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27 de dez. de 2013

Cadê o Natal? *



Já passou. E esqueci de postar um texto condizente. Mas não tem problema.

Tomara que seu Natal tenha sido desses que a gente lembra pra sempre, do tipo bom demais, que quando a gente vê as fotos fica emocionado.

Se não foi, ainda dá tempo de salvar as festividades caprichando no Ano Novo.

Acho que a avaliação é uma coisa muito boa, mas se for séria demais pode pesar. Se for pra te deixar deprê, não recapitule nada do ano que passou. Jogue tudo na lata de lixo e apenas comece de novo, com a cara mais lépida. Dê uma de João-sem-braço, cara dura, não-é-nem-comigo.

Comemore a entrada do novo ano como se sua vida estivesse sendo passada a limpo sem nenhuma mancadinha para corar. Acho que essa é a melhor dica para essa última festividade do ano: nós nos convencermos de que o que passou, passou e não há mais nada a ser questionado, cobrado ou lamentado. Eu e você somos uns bebezões que estão prestes a  pisar no planeta pela primeira vez agora, em 01/01/2014. Não era isso mesmo tudo o que mais queríamos? Uma segunda chance! Pois ei-la!

Você está recomeçando do zero e quem pode vir lhe contradizer afirmando que não é bem assim? Seu mundo quem faz é você. Então,

Feliz TUDO NOVO!

26 de dez. de 2013

Desçamos

Você, que discorda de mim: ainda assim estamos no mesmo planeta e não podemos fugir para um lugar azul onde todos concordem conosco.

Verdade: somos tão sensatos e cobertos de razão! Seria maravilhoso se isso nos ajudasse em alguma coisa.

Minha visão é nítida, meu fio de raciocínio segue reto, exato. Uma beleza. Parece que o mesmo ocorre com você. Era, então, para nos encontrarmos na estrada ou, pelo menos, no final da linha. Então como nos desencontramos? O quê saiu errado?

Como dizem, somos todos serem muito solitários. Tanto você quanto eu estamos sozinhos no planeta. Você sabe muito bem disso quando sente medo, solidão, quando está doente. Quando comete erros, quando se sente ridículo, quando queria conversar com alguém. Nossa fragilidade é um bom motivo para caminharmos um em direção ao outro, mas... Não te cedo minha verdade nem você me cede a sua.  Então vai ser assim: continuaremos habitando o mesmo planeta, mas com o coração gradeado?

Todos nos agarramos às nossas verdades mesmo desconfiando um pouco delas.  A gente não mete muito a mão no fogo. Mas, engraçado: metemos a alma.  Seguramos esses farrapos feito loucos como se disso dependesse a nossa vida. Pobrezinhos de nós! Tudo o que temos é a verdade que tecemos, fio por fio. Pensamos que não dá pra abrir mão porque é tudo o que nos sobrou. Achamos que precisamos dessas coisas.

Só que precisamos muito mais uns dos outros. E como! Queríamos nos deixar abraçar, tocar, esbarrar. É um alívio quando, no escuro, descobrimos que não estamos sós. Mesmo que a companhia seja igualmente medrosa, ainda assim é um alento. Desejamos, queremos, precisamos. Estenderíamos as mãos desde que...  Desde que não fosse contra as nossas verdades. Não é triste?

A você, teimoso e chato, que pensa diferente de mim,
A você, querido equivocado,
Estendo minhas mãos em um pedido de amizade.
Vem comigo!

Vamos combinar ficar juntos. Enquanto o sol se põe, lá da base do firmamento sobe a noite. Não sejamos tolos!  Sentemos lado a lado, aceitemo-nos um ao outro como companhia. A vida é menos assustadora assim. Por mais que tenhamos razão, nada é mais sagrado do que estarmos lado a lado, simplesmente. É disso que o coração se alimenta.

Então desçamos do alto das nossas razões para sermos só humanos, só simples. Pegue a minha mão.

22 de dez. de 2013

Santificação

Decididamente: o processo de envelhecimento era para ser um processo de santificação. Não tenho dúvidas que o plano tenha sido este.

Quanto mais velhos, melhores deveríamos nos tornar. Era para aprendermos, depois de tantos erros, que o mal se volta contra quem o pratica, que não devemos cuspir pra cima, que ninguém é melhor do que ninguém, todos merecem respeito, quem dá amor não sente falta de amor, não dá pra ser livre e viciado ao mesmo tempo, futilidade não vale a pena, ninguém precisa de inimigos, e por aí vai. Era para cada velho ser um anjo ou, pelo menos, um exemplar do Sábio da Montanha.

