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18 de set. de 2011

O Discurso do Dia de São Crispim


Certa vez assisti o filme "Henrique V". Faz anos e não lembro de muitos detalhes da história mas a cena do discurso do rei me impactou. Obra de arte.

Foi uma cena inesquecível e poderosa em sua capacidade de mostrar que é possível ativar no ser humano sentimentos heróicos, altruístas e divinos.

Há coisas cristalinas dentro de nós,  mas onde? Como evocá-las? A palavra certa possui o poder descomunal de trazer a tona o que temos de melhor ou até mesmo aquilo que não temos. Porque a palavra CRIA.

Jamais esqueci o filme. Um dia desses tive a idéia de buscar na internet o texto do discurso do rei - e não é que encontrei? Estava lá, no ENGEL BLOG

Na apresentação o blogueiro dizia que teve um primeiro contato com essa grande peça da literatura mundial ("O discurso do dia de São Crispim") quando participava de um curso sobre MOTIVAÇÃO. Tudo a ver. O Discurso do dia de São Crispin é um exemplo muito claro da existência de uma certa forma preciosa de poder.

Procure a cena no Youtube. Eu encontrei mas para meu desconsolo estava sem legenda. 

Leia aqui o comentário do amigo blogueiro:


"... A cena ocorre no acampamento inglês no dia da batalha de Azincourt (25 de outubro de 1415). O rei Henrique V faz a revista em suas tropas. Os ingleses tem dez mil soldados para opor-se aos 60 mil franceses que os aguardam nas planícies de Azincourt quando é abordado pelo conde de Westmoreland. O conde de Westmoreland, primo do rei, lamenta a falta de mais homens para pelo menos tentar equilibrar um pouco a enorme diferença dos efetivos de combatentes. O rei toma a palavra então:"


"Quem expressa esse desejo? Meu primo Westmoreland? Não, meu simpático primo; se estamos destinados a morrer, nosso país não tem necessidade de perder mais homens do que nós temos aqui; e , se devemos viver, quanto menor é o nosso número, maior será para cada um de nós a parte da honra. Pela vontade de Deus! Não desejes nenhum um homem a mais, te rogo! Por Júpiter! Não sou avaro de ouro, e pouco me importo se vivem às minhas expensas: sinto pouco que outros usem minhas roupas: essa coisas externas não encontram abrigo entre as minhas preocupações; mas se ambicionar a honra é pecado, sou a alma mais pecadora que existe.


Não, por fé, não desejeis nenhum homem mais da Inglaterra. Paz de Deus! Não quereria, pela melhor das esperanças, expor-me a perder uma honra tão grande, que um homem a mais poderia quiçá compartir comigo. Oh! Não ansieis por nenhum homem a mais! Proclama antes, através do meu exército, Westmoreland, que aquele que não for com coração à luta poderá se retirar: lhe daremos um passaporte e poremos na sua mochila uns escudos para a viagem; não queremos morrer na companhia de um homem que teme morrer como companheiro nosso.


O dia de São Crispim: este dia é o da festa de São Crispim; aquele que sobreviver esse dia voltará são e salvo ao seu lar e se colocará na ponta dos pés quando se mencionará esta data, ele crescerá sobre si mesmo ante o nome de São Crispim. Aquele que sobrevier esse dia e chegar a velhice, a cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é São Crispim". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no dia de São Crispim."


Os velhos esquecerão; mas, aqueles que não esquecem de tudo, se lembrarão todavia com satisfação das proezas que levaram a cabo naquele dia. E então nossos nomes serão tão familiares nas suas bocas com os nomes dos seus parentes: o rei Harry, Bedford, Exeter, Warwick e Talbot, Salisbury e Gloucester serão ressuscitados pela recordação viva e saudados com o estalar dos copos.


