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13 de jul. de 2016

Feixe


Ele era um pequeno feixe de inquietudes. Precisava de uma dose maior de aconchego. Precisava precisando mesmo, não era onda. Era coisa lá de dentro, dessas que a gente enxerga e não duvida. Era um precisar comovente pulsando dentro daquele corpinho frágil e por mais que eu o socorresse nunca era o suficiente. Eu via que não era, mas não sabia o que fazer. Às vezes era como se ele estivesse perdido na noite. No cúmulo da sua inocência ele se expunha assim, tão sem medo de se mostrar, tão sem medo de que usassem sua fragilidade contra ele mesmo. Às vezes eu me expunha, a mim mesma também, porque às vezes eu me via nele e não queria que se sentisse sozinho.  Ele era eu mesma, só que sem disfarces. Nele encontrei a mim, desnuda e pequena.  Ele era o meu retrato mais inquietante e foi por isso, e nessa época, que passei a me vestir de preto.

Ele existia e eu o amava e não poderia deixar que ninguém lhe fizesse mal.

Ele era um pequeno feixe de nervos e amor e a vida lhe pesava embora ele não soubesse disso. Seu coração pequeno batia na caixinha de ossos.  Eu não  sabia se o abraçava apenas, se isso lhe bastaria. Eu queria tanto que bastasse!  Eu não sabia se o melhor era ralhar para força-lo a ser forte, prepará-lo para o mundo, ou se deveria deixar claro que aquilo afligia a humanidade toda e que a vida é assim mesmo.   Eu me inquietava considerando se era exigir muito de uma criança abraçá-la dizendo que aquele abraço deveria lhe bastar.

Eu não tinha respostas nem abraços que lhe bastassem e na maioria das vezes meu coração doía profunda e longamente em seus bracinhos finos que nada podiam fazer por mim. Então diante de mim eu tinha um feixe de sentimentos tremulando, inquieto e cheio de vida. O potencial de angustia que poderia me sobrevir por causa dele era incomensurável. Melhor que não soubesse disso. E eu seguia não sabendo como agir e me desesperando em querer ser  para ele a maior bênção da vida.   Eu, solícita e desajeitada.

Ele todo era feito para sentir e me lançava, sem saber, num mar de aflições pelo passado, pelo presente e pelo futuro.

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