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12 de jun. de 2013

Nosso oráculo


Não há muito o que escrever sobre o Dia dos Namorados e estou desconfiada de que não há muito a dizer sobre praticamente mais nada nessa vida.

Sei lá, hoje é assim. Amanhã poderei estar jorrando verbo.

Às vezes paira um tédio no ar. Você não sente?  Nada de mais. O tédio faz parte da natureza de todas as coisas. É como nossa sombra: não se assuste ou se irrite com ela.

Não me refiro ao tédio bobinho, essa coisa de querer fazer um negócio legal e indefinido e ficar com raiva porque não se sabe o que é essa coisa  legal,  muito menos como fazer o indefinido. O tédio de que falo é o tédio filosófico, da monotonia dos saberes. Se não é isso, é quase isso. Bem, esse tédio pode ser  tão real mas tão real que estou sentindo agora aquela desconfiança de que já falei sobre isso antes, só que estou com preguiça de constatar.

Pra quê constatar alguma coisa? Nada mudará de lugar: estará lá se você quiser voltar depois. Tomara que você tenha mais o que fazer.

Tédio ... de ver as mesmas questões sendo apresentadas como se fossem novidade mas sem o ser. Como se alguém enganasse a platéia lançando como primeira edição um livro que já está na quadragésima.  Tédio de saber que é assim mesmo, que sempre haverá uma maioria se assombrando com "surpresas anunciadas" e que essa maioria é útil.. Tédio de ver tudo se repetir na história da humanidade, de saber para qual buraco estamos indo, de saber que não adianta saber e não adianta não saber e não adianta saber o que é melhor dentre essas duas opções. Tédio em ver que a resposta para tudo existe.

Nosso oráculo é o passado.

Está escrito: "tudo o que é, já foi, e o que há de ser também já foi, de maneira que não existe novidade alguma debaixo do sol."

A vida é uma refilmagem. Já rodaram isso zilhões de vezes mas sempre aparece uma multidão que não assistiu. E quando aparece um que assistiu e conta o final, ninguém acredita.

Nosso futuro está registrado no passado de mil modos. Às vezes em hieróglifos, línguas mortas, escrita cuneiforme, francês, dialetos estranhos, histórias em quadrinho. Está tudo lá, nas cavernas, nos mistérios dos livros de história, nas cenas vividas por gente estranhamente vestida. Não jogue fora os jornais velhos!.

Está tudo na lembrança dos nossos tataravós. A verdade vem das bochechas moles das velhinhas, escorrem das suas gengivas que não queremos fitar.  Os astros nada sabem. Para onde os ponteiros do relógio estão indo? Para o mesmo lugar de onde vieram.

Olhar para trás pode ser assustador porque podemos dar de cara com nossa própria  figura em atitude suspeita. Há alguém no passado a me denunciar:  eu mesma! com as mesmas ideias e manias, as mesmas cismas e covardias. Nossa figurinha é bem conhecida.

As pessoas maquiam a história porque tem medo de serem reconhecidas. Existem várias cópias nossas espalhadas pelo passado e ninguém quer ser flagrado frequentando certos episódios. Documentos históricos podem ser terríveis como o espelho da madrasta da Branca de Neve. Por isso adulteram os livros, exatamente por isso. E é isso que faz com que falem tanto no futuro: porque  distrai a platéia já que olhando pra frente a gente não enxerga nada mesmo.

Pelo nosso caminho há espelhos espalhados e eles nos remetem ao passado. Tudo o que podemos fazer - e de fato estamos fazendo - é virar rapidamente o rosto e seguirmos em frente. Às vezes adianta, às vezes não.

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