.

.

8 de mar. de 2008

Rosa

Ganhei uma rosa
Rosas são lindas
Não se devolve uma rosa, sob nenhuma hipótese
Tenho uma rosa do Dia da Mulher a me desafiar
Ela não ri de mim,
Apenas me olha com as mãos na cintura
A perguntar: "e aí? Vai dizer o que agora?"

Rosas são bonitas
Mal-criadas e atrevidas

Minha vingança
É vê-la fenecer
Mais rápido que eu.

Quando ganhar uma rosa
Aproveite pra medir
O quanto você tem de durona

Rosa...

Não pra devolver
Mas pra reter
E pra rever
O momento primeiro
Distante passado
De quando ele estava
Tão apaixonado.

Cristina Faraon

25 de fev. de 2008

BO-9547

Chuva séria é coisa forte. Ou melhor: chuva forte é coisa séria. E nem estou me referindo às inundações.

Voltemos nossas mentes especulativas para o imenso transtorno causado pela chuva na vida, por exemplo, dos passarinhos. Não me refiro às grandes aves cheias de moral que já estrelaram em documentários de TV a cabo. Estou falando desses passarinhos de bairro que a gente vê todo dia, marronzinhos, meio sem graça.

Esses dias estive pensando sobre isso e me senti profundamente tocada com a situação deles em dia de chuva. Claro que esse meu momento sensível passou rapidinho, mas ainda deu tempo de escrever esse texto.

Não me parece correto imaginar que esses bichinhos inofensivos sejam mais valentes do que nós, então afirmar que eles têm muito medo de chuva e trovoada é falar a verdade. Se você tiver em mente que ninho não tem teto, fica bem mais fácil aquilatar o sufoco deles quando pensam na possibilidade de seus filhotes serem arrebatados - e arrebentados - durante as intempéries.

“- Cadê aquele passarinho que estava aqui?
- Ensopou-se na chuva, depois veio um pé de vento e chutou o pobre pra longe e ele esborrachou-se naquela cerca. Não sabia voar. Olhe, ainda tem uns pedaços dele ali pendurados.”

Não te dói o coração?

Chuva... Chuva é mulher indócil e caprichosa. Ela não mede conseqüências nem se arrepende de seus arroubos. Tendo chance ela sacaneia mesmo e quem quiser que se arranje.

Pobres passarinhos... Além de tudo são solitários. São sim! Em minha acurada visão cada família forma um mundinho particular e eles se viram dentro desse nucleozinho emplumado e frágil. Não há vizinhos que os socorram e o gato da vizinha... melhor nem falar. Os filhotinhos... são tão pequenos, arrepiados e desconhecedores das realidades da vida! Todo o prazer de suas existências resume-se em comer minhocas. E ninguém garante que ao crescer outros gozos os aguardem. Sabe, não consigo imaginar um casal de passarinhos... Deixa pra lá.

Outra categoria que também sofre nas mãos caprichosas da natureza são os nossos amigos do andar de baixo. Não me refiro aos defuntos, mas às formigas.

Sempre cri que entre elas o deus-nos-acuda é sempre maior. Pense bem na aflição que é ter seu buraco cheio de água. Ainda não descobri se elas possuem algum sistema impermeabilizante lá por baixo - refiro-me às suas moradias, fique claro. Como será que conseguem continuar morando no mesmo lugar depois de um toró?

Com o passar do tempo e grande dose de empirismo fui compreendendo melhor as coisas. Não posso mesmo comparar as formigas aos pássaros. Não são lá muito parecidos e nem me refiro ao aspecto físico mas muito mais ao temperamento. Claro que já estudei isso! Você acha que eu colocaria em risco o meu nome ao discorrer sobre algo sem base científica? (Não responda).

Mesmo passando aparentemente por maior dificuldade, concluí que ainda assim as formigas são mais ágeis para contornar seus problemas com a chuva. Claro, pense bem: só pelo fato de serem menos neuróticas já levam vantagem. Todos nós sabemos que uma mente tranqüila encontra solução para tudo. Já os passarinhos, ai ai... São nervosos, assustados, qualquer coisinha vira um drama! Em dia de chuva é impossível dialogar com um deles. Nem tente. Por essas e por outras, desconfio de que todo passarinho tem gastrite - ao contrário das formigas. Formiga não tem gastrite - anote aí.

Elas são apressadas sim, mas não histéricas. Todas as suas atividades são sincronizadas e sem desespero. Também não fazem nada “nas coxas”, até porque não as têm. Admiro-as porque trazem sempre um plano B consigo e em qualquer calamidade as coisas já estão planejadas. Ou mais ou menos planejadas. Sendo assim, nunca saem por aí se lamentando ou puxando as anteninhas.

Já notou que dificilmente a gente pega uma formiga de calças curtas? Todas elas já sabem exatamente o que fazer se, por exemplo, a simpática BO-9547 demorar a voltar ou simplesmente sucumbir em sua missão qualquer. A substituta já estará a postos com a botina brilhando, peito tufado e pronta pra tudo. Nenhuma lágrima rolará de seus olhinhos miúdos.

