela pessoa te dar uma lição de vida,  te surpreender e fazer o contrário do que a sociedade retrógrada e hipócrita espera. Você quer  se envergonhar da sua própria experiência de vida. Mas...

Mas ai a pessoa se comporta exatamente dentro do padrão de comportamento previsto. Do jeito que voce farejou. Bem  dentro daquilo que a sua maldita experiência de vida apontava como previsível.

Você quer evoluir mas a vida real não coopera, pô!

Já aconteceu com você?
Confesse.

21 de mai. de 2019

Belo

Uma linda música, uma joia, uma estampa bonita, jardim bem cuidado, a cor perfeita na parede.  É um mistério a necessidade tão real que os humanos têm de estar em contato com o belo.  A beleza é uma coisa que, aparentemente, não contribui em nada para minha sobrevivência. Minha parede bonita ou meus brincos de ouro não me tornam mais bonita então por que os prezo tanto? E a música? Nem é palpável. O que ganho com ela?

Posso passar o mês teorizando mas a simples constatação da realidade já basta. Precisamos do belo e não nos satisfazemos apenas com o físico.  Somos seres espirituais, bem mais complexos do que os bichos, para os quais basta o prazeres físico.   Para nós não basta ter uma cortina: ela precisa ser bonita ou pelo menos ter uma cor agradável.  Em tudo buscamos a beleza.

"Se existe Deus, que Deus é esse que tem necessidade de adoração, contato e homenagens?!!!"  rsrsrs. Não, ele não precisa. Nós é que precisamos.  Ele se disponibiliza por amor.

O azul não precisa de mim mas eu preciso ver o turquesa brilhante num dia de verão. Preciso! Só porque é lindo e de alguma forma me alimenta por dentro, como uma sinfonia.

Nós temos necessidades indizíveis, até estranhas, mas reais. Fomos feitos assim.

Deus não precisa de adoração. É muito ridículo pensar que ele precisa - mas ele a quer. Por quê? Porque nos ama e SABE que isso nos faz bem. Ele sabe que é uma fonte de alimento e prazer e que a falta desse contato é a raiz de profundas angústias existenciais e buscas infrutíferas.

9 de mai. de 2019

Sonho recorrente *



De um modo geral acho meio bobo dar muita importância para o significado dos sonhos. Sonhos são apenas produções de uma mente desocupada. É como deitar no chão e jogar bolinhas de papel na parede: não há missão especial nem significado. Mas quando os sonhos são recorrentes fica difícil achar que não tenham algum significado psicológico ou espiritual.

Sonho frequentemente com casamento.   E nos sonhos sempre há um quê de tristeza ou aflição. É sempre uma situação muito ruim.   Eu deveria ter anotado todos os meus sonhos com esse tema mas não o fiz. Vou tentar agora resgatá-los na memória. Deu vontade de fazer isso porque essa noite sonhei de novo com coisas relacionadas a casamento.

Certa vez tive um sonho que hoje me parece o mais aflitivo de todos:


Sonhei que eu estava noiva e com o casamento marcado há muito tempo. Meu noivo ela bonito, rico e jovem, mas morava distante. Nós nos amávamos. Ele deixou comigo todo o dinheiro necessário para que eu providenciasse a melhor e mais rica festa do mundo; o melhor vestido, a melhor ornamentação, o melhor local. Absolutamente tudo! O prazo era enorme e suficiente para todos os preparativos. Foi então que a coisa complicou porque quem tem muito tempo acaba desperdiçando tempo.  Como eu sabia que tinha tempo de sobra para tomar as providências, fui deixando tudo para depois e de tal forma fui irresponsável que passavam dias e dias em que eu praticamente esquecia do casamento. Eu dormia, saída pra passear, ia a festas... e passava períodos enormes sem fazer o menor planejamento.  Então certo dia meu noivo entrou em contato comigo avisando que já estava vindo ao meu encontro para nos casarmos e isso seria já no próximo final de semana. Não deveria haver surpresa porque JÁ ESTAVA TUDO PREVIAMENTE COMBINADO. Ele ligou só pra confirmar e me tranquilizar.   Ele chegaria exatamente em cima da hora da cerimônia,  já pronto.    Eu levei um baita susto. Eu sabia que ele estava voltando, sabia da data, mas estava tão distraída que não tomei nenhuma providência. Ele contava comigo. Ele confiou em mim porque sabia que eu tinha família e um monte de amigos que poderiam me ajudar nos preparativos. Só que relaxei e quando vi já era sexta feira e o casamento seria no sábado e eu não tinha feito absolutamente nada. Jamais conseguirei descrever a ANGÚSTIA que senti nesse sonho, a dor no coração. Era inenarrável o desespero. Horrível!  Eu estava atônita como se tivesse acordando de um longo sono, de um estado inexplicável de letargia. Não conseguia entender como eu me esquecera de algo tão importante do qual dependeria todo o meu futuro e felicidade.    Então era sexta feira e eu me pus trêmula a tentar telefonar para mil pessoas implorando por ajuda e tentando fazer tudo às pressas. Primeiro achei que o mais urgente era o vestido, mas as lojas todas já estavam fechando naquele final de tarde. Eu não encontrava nada adequado em lugar nenhum. Não dava tempo de ficar experimentando nem escolhendo vestidos. E eu não poderia comprar qualquer coisa pois meu noivo era muito rico e distinto, uma pessoa importante e ele esperava poder me apresentar com muito orgulho para a sua família.  Ele me amava e confiou em mim.  Então eu corria desesperada implorando  para as costureiras e donos de loja me atenderem mas ninguém conseguia me ajudar. Só diziam que não havia tempo pra fazer nada, que estavam fechando os estabelecimentos, que estava tudo alugado, que as costureiras já tinham ido embora da loja. Eu não sabia o que dizer nem a quem apelar. Ligava para os amigos mas nem todos me atendiam e quando atendiam a coisa não andava. Todos queriam me ajudar mas ninguém sabia como fazer algo as cinco da tarde de uma sexta feira! Depois de muito sacrifício consegui um vestido numa loja empoeirada e muito brega. Tentei olhar com bons olhos mas ele estava largo e me caía muito mal. Seria um vexame entrar na igreja com aquilo. Pedi para uma costureira me ajudar mas ela morava longe e eu ainda tinha que providenciar salão, buffet, ornamentação, convidar as pessoas... Minhas mãos tremiam ao pegar no celular porque eu não sabia nem pra quem ligar primeiro, não sabia o que fazer primeiro e a hora estava passando.  Decidi que iria me arrumar sozinha mas aí lembrei que tinha que contratar o jantar... Como não havia mais tempo decidi comprar pelo menos um bolo. Mas onde?  Pensei em pegar um bolo de padaria mesmo, com uns salgadinhos,  mas seria um vexame, uma indignidade, uma prova de que eu era preguiçosa, relaxada, irresponsável e pior: não amava meu noivo.   Seria indigno do noivo que me deixou com tanto dinheiro em mãos e não merecia passar aquela vergonha.  Mas ou eu tratava do vestido ou tratava do bolo e da festa ou tratava de convidar as pessoas. Se perdesse tempo pedindo ajuda não conseguiria resolver as coisas que só eu poderia resolver.  Era impossível fazer tudo na ultima hora. Eu tremia angustiada, minhas mãos tremiam.   Então entendi que estava tudo perdido, que ele não ia aceitar casar comigo naquelas condições. Uma tristeza imensa caiu sobre mim. Tristeza e vergonha, muita vergonha.  Quem iria me consolar? Iam rir ou condenar a idiota que jogou fora o bilhete premiado da loteria. Eu não poderia contar nem com a solidariedade das pessoas. Meu noivo iria entender aquela situação como uma demonstração inequívoca de que eu jamais o amara, portanto não o merecia.   Eu dizia para mim mesma "não posso perde-lo! eu o amo!" mas ao mesmo tempo me vinha á cabeça que "mas se eu o amasse de fato não teria me preparado? Que amor é esse? Qual a noiva que esquece do seu casamento desse jeito?"  Eu sabia que não tinha nem como pedir desculpas porque NÃO HAVIA DESCULPA!    Eu o via chegando completamente pronto para a cerimônia, lindo e banhado, muito elegante e perfumado mas olhando decepcionado bem dentro dos meus olhos, baixando a cabeça, virando as costas e indo embora para bem longe e eu nunca mais o veria. Ele não vinha de tão longe para uma festa sem convidados, com uma noiva suada,  despenteada, com um vestido ridículo, sem adorno algum, maquiagem, unhas por fazer, bolo de padaria. Não, era muito vexame. Era uma afronta.    Planejei me jogar aos seus pés e implorar perdão e jurar que o amava mas eu não teria coragem. Seria inútil e meu desespero só realçaria minha falta na frente de todos os convidados. Eu só conseguiria ser patética. Perdi tudo. 