O bom homem ensinará esta história ao seu filho, e desde este dia até o fim do mundo a festa de São Crispim e Crispiano nunca chegará sem que venha associada a nossa recordação, à lembrança do nosso pequeno exército, do nosso bando de irmãos; porque aquele que verter hoje seu sangue comigo, por muito vil que seja, será meu irmão, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que permanecem agora no leito da Inglaterra irão se considerar como malditos por não estarem aqui, e sentirão sua nobreza diminuída quando escutarem falar daqueles que combateram conosco no dia de São Crispim.

(A vida do rei Henrique V, ato IV, cena III)

13 de set. de 2011

Angola


Podem olhar minha postagem anterior. Coloquei a angolana como uma das favoritas, como uma das mais bonitas dentre as pretendentes ao título de Miss Universo. E novamente acontece o que eu sempre digo que acontece nesses concursos: NUNCA, JAMAIS a mais bela é a vencedora.

Acho que já saquei toda a manha desses concursos. Mas tudo bem, embora não fosse a mais bonita, a Miss Angola realmente é muito bela. Parabéns.

Agora a nossa brasileirinha, pelo amor de Deus. Fraca, comum. É só mais uma menininha bonitinha de porta de colégio. Costa Rica e Colômbia são muito mais bonitas.

11 de set. de 2011

Miss Universo - 2011

Assim , como quem não quer nada:

Gente, pra mim não há nada mais falso do que abraço de miss. Explico:   quando olho as participantes de um concurso de misses, tenho que rir. Todo mundo sabe que é uma querendo que a outra morra - ou que pelo menos torça o tornozelo - mas diante das câmeras elas sorriem como flores num jardim. E se abraçam  como se suas Barbies vivessem umas nas casas das outras desde criancinhas.

Deve ser o pior lugar do mundo para fazer amizades.

Vocês não acham engraçado não?

Concurso 2011:

Olhando as candidatas não vi nenhuma garota que pelo menos chegasse aos pés da Ana Hickmann ou Ana Paula Arósio. Fazer  o quê? Trabalhemos com o que temos.

Na minha opinião as melhorzinhas são: Costa Rica, Venezuela, Colômbia (deve ganhar), Coréia do Sul, Ilhas Maurício, Nicarágua, Rússia, Finlândia, Angola, Kosovo, México.

Miss EUA: só podia mesmo ser modelo. É feia de tão magra. Os bracinhos fiiiiiinos!

De corpo todas são muito semelhantes. Acabou aquela época na qual tentávamos descobrir quem era a gostosona mais bem feita de corpo. Agora tá tudo nivelado: osso por osso, dente por dente, é tudo igual.

Nota de rodapé: não aguento a "sem-gracisse" da apresentadora Adriane Galisteu. Aquele sorriso sem naturalidade e cabelo lourésimo emoldurando uma pele cor de cenoura... Não dá, maninha!

Estou adorando ver os vestidos.

Plim-plim


Qual o melhor amigo de uma escritora? O papel? O computador? O gravador? Um professor?  No meu caso vou confidenciar a vocês: meu "muso"  inspirador é o meu carro. Decididamente.

Naquela caverna de lata, embalada pelas irregularidades do asfalto, sinto-me segura, inserida no mundo e ao mesmo tempo refugiada dele, uma expectadora curiosa mas intocável.  Juntando-se a isso a dificuldade de correr devido ao trânsito, sou forçada a ter calma e relaxar. Essa convergência de fatores fertiliza minha a mente.  Minhas mãos estão no volante mas o corpo, quase totalmente estático, é levado a uma postura propícia à meditação.  Ah...  Aí então reflito, relembro, questiono, formulo, enterneço-me, adoto causas, descarto causas, dou razão a uns, condeno outros, perdôo quase todos. E ainda retoco o batom.


Meu carro, para efeito de reflexão, é melhor do que qualquer travesseiro. No travesseiro todo pensamento coerente acaba se misturando com as maluquices do sono, aí a coisa avacalha.

