.

.

12 de ago. de 2015

Nosso mundo *

Diante de tantas realidades complicadas, principalmente no Brasil, tenho procurado várias receitas para acalmar meu emocional. Leitura bíblica e oração são dois bons exemplos. Não quero me tornar amarga. Mas uma coisa também tem me ajudado de forma muito especial a manter a sanidade e a compreensão das coisas: Discovery.

Nunca pensei que assistir Discovery pudesse me ajudar tanto. Refiro-me especialmente àqueles documentários sobre a vida animal.

Os bichos não fazem outra coisa na vida a não ser buscar o que comer e fugir de serem comidos. Seja qual for o animal, a vida é dura e cheia de suspense, com raros momentos de paz. Eles veem agressões sangrentas todos os dias. Perdem para os predadores os filhotes, os amigos e, se como se isso fosse pouco, ainda perdem suas fêmeas para o mais valente do grupo. Penam para conseguir o pão (ou o grão) de cada dia.

Dá pena dos golfinhos, dá pena dos pobres elefantes, das onças, dos macacos. Dá pena do albatroz, das tartarugas - tão desajeitadas tentando esconder seus ovos! Dá pena da águia, dos leões, dos veados, dos coelhos. E das criaturinhas do fundo do mar, que esperam o dia todo pela chegada da noite para enfim conseguirem um fast-food. Correm o risco constante de serem devoradas porque existem predadores fazendo plantão noturno. Tenho pena também dos imensos cardumes de peixes que vivem apressados de um lado para outro, mudando loucamente de direção, tentando de todos os modos despistar os inimigos. De vez em quando algumas dezenas são mastigadas e engolidas sem dó, sem piedade e sem teoria sociológica.

Por que me angustio então com o nosso mundo?  Tenho que cair na real! Por que estranho tanto as guerras, as explosões dos caixas eletrônicos, os homicídios horrorosos, os roubos, a eterna vitória dos mais fortes sobre os mais fracos?   Em que mundo estou, que não considero isso inevitável e comum? Estou me assustando com o quê? Reclamando de quê? A selva é uma escola de realidade.

Toda a minha angústia repousa sobre uma visão irreal a respeito do que é a vida no planeta. Preciso de doses maciças de Discovery para me curar dessa miopia.

Estou querendo uma existência tranquila e pacífica que jamais existiu. Jamais! Estou querendo o irreal! Ainda que entremos em acordo com os outros seres vivos e não nos devoremos mutuamente,  sempre haverá asteroides para encherem o saco, escorregando e caindo por aqui, diminuindo então a população mundial.


O que eu quero não existe hoje nem nunca existiu no passado - próximo ou remoto.  Ou você pensa que era fácil ser "o homem das cavernas"?  Quando não eram as feras eram as outras tribos puxando briga.

Quero uma sociedade serena, justa e igualitária. Só que isso só existe a título de exceção e por reduzido período; tempo suficiente só para mexer com nosso espirito desejador e inconformado. Quero o que não há, o que não tem, o que não pode. Não sou só eu que não posso dar uma voltinha em paz no quarteirão. Na selva ninguém pode dar essa voltinha em paz em lugar nenhum. Nem de uma árvore pra outra. E eu aqui, querendo privilégios...

Quando olho aquele monte de bichos se perseguindo e se comendo, quando vejo as fugas apressadas dos alces e das raposas, me conformo. E digo mais: no dia em que eles não tiverem predadores nem vítimas de outra espécie, vão começar a se comer entre família igualzinho à gente. Não, eles não são mais bonzinhos do que nós.



A única diferença, talvez, entre os bichos e nós, é que, tendo conseguido escapar das feras, não estamos conseguindo evitar o tacape dos nossos semelhantes.  Acho que existe uma determinação, um carma sobre a Terra: sempre haverá animal dilacerando animal - não importa de qual espécie. Nós nos livramos da onça e dos ursos mas eles reencarnaram nos bandidos, que são as feras nossas de cada dia. Estão soltos por aí para fazer valer a lei da vida: o mais feroz ataca, o mais manso se lasca - cala a boca e não reclama.

É isso: a salvação do meu emocional é a Discovery. Vou continuar acompanhando com afinco as aventuras do mundo animal e assim ver tudo com naturalidade.

Nenhum comentário:

Páginas