Claro que elas não são insensíveis! Ficam tristinhas com a perda da companheira mas não tem esse lance de luto nem de remoer tudo de novo sete dias depois. E é como eu disse: há sempre uma substituta reluzente a postos. E isso é tão verdade que em alguns casos (digo-o a título de curiosidade) a viuvez não chega a ser percebida pelo cônjuge sobrevivente. E quando é percebida... entenda: todo mundo por lá tem mais ou menos a mesma cara, então a saudade fica meio sem ambiente e acaba desistindo de encher o saco.

Os passarinhos não: são sensíveis demais, afobados, barulhentos! Quando o companheiro morre o outro não quer mais comer, revira os olhos, arranca as penas, quer se enforcar! Um saco. Além do mais eles se preocupam demais com os filhotes, que por conta dessa super proteção não se prestam para nada. São uns inúteis. Os pais passam trocentos anos construindo ninho, mais outro tanto chocando, depois saem aloprados atrás de comida e quando chegam em “casa” está lá aquele ninho de desesperados de bico aberto como se fossem morrer de fome “daquipralí”. Patético.

Formiga faz fila: passarinho faz escândalo.

Como já dissemos, os passarinhos são muito ligados a família - pelo menos enquanto os filhotes são pequenos. Depois disso o número de divórcios é significativo. Já as formigas não estão muito aí para essa coisa de família. Eu diria até que elas não formam famílias: formam exércitos! Entre as fêmeas não se encontra nenhuma Barbie: todas carregam folha e fazem plantão. E comem de tudo.

Observe novamente a BO-9547. É uma batalhadora! Você nunca vai encontra-la lendo “Capricho” nem assistindo “Rebelde”. Ela está lá é pra guerra mesmo! Formiga e formigo tem seus uniformes praticamente iguais, ao estilo Mao Tse Tung. E não tem lance de namorico, puxa-encolhe, “só-dou-amanhã” ou “juro-que-caso”. Com elas é “pá-buf”.

Estranho é que mesmo sabendo disso tudo qualquer um de nós preferiria ter um quintal repleto de pássaros neuróticos do que invadido por formigas em ordem unida treinando para o Sete de Setembro.

As formigas ocupam menos espaço, não fazem barulho e não estragam a pintura de seu carro com cocô. Por que, céus, escolher os pássaros e não a galerinha da simpática BO-9547? Mistério. Mais fácil entender as formigas e os passarinhos do que a estranha raça humana...

Cristina Faraon

19 de fev. de 2008

Grande conselho!


A postagem de hoje não tem nada a ver com Supremo Tribunal ou Suprema Corte. Não é Grande Conselho, mas "graaaande conselho!"
Estou falando mesmo de um anúncio aqui na internet que capturou minha preciosa atenção: "Conquiste bumbum, pernas e barriga perfeitos". Uau!

Claro que a Cristininha, sempre antenada com esses assuntos, digamos, "de saúde", não poderia deixar passar em branco. Cliquei rapidamente no link antes que alguém lá do outro lado tivesse a idéia de retirar o artigo do ar. Vai que "a" responsável pela publicação tenha se arrependido de dividir seu segredo com a gente e se assombrasse com a idéia horrorosa de que, daqui por diante, todas as mulheres do mundo seriam igualmente maravilhosas! Pesadelo! Pois sabendo como são as mulheres cliquei logo no tal link.

Juro que pensei que encontraria dicas salvadoras relacionadas a exercícios físicos milagrosos que, uma vez praticados com perseverança durante 15 anos pelo menos me deixariam gostosona. Ou alguma dieta novíssima... ou milenar. Sim! O segredo de Cleópatra ou algo assim. Mas não. Sabe o que tiveram a ousadia de publicar?
"Quer ter bumbum, pernas e barriga perfeitos, queridinha? Faça plástica!" Claro que não foi exatamente com essas palavras mas juro que aqui está a tradução mais fiel do espírito da coisa. Pelo menos foi assim que meu ego, ressentido, compreendeu. Meu "eguinho" está emburrado até agora.
Gente, isso é uma afronta. Estou acostumada com conselhos sobre exercícios físicos que jamais farei, cremes que jamais comprarei ou, uma vez comprados jamais usarei, ou massagens que apenas anotarei, choques elétricos, tortura, fome, tempestade de granizo ou a fúria dos deusses mas chegar assim de cara e mandar a gente fazer plástica? Pra mim funcionou como pegadinha. Até agora estou com a estranha sensação de que existe uma equipe atrás de mim às gargalhadas. Vou ao terapeuta.

Já pensou se o mesmo conselheiro resolvesse escrever sobre como conquistar um casamento perfeito? "Jogue seu marido pela janela" - ele diria. Ou quem sabe "mande o marido para a zona de rebaixamento e classifique o Ricardão para a final."

