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15 de mar. de 2012

A vida alheia - primeira parte

Não estou aqui para execrar os que vivem se importando com a vida dos outros. O mundo já tem ódio demais. Que tal tentarmos olhar as coisas por outro ângulo?

Você já parou para pensar que a vizinha curiosa talvez seja uma injustiçada?  O que há de anormal em querer saber o que se passa do outro lado das suas paredes?

Claro que não costuma ser agradável tornar-se alvo da curiosidade alheia. Sofrem os tímidos, os estranhos, os humildes, os agressores de mulheres, os infiéis, os endividados, os que levam vida dupla, os  -  é,  todo mundo sofre.

Todo mundo sofre sendo observado, mas nem por isso temos que esquecer a sacada daqueles que descobriram uma forma de sofrer menos, que é xeretando o sofrimento alheio.

Gente, não há como não olhar com certa ternura para aquele que humildemente retirou os seus interesses da pauta, colocou a trouxinha da sua vida num canto e passou a olhar para você como se você fosse uma celebridade.

Sorria! Você está sendo filmado!

É absolutamente saudável esquecer-se dos próprios problemas!  Só que não é fácil. São necessários acontecimentos fortes, coloridos e empavonados para convencer o indivíduo a tirar os olhos do próprio umbigo e interessar-se por algo mais.

Se você acha que sua vida é mais digna de atenção do que a de todo mundo, você tem úlcera. Pode procurar que tem.

Sair do centro do universo é seguir o conselho de dez entre dez terapeutas e dez entre dez religiosos.  Pra quê ficar velando seus próprios problemas manjados, insolúveis e repetitivos?  Coisa mais chata! Nem tudo tem solução e às vezes só a morte dá jeito em certas coisas.  Pra quê ficar revendo o mesmo filme se é tão simples trocar o canal da televisão e ver outra coisa? 

Admito que largar de mão o noticiário triste para assistir a novela do outro canal não resolve nada.  Não resolve mas pelo menos a pessoa se diverte.

E tem mais!  Bisbilhotar não é só passa-tempo. Bisbilhotar é adquirir sabedoria e vivência. É tentar penetrar nos segredos do mundo para solucionar, mentalmente, intrincadas charadas sociais. É olhando para  a vida dos outros que a gente traça perfis psicológicos, checa se o bem triunfa mesmo sobre o mal e tira a dúvida de quem ri por último: será que ri melhor mesmo?  Esticando o pescoço por cima do muro podemos aprender também qual a melhor equação para calcular por quanto tempo é possível uma pessoa pode viver de aparências sem ser delatada.  Observando é que a gente aprende que a grama do vizinho pode até ser mais verde, mas frequentemente não passa de gramado artificial. Quem olha apenas para a própria vida, vive iludido.

Tentar entender a vida e os segredos dos outros é o mesmo que montar um quebra-cabeças. É instigante como qualquer jogo. É uma forma gostosa de manter o cérebro funcionando a todo vapor. E quem faz isso nunca tem Alzheimer!

Claro que o vizinho poderia exercitar o cérebro construindo um prédio, remendando cuecas ou escrevendo um livro, mas nem todos levam jeito. Cada um tem o seu dom e você tem que entender isso.

Pois é: bisbilhotagem é cultura, é tratamento emocional e exercício espiritual (de humildade). O único porém é que você não gosta, né?  Problema seu.

Agora vou observar melhor a sua vida para saber por quê, afinal de contas, você prefere ficar nas sombras. Porque pra mim isso é muito suspeito!

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