Só consigo me lembrar da minha angústia inominável, que perdurou até mesmo depois que acordei. 

Tive um outro sonho semelhante, mas dessa vez eu ia me casar mas me considerava muito bem preparada para o evento. Eu me julgava dessa vez super prevenida porque eu tinha no armário vários vestidos de festa. Dentro da minha cabeça os vestidos que eu tinha estavam ótimos e eu não precisaria me preocupar com mais nada: bastava tomar banho e me vestir quando chegasse a hora. Só que quanto chegou a hora reparei que todos os vestidos que eu tinha no armário estavam muito surrados, guardados há muito tempo. Eu tinha me sentido tão confiante que nem me dei ao trabalho de pelo menos experimentá-los.  Escolhi um deles, muito bonito, mas usado, com cara de vestido que está há muito tempo no armário. Se pelo menos eu o tivesse levado à lavanderia ele ficaria com cara nova, mas não o fiz.  Eu sabia que todos os convidados na festa iriam se lembrar do vestido, pois eu já o tinha usado (parece que eu já o tinha usado em meu próprio casamento anterior). Eu poderia tranquilamente repeti-lo em outros casamentos mas usá-los no meu próprio casamento ficaria muito feio e deselegante. Era prova de descaso. Demostraria que eu não estava dando importância nenhuma para a ocasião e que eu não me preparei como qualquer noiva apaixonada se prepararia. Eu sentia que aquela atitude sem graça e sem paixão poderia desapontar meu noivo e até tirar o brilho do evento. Era como se tudo amarelasse, ficasse velho e "requentado".   Mas não havia mais tempo de ir atrás de um vestido novo...

Outra noite sonhei que eu iria casar com o Luis Alberto.  Estava tudo certo e eu estava tranquila e feliz . Seria uma festa familiar, bem simples e animada, num terreiro parecido com esses terreiros de São João. Um lugar agradável mas simples, de chão batido. O vestido que eu ganhei (não lembro se ganhei do noivo ou se ganhei da irmã dele) era cor-de-rosa e bem  simples, até mesmo feio, de algodão cru. Parecia que tinha sido feito desses sacos de farinha de trigo. Mas como era uma festa íntima resolvi não me importar com aquilo pois por mais feio que o vestido fosse eu sempre poderia dizer que foi um presente da família dele e eu tinha que prestigiar. Só que depois ganhei outro presente, dessa vez do irmão  do meu noivo  e da minha cunhada: o véu. Era do mesmo material do vestido: algodão grosseiro, só que era amarelo e não combinava de jeito nenhum com o vestido. Quando eu experimentava os dois juntos ficava uma coisa ridícula, como se eu fosse um palhaça, como se eu quisesse avacalhar com o casamento.  Então começava a minha aflição: ou eu usaria o vestido ou usaria o véu?  Não dava para usar os dois de jeito nenhum. As pessoas iam pensar que eu estava de gozação querendo ridicularizar o evento. Vestido cor-de-rosa e véu amarelo. Eu não queria problema com a família do noivo nem com o próprio noivo mas eu ia ter que desagradar ou ele ou a família dele. Foi horrível. A hora se aproximava e eu não sabia o que fazer. Por mais que eu tentasse conciliar o vestido com o véu, eles eram incompatíveis. Eu tinha que fazer uma escolha. Estava aflita. Então acordei. 

Hoje, essa noite,  sonhei de novo com o tema.  Eu ia me mudar. Estava fazendo uma triagem dos meus pertences, arrumando tudo e vendo o que jogaria fora ou não. Foi quando encontrei a grinalda e o véu do meu primeiro casamento. Logo em seguida , perto da grinalda e véu, encontrei o buquê. Estavam perdidos um tempão debaixo de um monte de coisas antigas. Tanto a grinalda e véu quanto o buquê estavam tão maltratados, empoeirados, amassados e encardidos... Olhei e me deu tanta pena daqueles objetos!  Mostrei para alguém e em seguida decidi que não ia jogar fora. Por mais que fosse inconveniente fazê-lo eu iria guardá-los. Eram meus!

Sonhei de novo.  Dessa vez eu tinha o vestido!   Tudo certo.  O vestido era bom,  cabia bem em mim,  era aceitável. Tinha os sapatos do casamento tambem. Eu estava tranquila.  

Estranho é que nesses sonhos o vestido nunca é novo ou realmente lindo.  No máximo é um vestido razoável de quem não está muito empolgada. 

