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5 de ago. de 2012

Correlatas *




É como os "ice bergs": só uma pequena parte é mostrada para nós.

Elas não se importam nada com o que pensamos a seu respeito, menos ainda com a imobilidade que lhes atribuimos. Elas não são imóveis, definitivamente.

Apesar da longevidade e beleza, sempre me senti muito superior a árvores. Vivo menos mas me movimento e curto mais. Será?

As árvores dão-se as mãos debaixo da terra.  É assim, em segredo escuro e quente. É assim que é, mas eu não sabia. Elas conhecem cada palmo dos caminhos úmidos do subsolo e a vida se desenvolve rapidamente por lá. As notícias correm, afeições surgem, dores e morte.  Lá no escuro elas conhecem todos os caminhos.

Elas falam.

Para elas não há distância porque são interligadas em uma espécie de cadeia nervosa. Não importa quanto tempo levará, mas ela encontrará aquela outra que lhe completa e que lhe alimentará com doçura, prolongando assim a sua existência. Enquanto nos distraimos analisando suas folhas e frutos elas vivem intensamente e amam com uma determinação impressionante. Quase nada as detém e elas não descansam. Procuram-se umas às outras formando o que definiríamos como um emaranhado maluco. Suas raízes são móveis e viajam léguas guiadas por convicções própria difíceis de explicar.

Elas sentem a energia uma da outra. Elas chamam umas às outras e viajam em sua direção. E se encontram, se enlaçam, se abraçam debaixo da terra enquanto suas folhas se movem docemente e nós pensamos que só isso constitui a vida de uma árvore.
Você não tem noção do tamanho que pode ter uma raiz viajante. Você não tem noção do tamanho que pode ter uma raiz apaixonada e determinada a ir ao encontro daquela que lhe emitiu sinais. Você não sabe o quanto elas são ricas de sentimento e coragem Elas estão sempre ocupadas com outras coisas e não costumam se importar conosco. Mas quando uma é cortada...
Ah, quando uma árvore é cortada, há comoção. Porque jamais uma árvore morre sozinha. Quando derrubamos uma, aquela que lhe é irmã também tomba. Como geralmente estão distantes uma da outra, não percebemos a relação. 
As árvores foram feitas para viver muito, mas quando uma morre aparentemente sem motivo é porque sua alma gêmea foi sacrificada em algum lugar. Há um adeus que não vemos.
A verdade sobre uma árvore que morre é dez vezes mais triste do que nos contaram.




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