.

.

18 de jul. de 2016

É show!


Vou tomar banho, me perfumar e passar creme no rosto. Amanhã de manhã vai acontecer novamente aquele evento luminoso no qual a estrela sou eu.

Não estou aqui para me gabar mas você há de concordar que não é todo mundo que provoca um ajuntamento organizado e sorridente por onde passa. Eu provoco.

Todos os dias o meu percurso pela Almirante Barroso é um a-con-te-ci-men-to. Claro que já me perguntei o motivo. Não sou má pessoa mas também ainda não fiz nada que merecesse essa reação do público. Mas vou reclamar? Claro que não. Um dia entenderei o que me faz parecer tão nobre. Enquanto não entendo, relaxo e gozo.

É tão bom ser admirada! Digo isso porque o que mais poderia explicar a emocionada saudação que recebo das árvores todas as manhãs quando passo pela avenida principal da cidade? Como explicar os aplausos, os acenos emocionados, a discreta agitação que cresce a partir do momento em que meu carro surge lá na curvinha, no início da passarela avenida?

Qualquer um que esteja por perto no momento da minha aparição verá as árvores perfilarem e me saudarem emocionadas, vestidinhas de verde, com as folhas recém escovadas e lustradas sem nenhuma poeira. Quanto carinho! Algumas vem em turma se amontoando na bira da calçada. Outras me acenam mais solitárias, deslocadas no meio de algum terreno mal cuidado. Não importa. Legal é saber que todas acordam cedo para me recepcionar. Cantam, assoviam, fazem chique-chique com os galhos à minha passagem. Só não pulam mesmo porque não dá.  Que belo momento!

Tento entender os motivos depois. Bem depois.  Na hora "hagá" não me detenho nessas questões. Por que desconfiar de gestos de amizade? Tudo o que tenho que fazer é não desapontá-las. Quando me acenam diminuo a velocdiade e retribuo com o sorriso mais simpático que consigo. É o suficiente. Amanhã estarão lá de novo, cheias de vida.

Já reparei que no terreno do  Tribunal há três dessas simpáticas árvores uniformizadas. Elas são mais contidas, claro. Não levantam os braços nem fazem barulho mas o leve aceno, sem muito alarde, já me deixa alegre. Não podem fazer mais do que isso provavelmente por estarem de serviço.

Observo também aquelas que não podem ir para perto da pista, como as outras. Sei lá como é a hierarquia vegetal mas estas de baixa patente também são tão meigas! Não deixam de comparecer por nada desse mundo. Ficam disputando espaço umas com as outras debruçadas sobre os muros da avenida se acotovelando esperando eu passar. Não há espaço nem para acenar, tadinhas. Apenas arregalam um sorriso verde e brilhoso.

Não desfazendo das árvores de serviço nem das contidas pelos muros (segundo escalão) registro aqui meu especial apreço àquelas mais expansivas que sorriem festivas, agitam bandeirinhas à minha passagem, jogam folhas e assoviam. São a alma da festa, certamente. Quando vou me aproximando elas cutucam umas às outras avisando "lá vem, lá vem ela!"

Ainda vou descobrir quem organiza essa festa. Sabe, isso me põe pra cima! Até esqueço os problemas. As árvores da Almirante Barroso são super alto astral.

Tenho que admitir: existe uns dez por cento delas que são, digamos assim, menos expansivas. São as mais altas e mais e quietas. Não há vento que as anime. Não sei se isso tem a ver com a idade. Geralmente elas se colocam perfiladas próximo à Doutor Freitas. Bonitonas. Parecem - ou querem parecer - mais nobres.

Sabe, não fico ressentida com essa falta de viço.  Não fazem auê mas baixam o olhar quando passo. Permitem-se um discretíssimo sorriso e pronto. Pra mim é o suficiente.

Todos os dias pela manhã para mim é Sete de Setembro.

Bora comigo amanhã.  Você vai ver que animação. De repente, vendo você comigo, pode até ser que elas lhe joguem umas folhinhas também.  Leve máquina.


Nenhum comentário:

Páginas