Bem,  estava tudo certo e eu estava me sentindo segura da situação. Então uma pessoa amiga vem conversar comigo e tenta me convencer de que não era para eu ir com aquela roupa.  Dizia que o casamento era de dia,  então ficaria muito mais moderno um vestido curto. Eu  argumentava que já tinha roupa,  que já estava tudo certo mas ela insistia nisso e por fim me convenceu a experimentar a roupa mais simples e curta que ela propunha.   Eu experimentava o vestido já  com a intenção de não usa-lo mas eu evitava dizer isso para a minha amiga. O vestido era sem graça, vagabundo mesmo,  muito inferior ao que eu já tinha preparado.  Enquanto eu fazia essas considerações  chegou a hora do casamento e notei que não daria mais tempo de trocar de roupa.  E eu ficava muito chateada com isso porque eu estava realmente muito mal vestida !!!  Eu não precisava passar aquele vexame! Eu ficava tão triste por ter me deixado levar na conversa!  Agora estava em cima da hora e eu era obrigada a me casar com aquela roupa feia mesmo tendo algo melhor.  Me senti horrivelmente enganada,  iludida,  passada pra trás.  

Ou seja: em nenhum desses sonhos eu estou feliz.  A roupa é sempre de segunda mão,  nunca é nova, nunca é daquele branco brilhante.  Sempre é meio amarelado com cara e cheiro de guardado . Sempre é tudo improvisado,  às  pressas,  sem glamour,  sem encanto. É tudo pesado e meio triste.  Sempre.

Agora em março de 2021 tive um sonho mais promissor  dentro desse tema.  Finalmente sonhei que minha roupa de noiva  era apropriada para o evento. Um vestido novo e bonito, embora não fosse branco. Era um belo vestido azul "bic", brilhoso,  que não me faria vergonha como noiva.  Que alívio!  Mas no sonho eu não gostava do ornamento da cabeça. Toda vez eu tenho que mudar alguma coisa. Por quê, meu Deus? Por que não me conformo e não caso logo com o que tenho?  Bem, resolvi escolher outro véu e outra grinalda. Eram bonitos e brancos, mas não combinavam muito com o vestido azul profundo. Aí acordei. Afff!

Outro sonho -  04/09/22:  
Dessa vez não era sobre estar ou não despreparada para o meu próprio casamento. Nada sobre algum vestido estar gasto ou inadequado.   Mas é sobre despreparo, procrastinação, distração, irresponsabilidade ...  sei lá.    

Eu estava viajando com um grupo,  para o exterior. Parecia ser uma viagem turística.  Estávamos já na aeronave - não havia como retornar -  e em pleno voo eu lembrava que estava sem nem um mísero centavo na bolsa.  Nada, nem pra comer. Eu tinha algum dinheiro no banco mas eu precisava de dólares. Ou euros. E não havia providenciado a compra de moeda estrangeira. É o cúmulo viajar e esquecer de providenciar dinheiro para levar.    E para piorar eu também não havia levado meu cartão de crédito internacional.

Comecei a ficar aflita com a situação e a me lamentar.  Que sensação ruim!   Uma companheira de viagem  tentou me consolar se oferecendo para me arranjar algum dinheiro pelo menos pra eu poder comer na viagem. Eu sabia que ela não poderia oferecer muito. Obvio.   (Estou lembrando agora daquela parábola das virgens néscias.)   

Há sempre presente nesses sonhos uma ideia de CASTIGO PELO DESCASO, vergonha de mim mesma e total impossibilidade de elaborar  qualquer desculpa aceitável para o vexame. Não há desculpa. Nunca.

Nesse tipo de sonho eu sempre sinto muita angustia, muita culpa e muita vergonha. Principalmente vergonha.    Eu não conseguia entender como fui tão descuidada. Como pude esquecer de uma coisa tão básica?  Como que a empolgação pela viagem não me levou naturalmente a tomar todas as providências necessárias?  

Por que tenho esses sonhos? Por quê? Por quê?  Acordo pensando "de novo isso!? Meu Deus o que é que eu estou fazendo de errado???!!!!" 😫😩







4 de mai. de 2019




Vem aí mais um Dia das Mães.

Às vezes tenho a incômoda sensação de que essa data funciona como uma espécie de prova: fui uma boa mãe ou uma má mãe?  Dependendo da atitude dos filhos a gente fica sabendo. Ou não? É razoável pensar assim?

