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12 de jan. de 2013

Teias



Uma amiga perguntou esses dias se "alguém poderia sentir saudades do que não viveu?"
Respondi que sim, poderia, pode, acontece sempre. 

Na minha opinião, embora o nome desse sentimento não devesse ser "saudade", saudade é a palavra que mais se aproxima do fenômeno até porque parece não existir outra para definir a sensação. 

Já senti inúmeras dores de saudade por coisas que jamais vivi. E dói. A saudade vem, provavelmente, porque estamos ao mesmo tempo desejando e nos despedindo de algo que tanto queremos.  A dor é de partida porque intuímos que jamais teremos aquilo. É uma lembrança-despedida. 

Penso que essa sensação é também um estado de melancolia causado pela carência de coisas que não existem nesse mundo.  Desejamos o que não existe aqui porque nossa procedência não é daqui.  

Há também as coisas que existem, mas que pela própria natureza só podem "nos acometer"  muito raramente e por pouco tempo. Ainda que não saibamos seu nome, a safada da nossa alma se lembra de tudo e passa a vida nos incomodando com lembranças sem rosto. 

Somos cheios de sentimentos indefinidos. Há coisas lindas que nos acontecem mas não se sustentam ao longo da vida. Há felicidades que não resistem ao martelar do dia-a-dia, então passamos o resto da nossa existência com saudades. O que queremos é mais ou menos como teias de aranhas: elas surgem,  mas simplesmente não podem ser reutilizadas.


Não deveríamos passar a vida com saudades das teias de aranha - mas é o que acontece.





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