Estou contando isso para mexer com seus brios mesmo. Vai ficar aí indiferente? Não vai fazer nada? Numa hora dessas a gente precisa de amigas militantes. Acesse o link abaixo e inflame-se! Confira e proteste contra quem escreveu o artigo-pegadinha. E se você resolver fazer uma passeata, conte comigo! Até porque, como sabemos, passeatas emagrecem.

(http://beleza.terra.com.br/mulher/interna/0,,OI2142274-EI7605,00.html)


Cristina Faraon




9 de fev. de 2008

A única pergunta válida


Existem questões mais importantes no mundo feminino do que saber qual a melhor roupa, o melhor corte de cabelo ou a melhor dieta. Uma das coisas que mais atormenta as mulheres é a pergunta: ele me ama? Ele gosta de mim? Está realmente interessado?

Querida, seus problemas terminaram. Trago para você a prova mais insofismável, inatacável e indiscutível para saber se um cara está realmente interessado ou se, já estando com você, estaria realmente apaixonado.

Os homens tem um modo próprio de agir e se dão a conhecer através de pequenas atitudes. Como todos nós, aliás. O problema nesse caso é saber quais as atitudes mais significativas. Respondo: as atitude mais significativas são justamente aquelas que eles consideram insignificante e por isso nem se dão ao trabalho de fazer teatrinho.

Preste atenção: todo homem sabe que mulher gosta de elogio, gosta de se sentir gostosa e de ser presenteada. Claro que já deu para notar que é aí one eles mais capricham para aparentar sentimentos profundos e respeitáveis que justifiquem que a mulher - sejamos claros - dê pra ele.

O que isso quer dizer? Isso quer dizer que essas demonstrações de afeição ensaiadas dizem muito pouco – praticamente nada – do que se esconde no obscuro coração masculino. E é aí que mora o perigo.

Não pense você que vou aparecer aqui com teorias complicadas acompanhadas de dezenas de citações e gráfcos. Nada disso. Se fôssemos esmiuçar tudo em uma tese colheríamos apenas complicaçao inútil para alguém que, como você, tem mais o que fazer e inclusive não pode se dar ao luxo de perder a hora marcada no salão. A ordem é simplificar e não há coisa mais simples e mais ignorada do mundo do que o que direi a seguir.

Homem apaixonado telefona.
É isso.
Não, não tem mais nada, é só isso mesmo.

Não interessa se ele te leva para jantar, se te dá presentes, se te elogia dia e noite, diz que você é linda e gostosa. O cara que gosta mesmo simplesmente faz o que os homens em geral consideram o maior sacrifício o do mundo: telefonam. Prometem que vão ligar e ligam. Ou ligam sem prometer só porque deu vontade, só para dar bom dia ou convidar para lanchar no final da tarde. Ligam só pra dizer que estava pensando em você. E mais: se o elemento te ama mesmo vai acabar ligando ainda que em um momento de crise tenha jurado não o faria mais.

Você pode estar se perguntado por que uma coisa tão fácil de fazer como dar um telefonema serviria como prova de interesse, afeição, amor. Confesso que eu mesma não saberia explicar o motivo. Só sei que é assim. Por que para os homens é tão penoso telefonar? Um dia desvendarei esse mistério mas no momento me contento em constatá-lo e repassar para as amigas.

Eles não sabem que uma ligação no “dia seguinte” deixa qualquer mulher nas nuvens? Não sabem que isso significa muito para nós? Não sabem que não custa praticamente nada e que é infinitamente mais barato do que qualquer presente que pensem em nos dar? Não sabem?

Não sei se sabem, só sei que instintivamente ou não eles fogem do telefone e só ligam mesmo quando estão levando a mulher a sério. Ou quando estão muito interessados em levá-la para a cama. Enquanto durar o interesse eles continuarão ligando.

Acredite: essa é a grande prova. Não aceite outra se você não quiser quebrar a cara.

O silêncio telefônico masculino é o que há de mais veemente em matéria de mensagem silenciosa.

Ele disse com ar constrangido que não ligou porque perdeu seu telefone? Esquece o cara. Ele não ta nem aí para você.

Responda com sinceridade: você acha que se se tratasse do telefone da Daniela Cicarelli ele perderia o número ou estaria ocupado mais para ligar? Seja honesta consigo mesma. O danado seria capaz até de tatuar o número dela na testa para não esquecer!

Tolinha, homem que não telefona está gentilmente te mandando catar coquinho no bosque. Você pode até ligar cobrando ou dizendo coisas agradáveis mas tudo o que vai conseguir é servir de quebra-galho mais umas duas ou três vezes.

Parece óbvio mas as mulheres não costumam levar em conta essa pista masculina e acabam se dando mal. Pare de interrogá-lo (“você gosta mesmo de mim?”) Que saco! Os homens odeiam isso! E pare também de acusá-lo (“se você gostasse mesmo de mim faria isso ou aquilo!”) Isso não leva a nada e não alterará o seu lugar no pódio. É mais fácil você descer uns degraus e passar a integrar o rol das chatas.