Não concordo com isso. Luto contra isso. Cada uma de nós tem sua própria consciência para saber se agiu bem ou agiu mau, se foi atenciosa ou displicente. Não deveríamos nos medir pelas atitudes dos outros até porque cada pessoa carrega em si suas próprias falhas.  Se os filhos forem maus isso não prova que fui má.

Ou prova?

Bem, não gosto de me sentir avaliada.  Obviamente ninguém está me avaliando além de eu mesma. Isso é que mata: sou chata pra caramba, e neurótica.   Antes fossem os outros os avaliadores pois eu poderia contestá-los, discutir, botar o dedo na cara, mas contestar a mim mesma é um exercício mental cansativo.

Se eu me avalio nesta data, preciso urgentemente ser convencida a parar com isso. Chega. Quero curtir meu dia em paz. Mas quem pode me livrar de mim mesma?

Não tenho medo de avaliações, só me cansa esse filme rodando na cabeça. Vem cenas, pequenas injustiças de mãe, vem aquele dia que reclamei, vem o outro, que eu gritei. Vem a palmada a mais, o carinho a menos, a falta de paciência às vezes... Não se trata de medo porque já sei o que sou e o que fui. Mesmo assim me sinto numa "prova dos nove" e não gosto disso.

Quem me livrará de mim mesma? Ninguém. O jeito é encarar.

24 de mar. de 2019

Zona de conforto

O que a gente mais busca nessa vida é tranquilidade e conforto. Não sei por que então, ao longo do tempo, a tal "ZONA DE CONFORTO"  tem disso tão mal falada.

Zona de conforto é aquele lugar onde você até quer ficar, mas ninguém quer que você fique.

A ideia é que ninguém vai pra frente se permanecer na zona de conforto. E meu pensamento é que ninguém fica confortável se sair dela.   Por quê "ir para a frente" se está confortável aqui? Dá licença de eu ser feliz?

- Você tem que progredir! você tem que alcançar maiores conquistas!
- Não, não tenho não. Só se eu quiser.

Poucas coisas são mais nocivas à felicidade do que a ideia de que você não pode estar satisfeito com o que tem. A vida toda aprendi o contrário: que o segredo da felicidade é estar satisfeito com o que se tem.



Acho que a gente só tem que sair  de uma situação se ela está incômoda. Está insatisfeito, frustrado? Saia daí! Tenha coragem. Tente, lute, empreenda, estude, invista, associe-se ou desassocie-se. Mas está se sentindo confortável e satisfeito com sua vidinha? Mande tudo ás favas e fique por aí mesmo.

Quem quiser se esfalfar e se atormentar atrás do "pote de ouro" que o faça, mas eu vou ficando por aqui mesmo, ouvindo minha musiquinha, curtindo meu churrasquinho de fim de semana, carro com 4 anos de idade, cantinho modesto mas quitado, umas viagenzinhas legais quando dá... e tá bom demais.

Sim, eu posso sair da minha zona de conforto rumo às "grandes conquistas".   A primeira coisa que preciso fazer é atormentar-me trabalhando feito uma jumenta ou estudando dia e noite feito louca deixando de fazer 80% das coisas que gosto e sem tempo de me encontrar com as pessoas que amo. Tudo isso pra quê? Pra "me sentir vitoriosa" , comprar um carro um pouco melhor ou fazer uma viagem um pouco mais cara. Vale a pena?  Claro que vale! SE isso é importante para você, se você está cheio de sonhos, construindo a vida. Mas se está se sentindo confortável ... pra quê?  

Se você está em sua zona de conforto, considere que já chegou onde a maioria das pessoas está lutando pra chegar!  Permita-se ser feliz assim, desse jeito como as coisas estão. Até porque "quem foi ao ar, perdeu o lugar". Algumas pessoas saem da zona de conforto e quando tentam retornar não encontram mais o caminho de volta.


11 de fev. de 2019

Boechat e "o grande evento"

Morre Boechat.

Ontem, um homem famoso, um "coroa" bonito e bem conceituado. Hoje, um ilustre defunto. Um pedaço de carne totalmente sujeito às decisões dos outros. Sobras  carbonizadas que não se governam.

Claro que ele não era só isso. E o homem de verdade, cadê? Não sei. Subsiste. Certamente subsiste e isso é misterioso e fascinante.

