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15 de jun. de 2008

The Day After

Datas especiais...

Claro, foram criadas por nós mesmos. Finalidade? Sair da rotina.
Acho um negócio bem bolado essa inveção. Dizer, sem mais nem menos, que tal dia é diferente dos outros. Ou que tal dia se repete todo ano. Claro que é mentira! Nada se repete! Se fosse possível repetir, juro que eu consertaria um monte de coisas.

15 de junho de 2008 só acontece hoje mesmo. Mas posso fazer de conta que nos anos seguintes acontece tudo de novo ... e brincar disso! Por que não?

Essa pode ser uma linda ilusão inofensiva e eu não tenho nada contras certas ilusões inofensivas. A vida é assim, "o nosso amor a gente inventa pra se distrair" - como já dizia o Cazuza. As nossas datas a gente também inventa pra se distrair. O problema é quando essa distraçãozinha, esse bichinho de estimação criado em laboratório, se volta contra nós. Ingrato!

Tenho uma proposta: jubjugá-lo.

Se esse bichinho se voltar contra nós, podemos nos insurgir contra ele com toda a força da nossa liberdade.

Datas adoram ser lembradas. Datas adoram ser obedecidas. Datas adoram dizer como as coisas tem que ser e como elas querem ser comemoradas. Querem homenagens, incenso. Tudo bem enquanto isso for divertido - mas SÓ enquanto for divertido.

E quando a gente tem que sair do trabalho, pegar um trânsito miserável, tomar um banho as pressas sem a liturgia que o momento merece... E temos que escolher uma roupa correndo e um lado do sapato fugiu de casa? E que tal retornar resignada ao volante novamente suada, morta de cansada e doida para a noite terminar mesmo sabendo que ela ainda nem começou?

E quando só aí lembramos que ainda não compramos o presente? Hein? Que tal esse pesadelo? Sabe o que é isso, amigo? É aquele bichinho de estimação chamado Data Especial rosnando contra você - contra nós, que só queríamos nos divertir com ele!

E quando tudo o que queríamos na vida era uma sopa quente e lençóis macios? E quando a maior festa do mundo está dentro de casa e a melhor cerveja reside na nossa própria geladeira? E quando o silêncio é a mais desejada de todas as companhias? O que fazer?

Desobedeça. Isso mesmo. A Data Especial foi criada para te divertir e não o contrário: você não foi criado para servi-la. Revoltemo-nos! Boicotemo-la! Ignoremo-la!

Implicações: quais as implicações desse boicote? Alguma maldição nos espera? Fique tranquilo. O pior que pode acontecer é você ser considerado esquisito, anti-social, excêntrico ou miserável. Cabe a você decidir se vale a pena. Eu estou achando que vale. Sério, cansei!

Em caso de froxura, tenho uma outra sugestão: ao invés de ignorarmos os miados da Data Especial e matá-la de fome, que tal darmos sua ração só no dia seguinte?

Não entendeu? Estou propondo o início do Movimento do Dia Seguinte. É uma medida menos drástica, portanto, mais suave. Eu explico:

Diga para o seu namorado que não suporta mais as filas em restaurante no dia 12 de junho nem o desespero nas lojas. Afirme que isso tira toda a sua tesão. Combine com ele fazer TUDO no dia seguinte, só que na, com capricho sem stress. Será que ele vai se revoltar? Duvido. E você se livra do salão lotado e poderá fazer sua chapinha feliz da vida no dia seguinte, juntamente com as unhas e a depilação.

Dia das mães é a mesma coisa, bem como Natal e tudo o mais. Acho que até descontos especiais poderemos conseguir nas lojas, nos restaurantes, nos hotéis se tão simplesmente empurrarmos com a barriga a tal Data Especial para o dia seguinte. Xô!

Cadê o espirito rebelde da sua adolescência? Pois é, acione-o!

Eu estou decidida a dar início a esse movimento. Chega de cabrestos! Acho que isso só não vale para enterros porque aí ia ser complicado. Convencer o moribundo a morrer só no dia seguinte... E adiar o enterro para ter mais calma para os preparativos seria complicado...

É, não daria certo em caso de óbito mas em tudo o mais esse movimento pode ser aplicado ou adaptado. Ou ampliado!

Eu mesma estou adiando essa postagem há dias. Só hoje resolvi que quero publicar. E daí? Vai me processar? E Papai Noel que se cuide. Ele vai ser a próxima vítima.

The Day After - nada mais libertador. Tô dentro.

Cristina Faraon

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