Ultimamente quase não estou escrevendo. Chato isso. A maioria das postagens que vocês tem lido são jurássicas, pois foram programadas há semanas. O culpado por esses brancos não é o meu carro, mas um outro fator misterioso.  No carro, como já expliquei, sempre tenho ótimas idéias. Quando engarrafo então, é a glória! Os textos me vêm aos borbotões, as palavras pingam fartamente  sobre sobre o painel, escorregam pelo volante e se aconchegam meigas em meu colo. No sacolejo emendam-se em fileira como pequenos ímãs que por sua vez se irmanam em parágrafos e por aí vai. O mundo passa então a fazer sentido e borbulham dentro de mim frases redondas, exatas, que imploram para vir à luz. Elas querem nascer! Sou mãe!

Quando chego ao meu destino já estou com o texto pronto e corrigido. Desembarco, bato a porta do veículo feliz da vida. Então aciono o alarme - plim-plim! - e o meu cérebro entra em curto. Esqueço tudo.

É frustrante. E é um mistério como não consigo lembrar de jeito nenhum daquela idéia tão cara construída ao longo do percurso. Mesmo que eu retorne quinze minutos depois não adianta nada: os textos não estão mais lá. Evaporaram, foram abduzidos. Espero que não estejam sendo atraídos pela órbita de outro blog...

Preciso culpar alguém... Pois agora me ocorre que o plim-plim do alarme talvez exerça um estranho poder narcótico sobre minha memória. Como uma varinha de condão, como o estalar de dedos do psicanalista que interrompe uma seção de hipnotismo. Só sei que nessas idas e vindas já escrevi e perdi livros inteiros!

Sabe, eu acho que vida da gente é cheia de plim-plins que mudam os rumos do nosso pensamento, que dobram nossas vontades e espanam as melhores decisões da nossa cabeça. As coisas vão bem, já decidi que não vou mais ingerir carboidratos a noite e vou tratar melhor os flanelinhas. Tá decidido, ponto final. Aí acontece um plim-plim que me faz esquecer tudo e voltar a ser a mesma cabeça oca de antes. Assim fica difícil evoluir como ser humano, não é mesmo?

Antes que alguma coisa aconteça vou logo dizendo: nada há mais relevante nessa vida do que descobrir onde está o detonador dessa bomba. A pergunta é: qual é o plim-plim que interrompe tudo e nos leva sempre ao ponto de partida?

O quê é que sempre acaba acontecendo e, quando acontece, representa o fim do que estava nascendo? É uma pessoa? Um toque de celular? Um pensamento recorrente? O ruído do cartão de ponto? A ladainha de alguém? Você, eu, nenhum de nós vai subir mais nenhum degrau na escala da evolução se não descobrirmos o que é que está nos interrompendo. Quem está roubando nossas resoluções e idéias brilhantes?

Por hoje é só. Acho que já te iluminei o suficiente por hoje.

Quer mais? Vá dar uma voltinha de carro pra ver se funciona com você, vai!

7 de set. de 2011

Pessoas tipo azul

A grande cilada de envelhecer é quando a parte visível anda em descompasso com a parte velada. Explicando: quando a parte de cima se acaba primeiro que a parte de baixo. Ou melhor: quando você é composto de dois seres que não se combinam mais.

Não dá pra explicar mais do que isso, mas mas existe uma outra cilada:  chato de envelhecer é não poder usar cabelo azul nem meias listradas.

E as tatuagens? Para mim, são uma celebração da beleza e da juventude e elas só ficam bonitas em peles duras, lisas e frescas - coisas incompatíveis com a velhice. Cá pra nós, nada mais deprimente do que uma tatuagem molenga, toda bamba no meio das pelancas. Confesso que num belo dia de verão eu não segurei a onda e tatuei o tornozelo apesar de não ter mais quinze anos mas mesmo assim saibam: não mudei de idéia. Sou um mau exemplo.

Também sou um mau exemplo no quesito "satisfação pessoal" . Porque me tatuei mas continuei querendo o que não devo, ou seja:

Usar meias listradas
Pintar os cabelos de azul ou cor-de-rosa (acho lindo!)
Colocar piercing na sobrancelha, pra começar
Usar botas militares com saia de tule
Jaqueta com mil bottons
Usar maquiagem cinernética (não me perguntem o que é isso)
Unhas combinando com o cabelo
Bijuterias estranhas
Mochila neon.
Lentes de contato imitando gato.

