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21 de ago. de 2013

Complicou

A gente muda. Sempre achei que isso acontecesse quando fossemos carregados pela maré incontestável da verdade. Mas não é bem assim que acontece.

Tenho uma certa melancolia quanto a isso. Antes eu pensava que mudávamos porque a vida ia simplificando, simplificando, a gente passava a sacar as coisas... então a névoa sumia. Tudo ia se descortinando - pensava eu. Mas não são os fatos que nos transformam: somos vencidos pela falta deles. Quando a gente descobre que nada descobriu, mudamos.

Durante a caminhada a coisa vai ficando tão intrincada, mas tão intrincada que somos forçados a abrir mão das nossas certezas. Mas isso muito a contra-gosto. Cada caminho que escolhemos jamais é reto, jamais nos deixa descansar. Pouco depois de uma escolha somos confrontados com outra e mais outra. Uma bifurcação nos leva a nova bifurcação que por sua vez se desdobra em várias outras.  O resultado é que vamos perdendo aos poucos aquela certeza inicial quanto às nossas opções. É fácil sabermos a melhor opção entre duas, mas não entre três mil.

Sei que estou sendo enigmática. Entenda como preferir.

Só sei de uma coisa: a vida não vem se explicar para nós em respeito aos nossos cabelos brancos. Um dia temos que admitir o quanto fomos simplórios no passado. Depois  da décima vez que adotamos um caminho seguro que depois se complica, mudamos. Amaciamos as certezas e somos forçados a admitir que talvez um caminho aparentemente suspeito pode até ser o acertado; e que o obvio às vezes é uma tremenda cilada. Começamos a achar que, quem sabe, as aparências enganem e que podemos ter sido muito tolos no passado. Talvez não sejamos tão sensatos, tão racionais. Talvez não tenhamos capacidade para guiar ninguém. Baixamos nossas bandeiras, amenizamos o grito de guerra, olhamos o antigo inimigo com outros olhos. Talvez a vida se transforme em um imenso e instigante "talvez"; um "talvez" que vale a pena, afinal de contas!

Tudo isso é só pra dizer que a gente muda, mas não porque quis. Muda porque a vida nos põe em xeque-mate. Por conseguinte jamais meus ouvidos estiveram tão atentos a todos os sons ao meu redor. E nunca estive tão sinceramente interessada no que VOCÊ pensa.

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