Sugiro que você me leve a sério. Já vivi tempo suficiente para estudar as atitudes da macharada e chegar a esta conclusão. Não se deixe iludir por amassos, sorrisos, elogios rasgados ou presentes. A única pergunta que interessa é: ele te telefona?

Cristina Faraon

25 de jan. de 2008

Namorado novo


Meu horóscopo para hoje, colhido in loco em meu infinito particular, diz que hoje é o dia!

Minha alma pediu arrêgo aos astros que, por sua vez proclamam que hoje é o dia da preparação. Que tudo se cale e que por si se ajeite porque minha alma vai para o spa tirar férias de seu receptáculo.

Nada de explicações por hoje. Qual o sentido de procurar o sentido? O sentido é e continuará sendo o que é em algum lugar e nada eu posso contra ou a favor dele.

Não quero fazer sentido, ora bolas! Hoje abro mão disso para me internar no spa dos desnecessitados.

Para a “paz de dentro” basta calar as múltiplas vozes que nos provocam dia e noite. Pois hoje o senhor Dia e a senhora Noite também estão suspensos.

As vezes precisamos ser drásticos e exigir que os nossos “eus” sosseguem. Isso para quem tem mais de um, como eu. Há universos mais simples, mas essas coisas a gente não escolhe. Ou escolhe? Ah, depois eu penso nisso.

Quem tem mais de um “eu” sabe muito bem que eles falam tanto e argumentam entre si tão apaixonadamente que chega a ser enlouquecedor.

Meus astros dizem que não preciso me submeter a essa disputa. Decidi então que minhas portas se abrirão apenas à Tranqüilidade, que se sentará no sofá dos descuidados em frente ao quadro da criança brincado na água. Quero o sem-pressa do pão fermentando, da formação dos fetos... dos tolos talvez.

O Futuro é um vendedor chato e o Passado é um cobrador inconveniente. Os dois são cargas desnecessárias que não combinam com o astral do dia. Futuro e Passado batem à porta, fazem-se anunciar e já trazem suas pastas abarrotadas de papéis, relatórios e projeções que não me interessam nem um pouco. Pois nenhum dos dois será recebido em meu gabinete.

Depois da Tranqüilidade dar-me-ei o luxo de receber e ficar e curtir o Presente: rapaz novo com sorriso desafiador e sem nada nas mãos. Esse “sem nadinha” é a sutil insinuação de maleabilidade que me instiga. Esse despreparado, que nada sabe e tão dependente de mim... A ele imporei a minha rica experiência e ele se deixará moldar, dócil. É assim que eu o quero, porque posso e porque os astros mandaram. Vou namorar o Presente e deixa-lo bem do meu jeito.

Declaro que a partir de agora nenhuma pergunta procede. Estou feliz? Cheguei ao destino? Como está o balanço de perdas e ganhos? Ora, quem quer saber?!

As folhas se espreguiçam no ritmo de sempre e ninguém espera delas uma nova coreografia; o sol cede a si mesmo para nossas colheitas, corpos e roupas do varal; a água dança, canta e se desfaz em mimos; as nuvens continuam molinhas e fáceis de modelar. Posso e quero juntar-me a eles para ser apenas mais um fenômeno.

Isso mesmo: silêncio! Porque agora eu e o Presente nos uniremos em um único fenômeno.


Cristina Faraon

12 de jan. de 2008

O PERFUME - JULHO DE 1983




Não pensei que aquela sensação fosse possível porque não se tratava de um simples exercício de memória. Não foi um “flash” mas um grande passo além. E nesse passo retrocedi anos.

Na verdade jamais desejei, como outras pessoas, ser novamente criança. Só que quando entrei naquela sala a emoção tomou conta. Do nada, já que nada ali era bonito. Tratava-se de uma sala de madeira com a pintura já gasta. O chão, rústico. A mesa da professora, cheia de livros, era improvisada: juntaram duas mesas menores e “estamos conversados”. Havia um ventilador muito esforçado no teto, cadeirinhas azuis de fórmica com braço para escrita. Simples e comum. Simplesmente comum. O incomum estava no “algo a mais” que despertou meus sentidos como uma espécie de travesseirada emocional: na sala toda havia um cheiro indescritível de criança, caninamente farejado por mim.

Esqueça as colônias infantis. Não é disso que estou falando. Colônia de criança tem cheiro de colônia de criança. Cheiro de criança é outra coisa, mais difícil de descrever do que cheiro de carro novo. Era cheiro de coisa nova, mas que em meus sentidos parecia também cheiro de passado. Jamais confunda “cheiro de passado” com “cheiro de coisa velha”. Há um oceano de diferença.

Cheiro de álbum de fotografias manchado por perfume antigo. Depois vinham as notas de inocência fresca com cheiro de menino que comeu biscoito e acabou de ser abraçado... e mais cheiro de boneca nova, de tinta guache com chocolate, lápis de cera, chiclete, capim fresco, pão quentinho, gotinhas de suor, pele macia, tênis novo, tênis velho, hálito. Hálito de leite com maçã... maçã muito vermelha e fresca, como da Branca de Neve.

