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20 de jan. de 2012

Frases-fantasmas

É mais fácil confessar um homicídio do que uma dor de inveja. Mas vou me martirizar agora confessando minha inveja de Mário Quintana.

Certa vez ele disse que jamais escrevera um texto que não fosse autobiográfico. Pois por isso ele escrevia bem! E também por isso eu escrevo mal.

É fácil escrever generalidades, falar sobre nossas tolas impressões a respeito do mundo.

Pensando bem... não, não é fácil. Viver colocando filtros em si mesma é incômodo. Agora abrir o peito ao sol e ao escrutínio alheio?  Não é pra todo mundo...

O poeta é o mais humildes dos seres. E quanto mais escrevo mais descubro o iceberg de orgulho que trago no âmago.

Meus piores textos surgem justamente quando estou mais sensível. A coisa funciona assim: quanto mais sensível estou, mais preciso escrever, mas enquanto escrevo fico aflita tentando ocultar o que quero revelar. É um lance muito contraditório. Jamais falei tudo o que sinto a respeito de nenhum assunto abordado aqui. Há sempre frases fantasmas rondando meus textos.

Sempre desejei escrever minhas memórias mas como fazer isso sem demonstrar mágoa inconveniente, admiração inconveniente, inveja, sonhos tolos, expectativas frustradas, desprezo, maus sentimentos, bons sentimentos, pensamentos proibidos, juízos contra amigos, mancadas fenomenais, sentimento de humilhação, preconceito, equívocos, manias, gosto duvidoso, preferências ridículas, rejeições imperdoáveis...   ?   Impossível.  Eu só conseguiria ser verdadeira depois que todos os personagens do livro já estivessem mortos. E eu não vou torcer por isso. Mas como eu gostaria de dizer realmente tudo o que penso a respeito de todas as pessoas que conheço! Seria libertador! O mundo não precisa disso, mas pense bem: se fôssemos conservar na vida apenas o que é fundamental, o mundo seria um lugar muito mais estranho do que já é.

Não dá pra fingir que estou desabafando nem ficar selecionando meu melhor ângulo. Ou me torno desavergonhada ou é melhor parar de uma vez.

O fato é que ainda não consigo fazer nem uma coisa nem outra. Jamais serei Mário Quintana.

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