Não entendo. Sempre tive a secreta esperança de que a velhice me levaria um estágio interessante de desenvolvimento, algo que me proporcionasse um certo "céu interior". É verdade que já fui pior mas na minha idade eu imaginei que estaria melhor.

Sonhei que eu seria desvencilhada de todas as vaidade e desejos tolos. Algo como balões de gás desamarrados das pedrinhas, podendo voar libres, leves e soltos.  com o tempo eu me livraria das cangalhas que a vida pendura em nossos pescoços.  Só que quando vejo velhos chatos, amargurados, preconceituosos, cruéis, adoecidos  de alma, solidificados em preconceitos, manhosos, ciumentos, orgulhosos, punitivos - quando vejo tudo isso desanimo.

Quem me garante que me tornearei uma pessoa melhor?  E se eu me flagrar uma velhinha insuportável? E se eu não conseguir apender mais nada de relevante nessa vida?

A bem-aventurança seria o grande prêmio que nos compensaria pelas pelancas. Seria a prova de que imperfeições físicas não conspiram contra a felicidade.

Mas não estive de todo enganada. Embora a virtude não seja inevitável, ainda assim pode ser escolhida como destino viável.  O tipo de pessoa que serei na idade avançada depende da postura interior que eu escolher agora. Depende dos valores que eu abraçar, "do ônibus que eu pegar". Não posso pegar um ônibus que vai para Curitiba esperando desembarcar e Fernando de Noronha.

Com isso tudo em mente sou levada a lembrar de toda a antiga doutrina de Céu e Inferno. Faz sentido. Em um espaço de tempo muito curto - oitenta anos de vida - já é possível ver o resultado das nossas escolhas do passado. Imagine isso em termos de eternidade!

Deus não faz um idoso se tornar chato para castigá-lo por mau comportamento na juventude. Se ele se torna amargo é porque decidiu abrigar dentro de si mil coisas que azedaram. Ele mesmo se colocou naquele caminho. Nada de "castigo", só causa e efeito.




21 de dez. de 2013

18 de dez. de 2013

Porém


Gosto de mim bem sozinha
Gosto de mim bem sem ti
Disseram que a pele minha
É doce, marrom, sapoti.

De mim já disseram tanto
Que nem posso me importar
Quem falar decerto é santo
Não me deixo indignar.

Disseram que sou uma estranha
Que exige muito e mais
E mereço a dor tamanha
Que me lança contra o cais.

E sou um ente insaciável
Que oscila em seu querer
Tenho alma torpe, instável,
 E só penso em ter e ser.

Esquecem que sou boazinha
Quando deito perfumada
Nos lençóis azuis de lua;

Esquecem que sou tão solícita
Sei ser bem suave-explícita
E me quero toda nua!

Cristina Faraon

14 de dez. de 2013

Você não está de saco cheio


Quando acaba o suco, não há dúvidas: o suco acabou. O mesmo "fenômeno" ocorre com o creme dental, o desodorante, os fósforos, a água.  Terminou? Então é sinal de que chegou ao fim. Por quê tudo na vida não é assim?

Os relacionamentos, por exemplo, deveriam  vir com um contador. Poucas são as pessoas que se dão conta, na hora certa, de que o que acabou, acabou. Triste vê-las aflitas "espremendo o tubo".

Mas será que existe um aferidor de "final das coisas"? Um teste infalível? Infalível eu não digo, mas há pistas fortíssimas. Observe:

1- A coisa acabou quando você não tem mais disposição para aquelas fantasias de como tudo seria lindo se desse certo. Quando uma situação não é mais divertida nem na fantasia, já era.

2- Quando você pensa na situação e ao invés de sentir um impulso de consertar as coisas você simplesmente não sente impulso de nada. Acabaram-se os impulsos. Antes do fim vem o bloqueio.

3-  Outro sinal é quando você não tem mais energia para explicar o motivo do fim nem para você mesmo nem para os outros. O motivo, que lhe era tão caro no passado, não vale mais nada agora. Pouco importa o porquê. Você não precisa mais de motivos.

Quanto aos amigos que apregoam por aí que já estão "de saco cheio!"  vou dizer uma coisa: pelas minhas contas você está apto a aguentar mais 70%  de perturbação - pelo menos.  Uma evidência de que isso é verdade: todos nós temos amigos de saco cheio que nos enchem o saco. Mesmo assim continuamos com eles.