Era O Perfume. Entrei no túnel do tempo.

Ou havia algo de mágico naquilo ou amanheci esquisitamente sensível. Talvez as duas coisas.

Emocionada fiquei e caladinha, com nó na garganta. Sabe aquele aperto no coração que pede um abraço, mas uma abraço mesmo? Naquela hora eu precisava urgentemente de alguém que sentisse isso comigo. Eu precisava dividir, partilhar “essa coisa” que apertava meu peito. Poucos minutos depois as crianças, os móveis, os sons e cheiros formavam uma coisa só, um bloco, um petardo que eu percebia, desconcertada.

Até aquele dia eu ainda não havia notado o tempo passar. Estranho dar de cara com a constatação veemente do quanto eu já havia deixado de ser o que pensava que ainda fosse.

É inútil perguntar em qual momento fatídico aquele “espírito de criança” teria sido despejado de sua moradia - e com ordem de quem. Não importa. Naquele momento “ele” voltou sem velas ou mesa branca. Tive a deliciosa impressão de que aquela era a minha sala de aula, aqueles bonecos e letras sorridentes estavam ali para mim.

Ali ninguém notou que eu estava sendo travesseirada e entrando em “alfa”; veio a mim aqueles sopros do passado, aquelas coisas que eram comuns mas agora são relíquias perdidas. Sensações... o esmero em arrumar o material escolar na pasta, a alegria do uniforme novo, a impaciência para que chegasse logo a hora de ir ao colégio, os passos largos de manhãzinha, a expectativa em conhecer novos colegas, o prazer do cheirinho dos livros novos, os cadernos com a letra do hino nacional na contracapa, o cheiro da borracha, da merenda na lancheira e das colônias das outras crianças. Veio uma dor... Dor de dor, sabe como?

Claro que na carona vieram, traiçoeiramente, as lembranças doídas assim como faz a poeira na cola do vento. Lembrei então de coisas há muito esquecidas: insegurança, timidez, da incômoda sensação de feiúra, do futuro sem rosto. Cenas e cenas saltavam e se atropelavam como se tivessem sido espremidas durante anos e agora, eufóricas, queriam ser novamente percebidas.

Já que aquela menina do passado não era mais eu, senti um grande carinho por ela, que me pareceu tão desamparada. Não sei por que. Coisa assim, de mãe para filha. Desejei abraça-la e sei, sei mesmo que ela desejou muito ser abraçada por mim. E por mais isso chorei.

Chorei pra dentro, engolindo em seco. Quem entenderia essa emoção ali, numa reunião de pais e mestres? Eu estava sozinha nessa viagem. Eu e meu segundo bebê, na barriga.

Dali em diante é que incorporei o costume seguir meu caminho espiando o passado vez por outra no retrovisor.

Segurei a onda. Fui para casa com meu lindo barrigão. Não lembro de nada do que foi tratado naquela reunião. Só sei dizer que aquela foi a primeira vez na vida que tive saudade de meu tempo de criança.
Cristina Faraon

9 de jan. de 2008

O luminar



Sempre amei essa pintura. A Criação de Adão - Michelangelo. Vejo nela tanto significado! Em várias ocasiões já fiz comentários a seu respeito, as vezes até com emoção.

Acho belíssima a idéia de que Deus tornou possível o contato com os humanos. Ele estendeu a mão para nós e a partir daí passamos a desejar para sempre o sublime, o eterno, o mistério. Fomos feitos “alma vivente”, usando a linguagem bíblica. Capazes de apreciar o belo, nos emocionarmos, amar.

O toque, o sopro de vida, o acesso ao transcendente...

Acontece que de uns tempos para cá a minha alma está mais para o lado daqui do que para o lado de lá. Mais pra baixo do que para cima. Tenho até vergonha de contar, mas não me contenho e solto o verbo.

Contraditoriamente essa pintura também foi por muito tempo a prova inconteste da minha baixeza animal, primária e rude. Em épocas mais elevadas o que me chamava mais a atenção eram os dedos humano e divino se tocando, numa metáfora belíssima que você já sacou, então não vou explicar.

A verdade é que hoje a conversa é outra. A primeira coisa que enxergo é... o pinto do Adão. Olho para um lado e para outro, vejo se ninguém está me observando e fixo o olhar teimoso no pintinho dorminhoco.

A questão: onde estava o pintor com a cabeça quando resolveu colocar no quadro a imagem desse homão inocente pagando mico diante de multidões? Sim, pagando mico! Por que será que ele fez isso? Por que não arrastou o pincel mais um pouquinho? Não custava nada!
Era para ser maior. Tinha que ser maior. Por que não é maior? Claro que o problema (sim, eu disse “problema”) não foi falta de tinta nem de espaço na tela.

O assunto é sério e clama por reflexão. Aceitemos o desafio.

