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14 de jun. de 2013

Adoro aeronaves espaciais! *

Quem não ama aeronaves? São o ambiente perfeito para viver! 

Obviamente não estou falando naquela capsula de tortura chamada de "avião". Refiro-me à imensidão asséptica dos filmes espaciais. 

Prefiro, obviamente, sol e jardins, mas isso está cada vez mais difícil de conseguir. A vida real está mais pra high tech do que pra  para Jardins Suspensos da Babilônia.  

Pra começar:  aeronaves estão sempre limpas. Poeira zero! Nada dessa coisa desprezível de encontrar palitos pelo chão, "arte popular" (pixação) copinhos de café ou camisinhas usadas. Cestos de roupa suja? Jamais! Também não esbarramos nunca com faxineiras arrastando baldinho ou vendendo Avon. 


Material: o que não é feito de liga metálica ultra resistente  é de aço inox esterilizado. O resto é blindex ou silicone. Tudo térmico, claro.

As pessoas são limpíssimas. O suor e a caspa foram abolidos pelo comandante e todo mundo acatou. 

Melhor do que as aeronaves são o cruzamento delas com as estações espaciais. Uma cidade flutuante onde é sempre dia do lado de dentro e sempre noite do lado de fora!

Não há impressões digitais nas aeronaves. Isso por dois motivos: porque ninguém anda por lá com as mãos engorduradas e porque não há crimes. Sem crimes, pra quê digitais? 

E todos são magros. Envelhecem mas não perdem a pose. Alimentam-se com uns quadradinhos sintéticos que não sei o nome mas tem o gosto que a gente quiser, dependendo do que escolhermos nas maquininhas de auto sugestão. 

Outra coisa maravilhosa: ninguém se perde. Nem de olhos vendados. Para alguém como eu, que ainda não desvendou nem a garagem do shopping, isso é um sonho! Pois a planta de uma aeronave espacial é perfeitamente memorizável. Todas tem escadas que dão para imensos túneis ao longo dos quais você verá luzes piscando e vaporzinhos azuis. Siga o vapor verde até encontrar a esteira rolante. Escolha um elevador transparente - evite os que não são transparentes para não acabar trancado em uma geladeira. Se der tranco não é elevador, é  máquina de teletransporte - cuidado!  Se escapar disso você será recepcionado por uma voz calma e amistosa. Ignore-a. Siga as setas virtuais até a arena. Entre na porta tipo pálpebra. Depois de alguns corredores-tubo você verá entradinhas que levam às encubadoras. Não bisbilhote. Siga e visite a salas de controle. De lá rapidinho você chega ao salão das escotilhas. Novas esteiras rolantes aparecem e te levam certinho até a escada caracol que leva à sala das máquinas. É lá que rodam as cenas de perseguição. Pegue a passarela ou a ponte que dá para o hall da fama, depois ao salão das Criaturas e ao salão das mini capsulas. Se quiser alguma informação entre na sala cerebral. Cuidado com o scanner  de auras. Só depois dele você chega à ala das baianas - digo - dos dormitórios herméticos, para então...  Ah, você já entendeu. 

Na correria dos filmes todo mundo sempre sabe onde está indo, ninguém se perde. Fico encantada! Talvez já exista algum tipo de Google Maps pra implantar no cérebro. Como não pensei nisso antes?

Ah: e todas as cadeiras tem rodinhas - exceto as flutuantes. 

E as roupas?  Imagine um traje que não suja, que não estraga, não desbota, não perde o vinco e não enjoa.  São confeccionados com  uma mistura de fibras de seda, silicone, metal elástico e garrafas pet recicladas. 

E tem mais! Todos os tripulantes estão plenamente habilitados a operar ou reparar uma aeronave espacial. Do mais novo ao mais velho, todo mundo é mecânico e engenheiro eletroeletrônico aeroespacial. Problemas com a energia? Todos sabem onde parafusar, qual fio cortar, qual peça trocar e a sequência correta que as luzinhas piscam. Pouco oxigênio? No problem!  Em caso de pane qualquer mané sai correndo pelos corredores e puxa a alavanca certa e ainda checa as turbinas, de quebra. O GPS pirou? Não esquenta: pegue o estagiário da ala W que ele pode digitar de primeira a sequência de numero-código que coloca tudo em ordem. Se ele não estiver no casulo pode chamar a mãe dele que dá no mesmo.

Tá de saco cheio? Tranque-se em uma capsula de hibernação e acorde só quando a raiva passar. Morreu? Congele-se até encontrarem a cura. 

Sim, eu quero morar nesses lugares onde qualquer um nasce sabendo, não existe salto agulha nem tecno brega.

Olho para o céu e suspiro... O que é que eu tô fazendo aqui?  Em algum lugar do espaço existem pessoas com porte vitalício de armas a laser. Em algum lugar do espaço existem pessoas que dominam a tecnologia, tem seus próprios micro apês e entendem o dialeto dos físicos. E tudo o que precisam fazer para ganhar a vida é apertar os botõezinhos dos painéis. Podem olhar os planetas de perto, não precisam ir a chás de panela nem pegar autorização pra fazer exames. Não são importunados por ácaros, os eletrônicos não usam fios e os celulares tem bateria inesgotável.

Em algum lugar do universo... E eu aqui, descascando batatas no porão...

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