Anunciar que não aguenta mais é o mesmo que dizer o seu contrário.  Quem não aguenta mesmo não tem mais paciência nem para anunciar: simplesmente cai fora. Pra mim  "Eu tô de saco cheio" é um pedido de ajuda disfarçado e uma evidência de que ainda não acabou.

Por falar em "contador" para os relacionamentos, esse é um deles. Quando a pessoa que está com você disser que já está com o saco cheio da sua pessoa, é sinal de que se você mudar o trem ainda pode engrenar. Dica quente.

A morte é o silêncio.


9 de dez. de 2013

Como se não houvesse amanhã

Não sei se é mesmo necessário amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Estou agora pensando na dor indescritível de amar as pessoas desse jeito, sem ver à frente outra chance de estar com elas, sorrir de novo, ouvir a voz, dar um presente.

Abraçar sempre pela ultima vez... e ter mil vezes o coração partido. Ficar em suspense a cada tchau, ver o mundo desmoronar quando a silhueta se pede na esquina.

Dizem que os bebês não entendem o que é "depois". Eles custam muito a compreender que quando a mãe sai de casa, vai voltar. Eles não sabem nada disso, só sabem do agora. Parte o coração ver os bebês "perderem" as mães tantas vezes. Mil lutos. Pobrezinhos.

Os bebês amam as mães como se não houvesse amanhã.

Como será lançar todos os dias, sobre o ser amado, aquele olhar pesado, cheio de saudades? Ter na garganta um adeus eterno...  Só quem sabe que não haverá amanhâ é quem fica. Quem parte, vai com aquela leveza tocante dos inocentes.

Nada é mais doce que a ilusão da eternidade. Eu não quero te amar como se não houvesse amanha. Meu coração não aguenta.




24 de nov. de 2013

Eu, muda

Pois aqui vai mais uma das minhas aflições: não é possível escrever como quero, o que quero. Olho em redor e vejo mil coisas que mexem comigo. Sinto ímpeto de expressar, mas não consigo!

Minhas palavras, traidoras, não se mantém fiéis aos meus sentimentos. Eles insistem em caminhar em outra direção, como aqueles carrinhos de supermercado com rodas empenadas. Sinto-me como se fosse muda, mas estivesse louca para me comunicar.

É certo que o mudo pode se comunicar, mas o faz de forma limitada. Penso que gestos não expressam tudo. A entonação da voz faz parte da comunicação. E a ironia, como expressá-la? E as figuras de linguagem? O duplo sentido? É, gestos são insuficientes.

Pois eu escrevo por gestos. Quanto mais escrevo, mais me sinto muda. 

Um dia peguei um velho livro... Ah, o escritor tem lá seus os seus segredos. Eles detém a mágica, o poder inimitável. Leio ... e lá estão descrições magnificas que jamais consegui fazer.  Tudo exato e límpido, claro e compreensível. Aparentemente tão fácil! Lá está, no livro que não escrevi, a prova incontestável da minha limitação.  Eu só queria ser fiel a mim mesma. Mas esbarro na desconcertante "mudez literária".

Um livro tem o poder de abduzir.  

Hoje a tarde esteve maravilhosamente clara, amarela e quente. Só sei dizer isso do jeito que disse, mas o que  sinto é muito maior!  Ontem, por exemplo, me emocionei com musicas lindas. Fui abordada por melancolias que pediam, cheias de aflição, para virarem palavras pelo amor de Deus. Não pude ajudá-las. 

Não sei por quê meu pensamentos insistem em virar palavras escritas. Por quê não se contentam em ficar onde estão? Meu cérebro não é um lugar confortável? Não sei por que me aflijo tentando falar o que não sei falar. Escrever, para mim, é uma necessidade e eu o faço, só que nunca fico aliviada. Bebo água e continuo com sede.

Queria transmitir a você a sensação calma desse cair de noite.  Queria te fazer sentir a mesma comoção de quando vejo a estradinha de terra, o caminho de pedras, o susto das formigas quando passo porto. Quando olho a casa do sítio lá de longe me vêm idéias de casarões antigos, matronas, moinhos, tachos de doce, vovós, cadeiras de balanço.  Queria passar pra você os mesmos sentimentos ternos que experimento. Não quero sentir tanta coisa sozinha!  Mas como, sem as palavras certas?  Quero te afligir com as belezas que me tocam, com as ternuras que me vêm de assalto, disparam meu coração e depois vão embora porque eram maiores do que eu mesma.