Primeiro necessário se faz excluir intenção de comicidade do trabalho de Michelangelo. Qualquer um nota que o quadro chega a ser grandiloqüente em sua proposta. Então qual o enigma do pinto mindinho deitado eternamente em coxas esplendidas? Jaz distraído e inocente provavelmente ao som de trombetas e à luz do céu profundo.

Queria o pintor eliminar o efeito erótico de seu trabalho? Se assim fosse, nada mais fácil do que esconder-lhe os “documentos” debaixo de um lençol esvoaçante, tão em moda na época. Mas não! Ele dispensou o lençol e fez questão de que nos deparássemos com essa curiosidade anatômica. Veremos que ele tinha seus motivos.

Observe que Adão não está encabulado mas parece muito a vontade, despreocupado e recém acordado de um profundo sono sem sonhos. Claro, porque o HD dele ainda estava vazio.
Um homem com mais de um metro e oitenta e pesando em torno de noventa quilos precisava ser mais bem dotado. E mais: não tem barba nem pelo algum pelo corpo. É o retrato da inocência segundo Michelangelo.

Tcham! Foi aí, em meio a essas considerações especulativas que uma luz brilhou. Eureca! Era essa a intenção do pintor: confirmar o livro de Gênesis! Esse quadro é o Credo de Michelangelo.
Claro que você está louco para me perguntar como um pinto pode ter tanto a dizer à humanidade. Pois lhe digo que esse pinto-Credo carrega em si um enorme significado, inversamente proporcional ao seu tamanho.

Viu como tamanho não é documento?

Note que Adão não está em posição de reverência contrita. Pelo contrário: a pintura mostra a inocência, a paz e o desassombro da raça humana antes de pecar. A tranqüilidade até infantil de Adão diante do Criador é tocante. Mais tocante ainda é a facilidade com que o alcança - apenas esticando o braço.

Qual a lição? Tome nota: para “alcançar Deus” deveríamos, metaforicamente, ter o pinto de uma criança. Sacou a sutileza? Lembra quando Jesus falou que quem não se tornasse como uma criança de modo algum entraria no Reino dos Céus? Pois então!

Pode olhar a vontade que Adão não está nem aí. Meçam, cochichem, dêem risinhos... Adão leve e elevado, Adão pelado na nuvem ignorando por completo a existência da fita métrica e das multidões que perambulam pelo museu. Deitadinho como um bebê que não sabe que é jovem, bonito, fofo e dá vontade de apertar. E note mais um detalhe: ele faz um gesto característico dos bebês: esticar o braço, estender a mãozinha, querer contato.
Chamo ainda a sua atenção para o fato de bebê recém-nascido não tem senso de distância. Ele apenas vê e estica o bracinho como se tudo fosse possível. Aí também existe uma importante lição: para alcançar Deus isso deve nos parecer perfeitamente possível, bastando que estiquemos o bracinho. Não é lindo? Olhe que amor Adão completamente entretido com o Criador e sentindo no fundo de sua alminha clara que aquele ali flutuando no céu é o seu papai. Nada a declarar, nada a esconder. Na maior moral: peladão e aceito pelo Altíssimo.

Desçamos.

Agora, já com a cabeça erguida, volto-me mais uma para vez para “o centro” desse quadro: o pinto do Adão, que doravante pode ser considerado parte indissociável de todas as religiões, a chave primeira para quem quiser chegar ao transcedente. Não mais um objeto sexual. Não um brinquedo lascivo, não um troço de fazer bebês e subjugar (deliciosamente, diga-se de passagem) as mulheres. Não, meus amigos!

Agora, de cabeça erguida (a minha cabeça!) posso e devo encarar com coragem e emoção essa seta que nos aponta o caminho. Sim, essa é a abordagem correta. Posso agora, sem constrangimento, considerar sua aparência, calcular seu peso, tamanho e textura e mesmo assim estar fazendo um exercício intelectua/religioso/filosófico.

Imaginem vocês quantas pessoas “passaram batido” sem perceberem o tanto de sabedoria contida nesse respeitável membro que, reverentemente observado, coloca o expectador já com um pé na espiritualidade.

Só mesmo um gênio como Michelangelo poderia explorar todo o poder magnetizante dessa imagem, ainda que murchinha.

Essa tela é a muda pregação para a qual a humanidade precisa dar atenção. Devemos prestar a esse pinto o melhor de nossas considerações e coloca-lo, de uma vez por todas, no lugar onde sempre deveria ter estado: no centro. Não no meu! Digo no centro das nossas mais elevadas reflexões!

Cristina Faraon

1 de jan. de 2008

Cristina Lee

Pois é: a cantora Rita Lee está fazendo sessenta anos. Ponto pra ela, que não está nem aí para esconder a idade - ao contrário da jornalista Glória Maria que não mostraria a certidão de nascimento nem diante do caldeirão da inquisição.

Acho um barato mulher que não esconde a idade. Detalhe: eu não sou um barato.

