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1 de set. de 2012

Mas eu quero ver Marte!

Milhões investidos: fotos de Marte. Fotos da Lua. Cortinas lindas, lajotas de alta tecnologia, carros que são um sonho, microondas, celulares que fazem tudo, tatuagens perfeitas, cirurgia plástica, MP3 onde eu quiser, doces finíssimos, culinária de alta tecnologia, prédios de arquitetura incrível, hotéis paradisíacos, clonagem, próteses poderosas, transplantes, animação computadorizada...

E enquanto isso, milhões morrendo de fome. Tudo o que está no parágrafo acima foi comprado com o dinheiro que poderia resolver a fome do mundo. E aqui entramos em um impasse.

Não estou defendendo tese. Estou só imaginando as coisas para chegar, talvez, à mesma conclusão de sempre.

Não, não estou defendendo tese...  mas afirmo que o mundo seria um lugar muito pior se vivêssemos apenas por pão e água. A vida confortável que possibilitou um músico compor uma obra linda, essa vidinha confortável pode ser traduzida em dinheiro. E eu não queria viver em um mundo onde não houvesse espaço para a arte, para lugares lindos, para a alta tecnologia. Eu quero viver em um mundo onde eu possa olhar Marte, olhar fotos de bebês no interior do útero, onde existam microscópios caríssimos que me desvendem segredos incríveis.

Mas tudo isso vale a fome? A miséria?  Não. Mas eu quero ver a lua, quero ver a beleza, quero sonhar com um lugar lindo que de fato exista, ainda que eu trabalhe a vida toda e não consiga chegar lá! Minha alma precisa disso. Não sou apenas corpo. Penso que seríamos menos humanos em um planeta onde, com os irracionais, nos limitássemos a comer e reproduzir e não pudéssemos brincar de Deus.

Há algo de divino em nós. Há uma curiosidade insana, uma criatividade suicida. Nascemos para mais, muito mais do que somos hoje! Em busca disso caminhamos, ainda que caiamos no abismo. É fatal, é a sina, é irresistível. Simplesmente não conseguimos parar. É a nossa glória e destruição. Há algo de comovente nisso.

Nem só de pão vive a humanidade - mesmo.  Felizmente não sou responsável por escolher os destinos do mundo.  Felizmente não sou eu quem vai matar a beleza para matar a fome ou manter a beleza e manter a fome. Essa escolha é tão pesada que não cabe a nenhum homem em particular.  Para decidir isso seria necessário um consenso "cósmico" - e isso não existe. Nunca existiu.

Talvez - eu disse "talvez"! - o que chamamos de supérfluo seja o que nos afasta das feras. Talvez, apenas talvez, um mundo sem o supérfluo seria tão mais árido, mas tão mais duro e triste, que cairiamos em um buraco bem pior do que esse no qual já estamos. Porque hoje ainda podemos sofrer e esfriar a alma em momentos de música, de sonho e deslumbramento. O que seria de nós se todo o mundo fosse em preto e branco e se jamais pudéssemos saborear algo que nos fizesse tirar os pés do chão e gemer de prazer?  "Huuummm! Meu Deus, que Delícia!!!"

O que seria a vida sem o "Huuummm! Meu Deus, que Delícia!!!" ou o "Meu Deus, que coisa incrível!!!"?

Sei de pouco, sei de quase nada nessa vida, mas de uma coisa sei: eu não queria viver em um mundo onde não houvesse cientistas malucos, onde o homem não pudesse dar saltos, superar-se ou deslumbrar-se.

Eu quero ver Marte. Um mundo básico é o mais assustados dos mundos.

"Estamos todos na sarjeta mas alguns de nós contemplam estrelas."  
Oscar Wilde

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