O laguinho é lindo e risonho durante o dia mas muda de expressão quando anoitece. É como se perdesse a inocência e se divertisse em criar suspense. Cobre-se de véu, joga um ar fatal, quase malvado, mas é tudo de brincadeira. Centenas de bichinhos nos assistem de longe e vêem nossos olhos tão mais abertos. Tudo ri.

Queria que você visse, mas visse pelas minhas palavras. Queria capturar você! Depois devolve-lo ao mundo comum trazendo consigo um pedaço meu.


21 de nov. de 2013

Momentos

... E todos os dias felizes ficam assim, meio guardados, meio nebulosos. Mas ficam. Lembrados, mas imprecisos. Nem todos os rostos são reconhecíveis. Detalhes certos num todo incerto...
As coisas mais banais viram um pequeno filme ou um belo quadro.

15 de nov. de 2013

O nojo *

"Por quê você se incomoda com isso? Não tem nada a ver com você. Cuide da sua vida!" 

Há, hoje em dia, uma unanimidade muito suspeita: a certeza, baseada em pouco ou nada, de que não há sentido algum em nos incomodarmos com o que acontece com a pessoa ao lado.  As pessoas pensam: "Não tem nada a ver comigo, não me afeta". O raciocínio correto deveria ser:  "Aparentemente não tem nada a ver comigo, mas se me atinge é porque, talvez tenha alguma relação." Ou: "Será mesmo que não tem nada a ver comigo? Só eu me sinto incomodado ou existe uma generalidade de pessoas que reage da mesma forma que eu? São todos loucos ou a humanidade está, misteriosamente, interligada?"

Estranho, mas estranho mesmo, é alguém achar que deveríamos ajudar o próximo movidos por teorias lógicas. Teoria lógica não tira ninguém do sofá. O que move a raça humana é a força inexplicável, a emoção sem sentido aparente, que nasce na boca do estômago, dá nó na garganta e às vezes rega os olhos. Talvez não seja muito inteligente tentar explicar o inexplicável, mas abolir das nossas considerações o inexplicável, aí já é insano!

Respeito muito "aquela coisa" que mexe com a gente, que nos toma e nos leva a fazer coisas que nossa mente não assimila. O amor, por exemplo, é assim. 

Se só existisse o que eu sei explicar, já estaria mais do que na hora de desaparecerem do mundo as aeronaves e os celulares. 

Dizer que "não tem nada a ver comigo" a gente diz, mas é coisa de quem não reflete. Não dá para ligar e desligar a natureza humana ao comando do "politicamente correto". Quando querem, temos que ser solidários e entender que o que acontece com o outro me afeta e é da minha conta. Daí a pouco reajo a uma atitude alheia e vem alguém bradar que não  é da minha conta, que eu tenho que cuidar da minha vida e que aquilo não deveria me afetar em nada. Por quê?

Pra começar: "não deveria afetar " é muito diferente de "não afeta". Estou lembrando agora de um dentista com o qual eu me consultava. Certa vez cheguei com ele dizendo que um dente meu, que já havia sido tratado o canal, estava doendo. Aí ele me reponde que "mas não era para doer! "  Ora bolas, como "não era" pra doer? A teoria dele não poderia se sobrepor aos fatos! Ele que tratasse de investigar por quê estava doendo, mas me advertir de que não podia doer era maluquice.

Uma sociedade como a nossa, metida a questionar tudo, deveria honrar o título de questionadora e se fazer algumas perguntas: 

1- Se estou sentada em frente de alguém que não pára de arrancar os próprios cabelos, aquilo me incomoda. Eu deveria ser criticada por isso, por um sentir tão próprio dos humanos? 

2- Você já viu algum quadro torto, pendurado em alguma parede? Aposto que seu primeiro impulso foi querer ajeitá-lo. Você pode não tem consertado o quadro, mas desejou fazê-lo. Pergunto: você se preocupou com seu próprio sentimento em relação a isso? Achou que fosse alguma anomalia?  

3- Mastigar a comida com a boca aberta, mostrando para os outros os alimentos triturados e encharcados de saliva, é falta de educação. Incomoda os outros. Não adianta dizer que não incomoda ou que "não era para incomodar!" (como aquele dentista) . "Comer de boca aberta" é falta de educação porque comprovadamente incomoda. Ninguém ensina os outros a comer de boca aberta porque o incômodo alheio é uma aberração. A regra de educação foi criada em respeito aos sentimentos humanos que EXISTEM. 