Há uma idade na qual temos permissão para mirarmos na rebeldia, passar de fininho no ridículo mas acertar na maluquice encantadora.  Na minha idade a gente mira na loucurinha encantadora mas acerta em cheio no ridiculo. Passa só de raspão na originalidade jovial.

Mas tudo bem, existem mil compensações (Deus é Pai!). Você me perguntaria quais, mas eu não responderia porque você não acreditaria.

Você poderia me perguntar:  "- Então por que não faz o que quer? Ouse!"   Tenho duas respostas para você:  1) Você daria esse conselho para a sua mãe?;  2) Não basta ter o cabelo azul: você tem que ser uma pessoa "tipo cabelo azul", entendeu? Falar azul, ter amigos "tipo azul" e ir a lugares azuis.

Não há esperança para mim. Mas tudo bem, ter uma aparência comum não é o fim do mundo. Tem suas compensações e você sabe disso.

3 de set. de 2011

Eu gosto dos PM's


"Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco
E São Sebastião..."

... e eu gosto dos PM's. Sério.

Hoje é o Dia do Policial Militar. Pense numa profissão difícil!
Ser lixeiro é fichinha.
Ser engenheiro é fichinha.
Ser político é fichinha.
Ser juiz é fichinha.

As piores broncas sociais caem sempre no colo do PM. Quando os vejo em atuação sempre penso: "Ai meu Deus, eu não queria estar na pele deles..."

Sei que a sociedade tem mil críticas aos PM's. Eu também tenho e se for pensar nas denúncias de abuso e corrupção vou ficar gravemente irritada. Acontece que tenho um defeito: olho para os caras e a minha memória não consegue priorizar a banda podre.  Não consigo. Olho para eles, imagino o que é trabalhar debaixo dos piores olhares, encarar as situações mais desagradáveis e não esperar nada, nem um afago social de volta.

Como você se sentiria se, no seu trabalho, seus chefes fossem fofos como os comandantes deles? E se o seu trabalho fosse tenso e cheio de cascas de banana como o deles? E se você tivesse a triste certeza de que todo mundo lhe olha atravessado e se você soubesse que se algo saísse errado a culpa seria apenas SUA e se algo saísse certo o mérito seria do acaso?

Se você endurecesse, seria crime de abuso, perderia o emprego e a liberdade; se amolecesse seria incompetência, perderia a segurança para trabalhar e seria ridicularizado. Legal, né? Vá trabalhar dentro desse contexto e depois me conte.

E se na sua frente todos te incentivassem a ser durão mas na televisão todos exigissem que você fosse uma florzinha?

Fico pensando se eu conseguiria ser uma florzinha de candura se todos os dias fosse tratada de forma rude por meus superiores hierárquicos e eu tivesse que engolir tudo calada. Fico imaginando como seria ter que enfrentar uma situação de confronto e ter que conter, sem agredir, pessoas terrivelmente agressivas e desrespeitosas. Eu saberia agir como um Lod inglês?  Como é possível conter desordeiros com charme e elegância se pela própria natureza do desordeiro ele está lá justamente para sacanear com as regras?

Será que eu conseguiria fazer-me obedecer por pessoas que nunca obedeceram nem pai nem mãe nem lei? Como lidar com "pessoas" que não conseguem entender que ser educado NÃO É ser bunda-mole? Como explicar pra população que bandido confunde as coisas e se você der bobeira você morre?

Como é a realidade de ter que agir em uma situação de confronto já sabendo que eu seria escrachada se apanhasse e crucificada se batesse?  Como eu me sentiria se a maioria das pessoas com as quais eu lido não soubesse a diferença entre educação e palermice?  Deve ser complicado, né?


 E como eu me sentiria se soubesse que os meus eventuais erros não receberiam um décimo da condescendência que os intelectuais e legisladores dedicam à bandidagem em geral?