Dizer na lata "eu tenho sessenta anos" é lance de gente bem resolvida e segura de si. Viveu, curtiu, continua vivendo e curtindo e não se sente devedora de nada para ela mesma nem para ninguém. "Me acha velha? O que te leva a pensar que eu deveria me importar com sua impressão a meu respeito? Não estou a fim de você pra nada. Por que cargas d'água você acha que ter sessenta anos deveria representar algum tipo de constrangimento para mim? Eu hein! Vá elogiar garotas de 19 anos, que elas são as que mais precisam disso. Aproveite e dê uma forcinha às coroas inseguras. Tô em outra, meu bem."

Quando a pessoa esconde a idade depõe contra si mesma. É como se não se sentisse bem no próprio couro. Como se houvesse algo desconfortável espetando, repuxando, sei lá.

Um dia serei Cristina Lee. Acreditem que já melhorei muito. Primeiro porque não adianta: se você não diz a idade o espírito de porco que perguntou vai entrevistar seus filhos, fazer contas... É mais digno que o energúmeno saiba por sua própria boca. O segundo motivo é que... Qual é o segundo motivo mesmo?

Hoje, com o espírito mais evoluído, você já pode me perguntar tranquilamente minha idade que, dependendo da posição dos astros e do estado do meu fígado, responderei de uma das maneiras abaixo:

1- Não interessa (resposta já utilizada)
2- Não quero dizer (resposta preferida)
3- Pra quê você quer saber? (uso frequente)
4- Tenho menos que você, com certeza; (resposta deliciosa.)
5- Vá levantar essa informação em meus assentamentos funcionais (essa eu já disse para alguns colegas - e adorei.)
6- Quarenta e uns (só quando estou muito de bem com a vida)
7- Ô falta de educação! Mas lá vai: minha idade é... (sacou o lance? Satisfaço a curiosidade da pessoa ao mesmo tempo em que me vingo com uma estocada.)
8- Minha idade é... (essa é só quando me acordo esfuziante, sentindo-me maravilhosa e coincide de eu ir com a cara do interlocutor. Sinto que esta resposta tem tudo para se tornar a mais frequente em pouco tempo.)


Obs: Acabei de pesquisar o significado da palavra "energúmeno"
(www.kinghost.com.br/dicionario) e tomei um susto. Não sabia que queria dizer "endemoninhado, possesso, violento, fanático. / Pessoa exaltada, que fala, gesticula com veemência." Nossa! Em assim sendo, declaro:


A todos vós que perguntais minha idade, eis que vos digo:
sois certamente mal educados, mas jamais uns energúmenos!

(http://musica.terra.com.br/interna/0,,OI2188307-EI1267,00.html )



Cristina Faraon

31 de dez. de 2007

Lero-lero pra 2008

É ou não é uma ironia? A cada ano novo todos nos tornamos mais velhos.

Então comemoramos o quê nessas "viradas de ano" (credo!)?
Acho que comemoramos a deliciosa fantasia da "página em branco", limpinha, para começarmos tudo de novo. Nova chance, Deus zerando o nosso counter... O passado morreu e ninguem se lembra mais "daquilo".

Quem dera, né? Mas vá lá. Sem fantasia o que sobra da vida? Sobra mesmo muita coisa, mas não é o recheio, com certeza.

Sem fantasia sobra o alface, a beterraba, o peito de frango grelhado e umas bolotas de soja. Tudo com pouco sal. Faz um beeeeem!

Em 2008, criemos todos juízo. E se isso nos tornar menos interessantes, repensemos a mudança. Se der, jogue fora a fantasia e se torne um esbelto emocional. Seja um exemplo mas tente fazer isso sem ser chato. Se você você se tornar chato, volte correndo à lixeira e vista tudo de novo. Depois a gente pensa juntos em um jeito mais simpático de crescermos em 2008.

É isso aí. Por enquanto.

23 de dez. de 2007

A visita


Ela entrou pela porta da frente. Como? Até hoje não sei.

Em meio a tantas outras visitas ela simplesmente fez-se uma a mais. Misturou-se, veio junto e até fez amizades. Como encontrou nosso endereço?

Dona Dor é aquela visita incômoda que vai adquirindo direitos e por fim, conquista um espaço só seu dentro da casa. Querendo ou não ela passa a influenciar nas decisões do lar, acompanha a família às festas, ajeita a cortina, remenda a almofada, rouba flores de velório para decorar a casa... E não é que fica lindo?

Nem todas as vezes fica para dormir mas só vai embora tarde da noite. Bem tarde. É verdade que as vezes desaparece por uns tempos mas sempre volta. Geralmente quando já esquecemos dela.

Dona Dor nem sempre dá explicações. As vezes dá a entender que fomos nós quem a convidamos. Outras vezes diz que a casa é dela... ou que veio porque fomos nós que deixamos a porta aberta e ela se sentiu convidada. Ela suporta nossas perguntas mas não se anima em dar respostas. E quando dá, se contradiz em seguida. Ela adora contradizer-se. Ah como se diverte com isso!