Hoje eu vejo esse teclado e o uso. Vejo as pessoas e as toco.  Pensando nisso me vem a agradável impressão de que meu poder de influência nesse mundo é muito maior do que costumo supor.  Sou matéria atuante, posso impor minha presença, fazer-me notar de alguma forma. Posso denunciar, animar, cantar uma música.  Faço parte desse sistema, desse conjunto esquisito de seres vivos.   Sinto-me acolhida por essa ideia.

Se por aqui eu ficasse depois de morta será que olharia para esse mesmo teclado de forma diferente? Sim. Quem sabe com uma certa aflição por não poder mais usá-lo.  E eu olharia essa mesma poltrona sem sentir mais sua textura e só nesse momento começaria a perceber a brutal mudança pela qual finalmente passei.  O teclado, a poltrona e tudo o mais: nada mais me pertencia, nem meu pobre corpo alquebrado.  "Fui despojada. Completamente despojada como nunca pensei ser possível. Não sinto mais, não faço parte, não integro mais o planeta. Essa etapa da minha existência acabou".

Como seria não sentir mais nada? Não, não existe "não sentir mais nada" mas deve haver um "sentir" diferente do que conheço agora.   Talvez meus dedos passariam através da matéria sem poder tocá-la, como nos filmes de fantasmas, e isso não seria muito divertido. Isso não é brincadeira . É o extremo da impotência .

Eu sentiria uma espécie de saudade?  As coisas fora do lugar me incomodariam quando estivessem fora do alcance do meu toque? De repente o ato de lavar um copo, virar uma chave, catar um lixo, dar uma moeda, repartir um lanche, se tornariam tão grandes! Eu descobriria, chocada, que esses atos sempre foram grandes mas eu havia passado a vida toda sem me dar conta disso.  Então eu iria embora desse mundo por não poder suportar a ideia de só olhar sem poder fazer nada.

Talvez me passasse pela cabeça que "eu daria tudo o que tenho para voltar a ter domínio sobre todas as banalidades que agora me fogem" mas em seguida eu lembraria, quase rindo, que não tenho mais nada para dar em troca. Então a morte, que sempre me pareceu a libertação, poderia por um instante parecer uma eterna prisão atrás do vidro. Por isso os mortos vão embora: para não terem que se estressar com a recém descoberta impotência. Aí vão embora, meio amuados,  para poderem voltar a "ser gente" em outro lugar, já que aqui não dá mais.

Fantasias. A morte gera mais fantasias do que o sexo. Muito mais.

Impossível separar a mente de todas as fantasias que envolvem "o grande evento".

Um dia tudo o que sou não vai passar de uns quilos de carne deteriorando dentro de uma caixa de madeira. E tudo o que realmente importa de mim estará absolutamente fora do alcance de vocês.

Foi-se Boechat. Um dia também vou.  É sábio lembrar disso.

29 de nov. de 2018

Lugar secreto

Sempre achei um mistério o que a gente sente quando vê uma cor vibrante que nos agrada.   Há uma reação física de prazer mas não sei explicar como é  isso.  Ha uma sensação ... na garganta?  No estômago?   Não sei localizar isso no corpo. Você também sente?
E se não for no  corpo? E se for na alma?  Mas onde fica a alma?  Onde é  a sede dos intensos prazeres não físicos???? 

28 de out. de 2018

Fuga desesperada

Parábola do dia:
Era uma vez eu.
Eu estava passeando por uma linda  floresta quando vi uma menina sair apavorada de dentro de uma caverna. Ela saiu correndo com os olhos arregalados, sem rumo, quando se deparou com um lobo.  Ela então se agarrou ao lobo por puro instinto, de forma impensada, propria de quem está com tanto medo que nem pensa, só quer se proteger. A pobre menina nem notou que tipo de animal ela agarrara.   
A pergunta: o que fizeram com essa garotinha lá dentro da caverna? Que coisa tão horrível ela viu a ponto de tentar se salvar com um bicho tão perigoso?  Posso deduzir que o que estava na caverna era algo muito pior do que um lobo.

Agora imaginemos  que o Bolsonaro seja mesmo o pior Hitler do mundo;  uma mistura de Dracula com Stalin.   Quanto pior é a figura do Bolsonaro, mais  sou levada a crer que o povo se atracou a ele por estar fugindo de algo muito pior do que ele.  Quanto pior o Bolsonaro é, mais intrigante é a pergunta:  quem fez tão mal a esse povo a ponto de tentarem se proteger com o primeiro "coiso" que passava pela floresta? 

Não culpem quem foge. Culpem quem causou essa fuga a ponto de ninguém nem enxergar no que estava se agarrando.