E se eu soubesse que entre o marginal e eu, ele seria sempre a vítima e eu, o vilão até prova em contrário? Ele seria considerado um "humano oprimido" mas eu teria a obrigação de ser um primor de temperança mesmo dentro do meu contexto de vida.

E se eu soubesse que ninguém está nem aí para o meu contexto de vida???

Acho que talvez eu não conseguisse ser uma boa PM mas afirmo que muitos PM's conseguem ser bons. Os que conseguem, mesmo levando tantas patadas da vida, são pessoas que estão dando muito mais do que estão recebendo.


Um bom PM é, necessariamente, uma pessoa de bom coração porque a ordem natural das coisas é: você só pode dar aquilo que você recebe.   

Por essas e por outras resolvi escrever esse texto de reconhecimento a esse pessoal que desempenha uma das profissões mais ingratas desse país. Vim hoje aqui só pra dizer que eu gosto dos PM's.

Se você não gosta deles, faça o favor de deixá-los em paz quando o pau cantar pelas suas redondezas.

30 de ago. de 2011

Alguém maior do que você e eu


Aproveitar


Rapidinho;

Frente ao fim do mundo, existem principalmente três tipos de pessoas:
1) Há aqueles que, sabendo que tudo vai acabar, resolvem fazer a coisa certa. Geralmente têm a idéia de pedir perdão pra todo mundo e, de quebra, contar pro filho que ele é adotado.

2) Há aqueles que, sabendo que tudo vai acabar, a primeira idéia que lhes vem é transgredir. Finalmente transgredir!!! Sem colher os frutos amargos da transgressão. Por algum motivo esse tipo de gente pensa logo em todas as variações possíveis para o sexo, para as drogas e para curtir com a cara dos outros.

3) Há ainda aqueles que, sabendo que tudo vai acabar, não pensam exatamente em transgredir ou em ajeitar nada. Apenas querem "aproveitar". Assim, no genérico.

Para uns "aproveitar" significa consertar. Para outros, significa transgredir. Mas para essa terceira categoria "aproveitar" é apenas fazer coisas agradáveis sem muito drama. Isso envolve tanta reflexão que eu desconfio de que essa categoria de pessoas é justamente a que vai ficar paralisada com a "metralhadora da vida na mão" sem saber ao certo pra que lado atirar. 

"Aproveitar" é uma coisa muito relativa, a ponto de ser inquietante. É tão relativa que tem um monte de gente que jura que está aproveitando mas, a gente olhando pra eles do lado de fora, acabamos achando que elas estão vivendo uma vidinha chinfrim de "um e noventa e nove."

"Aproveitar" é tão relativo mas tão relativo que tem gente que acredita de coração que dar a vida por uma causa ou pelo próximo não é perder nada; é aproveitar e dar significado à sua existência.

Pra vocês verem: "dar significado à própria existência" é considerado por alguns justamente como "desaproveitar a vida".

E você? Está "aproveitando"?  Ande logo porque o mundo vai mesmo acabar. Só não sei quando.

27 de ago. de 2011

Alberto Caeiro

"...Quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."

26 de ago. de 2011

Sobre o filme Árvore da Vida

Esse filme é excelente... ou uma droga - tudo depende de como sua mente vai processá-lo. Depende do seu "eu espiritual".

Era para ser um filme edificante e direcionado a qualquer um. E é, mas a linguagem escolhida para transmitir a idéia é... digamos... enigmática demais.

Desconfio que raras pessoas vão gostar. Eu mesma só gostei porque já li o livro de Jó e quase pelo meio do filme consegui juntar uma coisa com outra. Nem todos os cérebros no cinema seguiram a mesma linha. Deve ter sido por isso que ouvi umas reclamações e uns risos de deboche no cinema. Quando saí para pagar o estacionamento ouvi um rapaz dizer às amigas: "E eu pensava que só eu fosse doido! Ha ha ha" . Por aí você tira.

