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7 de abr. de 2016

Tem louco fofo? *


Vez por outra escrevo sobre os loucos, hora fascinada pelo seu universo misterioso, hora incomodada pelo glamour ralo que lhes atribuem. 

Ninguém entende os loucos, muito menos eu. Às vezes penso na prisão mental em que vivem, naquela falsa liberdade de poder fazer tudo mas estarem aprisionado em um jogo assustador de realidade virtual. Imagina você dentro de um joguinho de video game maldito sem conseguir sair. Assim imagino a mente dos loucos, por isso às vezes tenho pena, às vezes tenho curiosidade e às vezes quero distância porque eles me fazem entrar em um certo tipo de conflito.

Dia desses uma amiga postou no Face um texto glamourizando a loucura. Não glorificava a doidice-doidice, mas uma loucura idealizada, como se fosse possível domar esse mal só até o ponto de ser engraçado e interessante numa sexta feira a noite e deixar de lado a falta de banho, o cheiro de cocô e os acessos de fúria. O texto que ela postou dizia algo como "eu prefiro os loucos do que os chatos normais"  (Veja aqui :  https://osegredo.com.br/2015/06/eu-gosto-e-dos-loucos/) .

Estou tentando (e ainda não conseguindo) calar minha boca no Facebook e descarregar aqui as minhas opiniões e discordâncias.  Quero migrar minha mente para cá. Calma, é aos poucos.

Pois é: não vejo graça nenhuma nesse glamour poético que.tentam dar à loucura. Essa coisa de que "eu prefiro os loucos" só pode ser aceito como texto poético mesmo.  Toda doença é um saco.

O texto mencionado fala na "liberdade" dos loucos em "dançar descalço", "passear na chuva" e coisas assim que os normais não ousam fazer. Isso para mim nada tem a ver com loucura. Tem a ver apenas com liberdade e liberdade é a coisa mais clara e consciente do mundo. Na loucura não cabe liberdade. A loucura é o aprisionamento a um raciocínio torto que escraviza. A loucura é a prisão do pensamento único, do pensamento tortuoso, da imagem persistente.  Dançar na chuva e rir e se colorir é para os livres, os conscientes. E se o cara é muito "doidinho-normal-fofo", vá conviver com ele e pode esperar que ele vai aprontar alguma. Aí o glamour acaba.

Estar louco é se divorciar da coerência. Não vejo graça nenhuma nisso. Odeio a incoerência, motivo pelo qual quanto menos louco pra mim, melhor.  Louco é aquele que nunca está no seu mundo, não entende o que você diz.  Não prefiro os inconsequentes, os que não medem seus atos nem suas palavras, os auto destrutivos,  os pródigos,  os problemáticos.  Esses "loucos maravilhosos" são uma beleza na vida dos outros, na casa dos outros, enchendo o saco dos outros. 

A incoerência,  para mim, é uma pedra no sapato, é uma música alta demais que não me deixa seguir em frente. É um incômodo que precisa ser detido, precisa ser resolvido. Talvez até todo mundo prefira os loucos... mas eu não sou "todomundo".

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