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12 de out. de 2017

Duas Cristinas

É como se eu fosse duas pessoas, uma bem diferente da outra.  A Cristina teórica não tem nada a ver com a Cristina ao vivo, olhando nos olhos das pessoas.

Sinto-me muito mal quando me flagro com preconceitos ou desprezando intimamente essa ou aquela categoria de pessoas. Tenho minha teorias, algumas delas bem ácidas e politicamente incorretas. Nem sei se são teorias. Talvez não sejam. São sentimentos que vem como naquela comparação comum: pássaros que pousam na cabeça da gente.  Há pessoas que me irritam profundamente. Há pessoas que defendem coisas para mim absurdas, que inflamam raiva, desprezo. Eu protesto. Eu reclamo. Escrevo coisas virulentas. Quero combater coisas e costumes, detesto algumas ideologias. Não aceito.

O que acontece com meu coração quando me encontro frente a frente com essas pessoas teoricamente desprezíveis?   O que sinto por elas? Quando a vejo, fico perto, olho nos olhos... tudo o que sinto é simpatia. Uma simpatia real, desconcertante, natural.    Não sinto, no real, o que sinto quanto escrevo. Não entendo como pode ser isso.  Ao vivo não sei para onde vai toda aquela ira. Não consigo ter raiva. Não consigo odiar ninguém.   Tenho carinho por essas pessoas, vontade de ser amiga.  Aquela Cristina simplesmente desmonta na vida real.

E tanto me inflamo quando considero uma questão teoricamente...   Para quê?  Por que defendo teorias tão duras se na vida real tudo evaporam?  O que há comigo?

Há verdade no que digo? Ou minha verdade está no que sinto quando olho nos olhos?  Não sou sincera?  Qual a Cristina verdadeira: aquela que vocifera aborrecida com os rumos do mundo ou a Cristina presencial,  que não consegue sentir ao vivo o que sente "no papel"?  

Uma não reconhece a outra. Elas sequer brigam entre si. Convivem não sei como. Quando uma entra em cena a outra simplesmente silencia. Não esperneiam nem protestam, apenas esperam calmamente sua vez de entrar novamente no palco.

Não odeio ninguém. Não quero matar ninguém. Não quero amarrar ninguém no poste. Não quero ninguém sofrendo. Não quero nada disso quando estou diante da pessoa de verdade, do ser humano, meu irmão. Quando olho nos olhos não consigo sentir nada de ruim a respeito de ninguém. Ninguém. Nem mesmo o político que eu xingo no Facebook. Tenho certeza de que se eu encontrasse com qualquer um deles eu iria sentir quem sabe até uma certa pena, pelas trevas em que estão metidos.  Os maus não tem paz e quem não tem paz é um pobre coitado.

Frequentemente encontro pessoas cuja conduta critico e quando as vejo sinto real simpatia, real apreço, de coração. Aí não sei para onde foi aquela mulher com todas aquelas palavras pesadas.

No juízo final qual das duas Cristinas comparecerá diante do Juiz?  E qual delas será desconsiderada?

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