Não se engane: não importa quanto tempo passe mas ela voltará. Sempre volta e cada vez em intervalos de tempo menores.

Dona Dor sempre nos ajuda com a decoração. Parece pouco mas quando falta, faz falta. Dona Dor sabe enfeitar o "ininfeitável" e decorar o "indecorável". Arranja beleza não sei como e a gente sempre se pergunta onde teria adquirido tanto bom gosto.

Nunca sabemos quando vai embora. As vezes parece que não vai nunca. Outras vezes sai pela porta da mesma forma sorrateira como entrou. Ela sempre nos incomoda: quando vem e quando vai. Indo ou vindo ela é o que é.

Quando chega sempre arranja um canto para ficar. Quando permanece incomoda. Quando vai... Não é bom nem ruim: é apenas estranho.

Fica um espaço quando parte. Se não colocarmos nada em seu lugar, ela volta. Precisamos arranjar rapidamente um vaso de flor, uma poltrona, uma luminária. Dona Dor não resiste a espaços vazios.

Claro que não a queremos de volta mas temos que admitir que sem ela nunca mais teremos aqueles arranjos de flores...

Cristina Faraon

15 de dez. de 2007

Confraternizações e piscinas

Ainda no clima de dezembro:

Fico pensando se esse tanto de confraternização de final de ano expressa algum tipo de alegria real... Acho que a pergunta procede porque não é possível que não reflitamos sobre os fenômenos sociais que nos acomentem (nossa! Sempre quis usar uma frase assim. Gostou?)

Se não é felicidade em estado bruto (e põe bruto nisso!) talvez esteja mais mais para busca. Ou quem sabe não passe de um "vai-na-valsa" que ninguém entende muito bem mas adere assim mesmo. E depois do quinto chope, o que importa?

Não pensem que escolhi o ano de 2007 para implicar com tudo. Sou apenas uma pensadora - "atividade" muito valorizada na antiguidade, fique você sabendo.

Ontem fui à milésia confraternização. Abre parêntesis: foi a minha vez de cair no conto do Amigo Invisível. Comprei um presente de O Boticário e ganhei em troca um pacotinho beeem pequeno. Torci para que fosse um baton de qualidade mas logo me desapontei. Adivinhem! Acertou! Era um frasquinho de "reparador de pontas" (pontas de cabelo!) - produto que não deve ter custado nem cinco reais. Não me considero uma pessoa mesquinha, mas ontem doeu... Fecha parêntesis.

Pois bem: havia no local um grupo tão animado, mas tão animado que minha reação oscilava entre inveja e medo. Era sobressaltada vez por outra por gritos, exclamações incompreensíveis, uivos, pulos... E para aliviar as tensões, palavrões eram pronunciados com candura tal que chegava a enternecer a alma mais empedernida. Tudo dentro do mais legítimo Espírito Natalino. Eu acho. Se não for o tal, não sei bem a que atribuir aquelas manifestações paranormais.

Não me atrevi a por a culpa em Jesus Cristo.

Pois é: de lá para cá fiquei a me perguntar qual seria o motivo de tanta empolgação. Por que agiam assim, Santo Deus, tão fora dos padrões do dia-a-dia? Não tinham dívidas? Doenças? Chifres? Ninguém estava com o emprego por um fio? Ninguém se sentia só, com cólica ou calo?

Interessante como as pessoas atendem placidamente a voz de comando de cada época do ano. Finados: hora de chorar; Dia dos Namorados: hora de se comportar romanticamente; Natal: agora é pra ficar emotivo viu, galera? E valorizar a família. Carnaval: soltar a franga (entenda-se: "dar pra todo mundo") e por aí vai.

Em termos de "fenômeno provocador de felicidade", depois das confraternizações o que vem em segundo lugar com certeza são as piscinas domésticas. De clube não vale.

Dinheiro não traz felicidade mas piscina sim.

Explico: onde moro pude comprovar que nas casas onde existe piscina a felicidade está garantida. Aos finais de semana, pelo menos. É uma coisa mágica!

Piscina em casa é sinônimo de ajuntamento de crianças saudáveis comemorando com alegria desesperada o próprio existir. Lindo! Na vizinhança ninguém dorme, estuda ou faz oração: todos se tornam platéia para "aquilo". É como nas confraternizações: gritos, risadas descontroladas, música, disposição para continuar indefinidamente, abraços, comida, palavrões, bebida...

Gente, se eu soubesse que piscina trazia tanta felicidade nem teria comprado carro ou mobiliado a casa. Estou revendo meus conceitos...

Se você não tem piscina em casa é digno de pena. Mas como Deus é pai você pode, todos os finais do ano, ter acesso ao seu quinhão de alegria garantido pela infinidade de confraternizações da época.

Só advirto que tome cuidado com um certo "Amigo Invisível" (ou "O Tenebroso") que anda assombrando por aí. É fácil reconhece-lo: é um Papai Noel às avessas. Além de te desapontar, vai te encher de dívidas.

Legal, né?

Cristina Faraon

REALIDADES BRASILEIRAS