O diretor quis passar uma mensagem poderosa. Para isso, palavras seriam insuficientes. Sendo assim ele lançou mão de imagens para nos fazer mergulharmos em nós mesmos e no nosso tal "eu espiritual". Pra mim valeu.

Se a idéia de Deus não é forte em você, se você não tem questões existenciais, se você não se faz perguntas inquietantes, então desista de ver o filme.

Tá, admito que estou me enrolando toda pra falar da história. É que é complicado!

Pra começar: o Brad Pitt já está enchendo o saco com essa mania de fazer papel de feio. Alguém tem que dizer a ele que personagem bonito também pode ser sério, pode ser profundo e pode render Oscar. Não gostei muito desse trabalho dele mas tudo bem. E todos os demais atores foram ótimos.

E a história? É sobre uma família "anos sessenta". Família tradicional, classe média e bem estruturada. O pai, chefão de família, é trabalhador, sério, responsável, carinhoso mas... rígido demais. A educação em sua casa é ao estilo minitar e isso desencadeia uma pré-crise de adolescência em um de seus filhos. Ele vai se tornando rebelde, amargo, questionador e triste. Em dado momento ele odeia o próprio pai.

Pronto, é isso. Agora e a mensagem? Bem, é uma coisa tão subjetiva que o que eu entendi pode não ter nada a ver com o que o diretor quis dizer. Posso fazer um discurso inflamado sobre o filme e no final o diretor se levantar e me perguntar: "Que filme é esse mesmo que você está falando? Não foi o que eu fiz não, né? Nada a ver!"

Pois é.

Eu acho/parece/tenho a impressão de que se trata da história de uma pessoa que trilha um longo e tortuoso caminho emocional até encontrar-se finalmente com Deus. Assim eu percebi. Se você entender o inverso não vou discutir.

Repito: só entendi o filme porque já li o livro de Jó (Bíblia) e a história começa justamente com um trecho que diz mais ou menos o seguinte (na minha linguagem pra lá de coloquial):

"Como é que é? Você quer mesmo que eu responda às suas perguntas? Vem cá, onde você estava mesmo quando eu criei os fundamentos da Terra?"

Essa primeira frase é a base de tudo. Outra frase fundamental eu li certa vez e fiquei matutando:

"Para encontrar Deus é necessário primeiro perdê-lo".

Cara, é isso!

Sussurros, imagens misturadas, simbolismos profundos, frases perdidas, nada parece ter um propósito. Contar uma história desse jeito é bem a propósito!

Fiquei impactada por aquelas imagens de explosões, quedas d'água poderosas, infinito, galáxias, peixes, células... até entender que tudo aquilo remetia à idéia de Deus. Eram imagens metafóricas para nos levar a pensar no indizível. O diretor não falou de Deus mas mostrou o que é a extrema beleza misturada ao medo absoluto; o que é a imensidão, o que é sentir-se um nada perdido no tudo, em meio a um turbilhão de acontecimentos e forças incontroláveis. Como conversar com o cosmos, com o oceano, com o sol? Diante de tudo isso só nos resta dizer que "não está mais aqui quem falou". Dá medo olhar e se imaginar no meio de tudo aquilo. Incompreensível, imenso, indomável. Assim foi passada a idéia de Deus - e é assim que eu imagino, por isso me identifiquei com tudo. E gostei.

O medo só não nos vence porque a beleza nos acalenta em cascatas de deslumbramento.

Tudo a ver com Jó descobrindo o Divino depois de tanta coisa esquisita em sua vida. Ele precisou primeiro sofrer, questionar, se revoltar, querer morrer, querer matar, gritar que nada fazia sentido, brandir o punho, sentir ódio, achar que tudo é mentira.,. para só depois dar de cara com o Amor Profundo.

