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12 de ago. de 2012

Os poderosos e os aleijados

Vejo semelhança entre as pessoas famosas e bem sucedidas e as pessoas aleijadas. Tanto um quanto outro são espécies de "batata quente" em nossas mãos.  São pessoas que "saíram do normal".

Tempos atrás eu estava em um conhecido "boteco" da cidade curtindo um happy hour. De repente adentrou o recinto um artista famoso e muito bem sucedido. Reparei na reação das pessoas ao redor.   Depois do  "olha só quem está aí!"  inicial, todos tentaram ao máximo fingir que o cara não existia.

Nada deixa uma pessoa tão pequenininha do que se alterar toda para não parecer pequenininha.  

Olhe só o cúmulo: pouco depois também chegou ao local um outro músico muito bem conceituado na cidade, mas menos menos famoso e rico. O menos famoso conhecia o outro. Então passou ao seu lado da forma mais displicente possível e cumprimentou o colega de forma tão rápida e fria que ficou até feio. Pois não conformado o famosão levantou-se de seu lugar e foi lá  mesa do conhecido para cumprimentá-lo decentemente. E eu só reparando. Ele foi muito simpatico,  apertou-lhe a mão e insistiu para que sentasse com ele à mesa. O menos famoso correspondeu ao cumprimento com certo embaraço, sorriu, agradeceu mas não atendeu de jeito nenhum o convite do colega.   Teve tanto medo de parecer deslumbrado e acabou posando de bicho-do-mato.

Na verdade ele não sabia como lidar com o colega.  Sorrir? Abraçar? Dar tapinhas nas costas? Puxar papo? Ele faria - e fazia - isso com qualquer outro, desde que não fosse famoso e rico.

Pessoas muito bem sucedidas às vezes nos embaraçam. Por quê é tão difícil apenas abraçar um velho e conhecido amigo?

Pois com o aleijado é a mesma coisa. Não queremos que ele pense que estamos com pena (qual o problema de ter pena?) nem queremos que ele pense que estamos reparando em sua deformidade. Também não queremos que pense que queremos que pensem que somos bonzinhos; e não queremos que pense que estamos chocados nem que pense que...  Na dúvida, tentamos ignorar. Se formos apresentados a ele, tudo bem. Se ele se chegar a nós, ótimo! Mas nós não tomamos nenhum tipo de iniciativa em sua direção porque não queremos que ele pense que...

Quanto medo do pensamento alheio! Por que nos deixamos afetar tanto por suposições bobas?  Enquanto fazemos malabarismos para que os outros não pensem, nós pensamos, e pensamos mal.  Aposto que um portador de deformidade não se importaria se te flagrasse olhando a deformidade dele, desde que junto com isso se sentisse também observado como ser humano, como um possível amigo, um possível companheiro de bate papo. 

Existe uma lista de "gente estranha" com as quais não sabemos lidar. Quem sabe uma dessas pessoas não seria o amigo que tanto procuramos? Quem sabe se ela não teria na boca a palavra, a frase, a idéia que nos faria crescer um pouco mais?

Parabéns ao Chimbinha, que não se deixou ignorar, que saiu de seu lugar e fez questão de estender tão simpaticamente o abraço de cordialidade ao seu tímido colega. Achei bonito.


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