7 de set. de 2018

Você vai ter que se conformar *

Um dia, passeando pelo centro da cidade, surge à sua frente aquela amiga, irmã do coração que você não via há séculos. Em um flash você relembra de festas, confissões, passeios e sextas-feiras.  Em rápida escaneada você vê no rosto dela que o tempo passou, que o penteado mudou mas não há como negar: é ela sim, que vem do passado mútuo de vocês e do passado dela mesma com outras histórias. Que bom!

Você corre ao seu encontro, faz uma festa enorme. Você a beija e se emociona.  Abre os braços como se quisesse abraçar, junto com ela, também seu marido  e filhos, já tão queridos! Você a chama pelo apelido. Ela hesita e não consegue rir da brincadeira e fica com cara de dúvida mas você passa por cima. Atropela mesmo, porque ela é a sua irmã maluquinha que nunca mais você viu mas Deus trouxe de volta.

Nossa, você já sabe que ela há de exigir que você vá à sua casa nessa semana ainda. E vocês duas hão de conversar horas e rir muito. Ela há de te mostrar seu guarda-roupas, fotos da gestação, da viagem de férias, do aniversário de casamento. Há de falar na nova dieta, dos novos cremes, do colesterol e da celulite. Vocês vão rir muito dos ex namorados e das inimigas mútuas do colégio.  Que longo abraço!

Que longo, que solitário abraço!  Demora uns segundo para você notar que teve toda a sua empolgação "amortizada" pelo abraço frio e frouxo que recebeu de volta.  Você se afasta um pouquinho, passa as mãos nos cabelos dela e procura seus olhos esperando ver neles algum lampejo atrasado daquela vivacidade da qual você tanto se lembra. Nada. Sua grande amiga, aquela que sabia de todos os seus segredos, a menina linda que te emprestava roupas e contava dos foras que levou, ela está quase muda. Será que não te reconheceu?  Reconheceu sim.

Tanto reconheceu que te cumprimenta pelo nome, pergunta como vai e diz "que prazer te rever!" Como "que prazer te rever"?   Onde será que ela aprendeu a ser tão formal logo com você? Logo ela que te chamava de doida, que era chorona, tomava as dores do mundo, pedia satisfações e falava pelos cotovelos?   Que desmonte foi esse que a deixou tão polida e embaraçada com o seu carinho,  procurando aflita por palavras simpáticas que não lhe vêm naturalmente à boca?

Você vai ter que se conformar com essa perda. Sim, sua amiga morreu.  Ou pior: ela nunca esteve lá, no passado, do jeito que você lembrava.  "Tudo aquilo" talvez  só tenha existido na sua cabeça. Ou aconteceu mesmo, só não era eterno como se supunha.   Você vai ter que se conformar com o fato de nunca ter sido para ela o que ela foi para você. Vai ter que se conformar em voltar pra casa murcha depois desse papelão.

Ficou tão claro que o marido dela jamais tinha ouvido falar no seu nome!  Poxa! Enquanto isso a sua família já ouviu mil histórias de vocês duas.

Dói. Você segue seu caminho sozinha, empobrecida. Ficou um vácuo, uma mancha na parede igual a quando a gente tira um quadro antigo que estava lá, pendurado há muito tempo.  Seu passado precisa ser revisto...

*

3 de set. de 2018

Meu ser-base *

Essa coisa de "se aceitar" é menos simples do que parece. 

O que exatamente devo aceitar em mim? Minhas características físicas? Ok.  Mas algumas coisas eu sou, algumas coisas estou, outras coisas me tornei. Isso tudo sou eu?  O que veio depois também deveria ser aceito da mesma forma do projeto inicial?    Eu sou o hoje e o agora ou isso não conta?  

Se sou baixinha devo me aceitar como sou. Isso eu entendi.  Mas se engordei 40 quilos ou se meu rosto ficou cheio de espinhas,  isso sou eu? Ou isso "estou, mas não sou"?   

Bem, então pra me aceitar eu preciso primeiro saber quem realmente sou para, só então, fechar acordo com esse ser-base.  Depois, só depois, vou decidir se o que vem depois de mim ainda sou eu ou não.

Mas, pensando bem, só pude me transformar no que me tornei por causa do que eu sou por dentro, de verdade. Se eu sou quem come mau então minhas espinhas são eu, ainda que tenham vindo depois.
Certo? Ou não? 

Complicado.  

