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4 de set. de 2008

É show!


Vou tomar banho, me perfumar e passar creme no rosto. Amanhã de manhã vai acontecer novamente aquele evento luminoso no qual a estrela sou eu.

Não estou aqui para me gabar mas admita: não é todo mundo que provoca um ajuntamento organizado e sorridente por onde passa. Eu provoco.

Todos os dias o meu percurso pela Almirante Barroso é um a-con-te-ci-men-to. Claro que já me perguntei o motivo. Não sou má pessoa mas também ainda não fiz nada que merecesse essa reação do público. Mas vou reclamar? Claro que não. Um dia entenderei o que me faz parecer tão nobre. Enquanto não entendo, relaxo e gozo.

Ah amigos, é tão bom ser querida e admirada! Digo isso porque o que mais poderia explicar a emocionada saudação que recebo das árvores todas as manhãs quando passo pela Almirante Barroso? Como explicar os aplausos, os acenos emocionados, a discreta agitação que cresce a partir de quando aponto no Entroncamento?

Qualquer um que esteja por perto no momento da minha passagem verá as árvores se perfilarem e me saudarem emocionadas, vestidinhas de verde, com as folhas lustrosas sem nenhuma poeirinha. Quanto carinho! Algumas vem em turma, outras me acenam mais solitárias mas todas acordam cedo para me recepcionar. Cantam, assoviam, fazem chique-chique enquanto agiram lindamente os galhos à minha passagem. Só não pulam mesmo porque não dá.

Que belo momento...

Tento entender os motivos delas só depois. Na hora "agá" não me detenho nessas questões. Por que desconfiar de gestos de amizade? As árvores gostam de mim e pronto. Tudo o que tenho que fazer é não desapontá-las. Quando me acenam e aplaudem diminuo a velociade e retribuo com o sorriso mais simpático que consigo. É o suficiente. Amanhã estarão lá de novo, cheias de vida.

Já reparei que no Tribunal há três dessas simpáticas árvores, uniformizadas. Elas são mais contidas, claro. Não levantam os braços nem fazem barulho mas o leve aceno, sem muito alarde, já me deixa alegre. Não podem fazer mais do que isso provavelmente por estarem de serviço.

Observo também aquelas que nao podem ir para perto da pista, como as outras. Sei lá como é a hierarquia entre elas mas estas também são tão meigas! Não deixam de comparecer por nada desse mundo. Ficam disputando espaço umas com as outras, debruçadas sobre os muros da avenida, apertadas, me esperando passar. Não há espaço nem para me acenar, tadinhas. Elas apenas arregalam um sorriso verde e brilhoso. Claro que gostariam de chegar mais perto mas mesmo de longe noto como me fitam, tão fofas! As do Bosque Rodrigues Alves são assim. Acho engraçada a briga para chegarem perto. Deveriam deixa-las sair de vez em quando...

Não desfazendo das árvores de serviço nem das contidas pelos muros (segundo escalão) registro aqui meu especial apreço àquelas mais expansivas que sorriem festivas, agitam bandeirinhas à minha passagem, jogam folhas e assoviam. São a alma da festa, certamente. Quando vou me aproximando elas cutucam umas às outras avisando "lá vem, lá vem ela!" Sem elas o evento não seria o que é.

Ainda vou descobrir quem organiza essa festa. Sabe, isso me põe pra cima! Até esqueço os problemas. As árvores da Almirante são super alto astral.

Tenho que admitir: existe uns dez por cento delas que são, digamos assim, menos expansivas. São as mais altas e mais e quietas. Não há vento que as animem. Não sei se isso tem a ver com a idade. Geralmente elas se colocam perfiladas próximo à Doutor Freitas. Bonitonas. Parecem - ou querem parecer - mais nobres.

Sabe, não fico ressentida. Temos que respeitar os diferentes temperamentos, não é? O que importa é a atitude: elas estão lá, firmes e fortes. Não fazem auê mas baixam o olhar quando passo, permitem-se um discretíssimo sorriso e pronto. Pra mim é o suficiente. O simples fato de estarem lá já significa muito.

Todos os dias pela manhã é Sete de Setembro e eu, sozinha, sou a Parada.

Vá para lá amanhã, pra me ver passar! Você vai ver que animação. De repente, vendo você comigo pode até ser que elas lhe joguem umas folhinhas também.

Leve máquina.

Cristina Faraon

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