Pra não me alongar demais - uma vez que o tema me empolga - completo dizendo como percebi as últimas cenas, aparentemente sem sentido: encontrar Deus é também reencontrar-se consigo mesmo e fazer as pazes com o bebê que você foi, com a criança, o adolescente, o adulto, e abraçar todo mundo. É se pacificar, consigo e com o universo. É também reencontrar o jovem pai, o velho pai, a mãe em todas as idades e com os irmãos também em todas as idades e poder abraçá-los em paz com tudo resolvido, sem pendências. É perceber que todos os "despropósitos" tinham um propósitoe tudo foi bom. É reencontrar todo mundo que fez parte da sua história, todos, em um momento mágico, e perceber que por fim tudo era apenas um enigma amoroso.

Quem encontra Deus se encontra também consigo mesmo e faz as pazes com o universo.

Lindo. E estranho. Assim é o filme e assim é a nossa vida.

25 de ago. de 2011

A vida já foi mais simples

Li no Blog da Sílvia,  uma postagem que fala justamente sobre a perda dos prazeres simples da vida. Pois é... É incrível como, no passado, já nos empolgamos com coisinhas de nada! Coisas que hoje não nos tocam de forma alguma. Não acho que isso seja algum tipo de evolução. Empobrecemos, isso sim, ao perder tantas fontes de prazer.

1- Antigamente eu adorava o reinício das aulas. Eu curtia principalmente o cheiro do material escolar novo dentro da pasta e as meias novas bem branquinhas.

2- Eu adorava quando meu padrinho dizia que eu era uma tremenda cabrocha. Hoje em dia ninguém nem sabe o que é isso!

3- Eu adorava lamber a tigela com a massa crua do bolo que minha mãe fazia.

4- Eu adorava ouvir bilhões de vezes os mesmos discos de histórias. Hoje não temos discos de história, mas DVD's. A coisa piorou. Antigamente eu ouvia o narrador e exercitava incrivelmente a minha imaginação. Era muito mais legal. Hoje eles imaginam tudo no lugar das crianças...  Não houve um empobrecimento? Houve.

5- Eu gostava de ouvir a conversa dos adultos e tentar entender o mundo deles. Tudo me parecia misterioso e interessante.

6- Eu adorava dormir no colo da minha mãe na igreja. Era maravilhoso deitar a cabeça na Bíblia que estava em seu colo. Até hoje lembro do cheiro do couro da capa da Bíblia da mamãe.

7- Eu adorava, quando faltava luz. Era muito divertido brincar com a sombra na parede.  Ríamos tanto, eu e meus irmãos!

8- Eu adorava brincar de roda. Em todos os aniversários havia brincadeira de roda.

9- Eu adorava, nos aniversários, a hora da distribuição dos balões. Era um para cada criança e ficávamos muito felizes e empolgados em receber um. Passávamos a festa toda escolhendo qual iríamos pedir. "Aquele verde vai ser o meu!" "Ah, vou pedir o branquinho!" Nossa!

10- Eu gostava de colecionar ossinhos de rabada. Depois de comer uma deliciosa rabada nada melhor do que lavar os ossinhos para brincar. Brincar de quê? Ora, a gente dizia que os ossos eram os boizinhos. Era empolgante ter um "rebanho".

11- Eu adorava "fazer bolo". Receita: farinha, água, açúcar. Colocava em uma panelinha, deixava a farinha inchar. Quando virava no pratinho, tínhamos um bolo absolutamente comestível. Eu achava uma delícia!  Quando conseguíamos ter acesso à lata de leite em pó era a glória! Aí o bolinho ficava mais gostoso ainda.

12- Eu adorava fazer o contorno das figuras de uma revista furando-as com um alfinete. Depois de tudo furadinho eu colocava a imagem contra a luz e ela se iluminava! Era como se estivesse cheia de estrelinhas!!!!

13- Eu adorava caminhar pela casa com um espelho sob os olhos, de forma que o que enxergava era o teto, não o chão. Eu me confundia toda e isso era muito engraçado. Claro que de vez em quando dava de cara na parede, mas isso é mero detalhe.

14- Eu passava horas muito felizes brincando de ser princesa.

14- Etc, etc.

É, a vida já foi bem mais simples...

REALIDADES BRASILEIRAS