Calma! Uma coisa de cada vez: vamos a principio ficar só no primeiro passo e comecar aceitando o nosso ser-base.  Depois a gente vê o resto, ok? 

E olha que só falei no exterior!  Meu Deus, qual será o meu ser-base interior?

Mulher chata

(Outro dia escreverei sobre Homem Chato)

1- Se tranca em casa (nenhuma programação a agrada) mas vive reclamando que não sai pra lugar nenhum.

2- Não quer que o filho brinque de nada que o faça suar, sujar ou cansar.  Vive proibindo, lavando e guardando o pobre moleque dentro de casa.

3 - Nenhum dos amigos do seu filho presta. São todos mal educados ou bandidinhos. As amigas também: tudo do mal.

4- Nenhum dos amigos do marido presta. Todos são chatos ou cachaceiros ou mulherengos ou bagunceiros ou burros ou só falam em futebol ou só falam em trabalho ou só falam em política ou... Afe!

5- Nenhuma das esposas dos amigos de seu marido presta. Todas querem ser melhores do que os outros, só falam nos filhos ou só falam no trabalho ou são fúteis, são carolas ou mundanas demais, falam muito, falam pouco, reparam em tudo, são fofoqueiras...

6- Nenhuma namorada de seu filho presta: são todas vagabundas, burras, vulgares e interesseiras.

7-  A mulher chata até faz o favor de transar com o marido mas é cheia de restrições. É a rainha do "aí não", "você está me machucando",  "isso é ridículo! Não vou fazer", "meu Deus, você é tarado!", "tenho nojo", "isso é coisa para vagabunda; não sou vagabunda!"  "isso é constrangedor", "isso é pecado", "ainda é cedo",  "já é tarde" ou "de novo????".  

8 - Não faz nada pelo marido. Ele tem que fazer tudo por ela mas ela "não nasceu para ser escrava". Ele nasceu.

9 - Reclama da mania dele de ler jornal, de assistir noticiários, de andar de cuecas pela casa, de não usar perfume, de usar um perfume desagradável, de não fazer nada ou de ser metido a fazer tudo.

10 - Fica irritadíssima com as manias dos outros, mas não se toca das suas.

11 - Está sempre inventando uma ocupação para nao dar atenção a ninguém mas reclama que ninguém lhe dá atenção.

12- Enche o saco com ciúmes. Toda mulher está doidinha pelo marido dela.

13 - Nunca jamais esquece uma mágoa. Perdão não faz parte do seu dicionário.

14 - Está sempre com cara fechada ou com cara de sofredora.

15 - Apesar de estar sempre com cara fechada ou com cara de sofredora, não entende porque os amigos do marido não vão com a cara dela.

16- Apesar de continuar com a cara fechada ou de sofredora, não entende porque o marido não a deseja. Ela quer ser desejada - só para poder reclamar depois que o marido só pensa "naquilo".

17 - Implica com todas as empregadas domésticas. Nenhuma presta: todas são burras, preguiçosas, esbanjadoras, mal criadas, assanhadas, porcas.

18-  Ninguém faz nada bem feito.

19-  Em todas as situações ela só tem direitos, nunca deveres.

20- Cobra de todo mundo mas ela mesma é uma nulidade. Não sabe fazer nada que preste.

21-  Toda vez que o marido a convida para sair,  ela  1) está cansada; 2) não tem roupa; 3) o cabelo está horrível; 4) as unhas estão feias; 5) Preferia ir a outro lugar; 06) está com cólica; 07) está com dor de cabeça;

22) Se o marido lhe dá um presente, diz que aquilo só pode ser dor na consciência. "O que você anda aprontando"?! Se não dá, é porque não a ama mais.

23) Está sempre de mal humor ou doente ou cansada. Já falei isso? Tá vendo como é chato viver repetindo as coisas?

24) Nâo vai na casa da sogra porque ela tem todos os defeitos do mundo, mas a mãe dela é perfeita.

25) Só seus parentes prestam;

26) Tem mania de limpeza. Ela poderia trancar-se em um quarto esterilizado, mas prefere azucrinar a família.

27) Odeia hotéis porque lá é tudo sujo.

28) Odeia motéis porque lá é tudo sujo

29) Odeia se hospedar na casa dos outros porque lá é tudo sujo.

30) Ninguém pode pegar no seu bebê porque todo mundo é muito sujo.

31) "Aquilo" também é muito sujo.

Não seja essa mulher.

REALIDADES BRASILEIRAS