Hoje em dia estamos sendo bombardeados com um ensinamento contrário: aberração são os outros, que estranhamente se incomodam quando alguém come meleca, arranca os próprios cabelos, pendura quadro torto na parede, arrota em alto volume, chupa o dente, escarra toda hora...  Hoje em dia a ordem é: faça tudo isso e crucifique quem se agonia.

Não estou advogando que daqui por diante a gente tenha o poder de interferir nas preferências alheias. Não!  Cada um faz o que quer, mas não venha dizer que estou errada por reagir instintivamente. Posso não ter - e não tenho - o direito de consertar o quadro dos outros, mas tenho o direito de não ser chamada de louca por sentir vontade de fazê-lo. Não tenho o direito de proibir alguém de comer meleca, mas não me recriminem se eu saio da sala para não presenciar. Não façam campanha contra aqueles que sentem nojo. 

Você já ouviu falar em EMPATIA?  É a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.

Doente não é quem sente, mas quem não tem capacidade para sentir empatia. Sabia que os que não tem capacidade emocional para sentir empatia são chamados PSICOPATAS? Doente é quem jamais é afetado pelos outros, jamais se aflige com dor ou nojo ou qualquer coisa assim.

Como o meu emocional é saudável, tenho capacidade de - mesmo sem querer! - me colocar no lugar do outro e me imaginar naquela situação. Posso então gostar, sorrir, ou sentir repugnância,  por exemplo. 

Por mais que a estranha mania de uma pessoa lhe seja agradável - como arrancar os próprios cabelos - meus instintos se insurgem contra aquilo. Fazer o quê? Naturalmente minha mente me coloca naquela situação de agonia. Se é um filho que faz isso, posso até dizer "pára com isso, menino!"  mas se é um estranho terei de optar por sair de perto. 

Hoje em dia somos criticados quando saímos de perto. Querem que sejamos uma porta.

Precisamos entender, de uma vez por todas que EMPATIA não tem nada a ver com "se meter na vida dos outros"

Por outro lado, esquecendo um pouco a empatia, tenho a dizer que nós desconhecemos as energias que movem e alimentam o mundo e que interligam todo ser vivo (já ouvi teorias interessantes sobre isso). 

Desconhecemos, igualmente, como funciona a tal "memória genética" que carregamos. Aliás, só recentemente esse termo  - "memória genética" - passou a fazer parte do nosso vocabulário. Minha memória genética, através de minhas reações, tenta se comunicar comigo e me dizer coisas  que, decididamente, não entendo. 

Nem todos as informações registradas por civilizações antigas já foram decifradas. Ainda há muito mistério por aí, mas nenhum estudioso sério iria propor que relíquias de milênios fossem jogadas fora só porque ninguém entende. 

Nossos instintos, mesmo os mais estranhos, guardam segredos. Sempre querem apontar para alguma coisa relevante. 

Por fim:

Estamos todos interligados - é o que também quero dizer. Tudo o que acontece a um afeta o outro, é tudo uma energia só. Como? NÃO SEI. Isso acontece de um modo misterioso e de uma forma que nos escapa à percepção.  

Minha tese: o que incomoda pode ter a ver comigo sim. Quer eu entenda quer não, quer admita quer não, quer seja politicamente correto quer não. Se uma prática nos repugna, podemos até lutar contra o sentimento, mas seria interessante tentarmos interpretar o fenômeno sem preconceitos. Abrir a mente pelo menos um pouquinho. 


Nossos instintos sabem mais do que nós. É bom prestar atenção. 


Tá bom, você pode dizer que esse ou aquele nojo nos foram impostos culturalmente. Sim, mas dizer isso é concordar com o que eu falei. Porque as raízes da cultura são profundas e distantes demais. Lá atrás, quanto tudo começou, havia um sentido. Só que não sobrou ninguém vivo para nos explicar. Não temos memória consciente mas nossas reações impensadas tiveram uma origem muito real, muito antiga e muito bem pensada, na época. Nada surgiu do nada.

Acho tolo pensar que no século XXI detemos o somatório de todo o conhecimento gerado ao longo dos milênios. Não temos. Muita coisa se perdeu e muitas das experiência dos nossos antepassados subsistem apenas em forma de memória genética e "pré- conceito".  Qualquer estudioso hoje admite tranquilamente que a antiga civilização egípcia detinha conhecimentos relevantes que se perderam, não foram repassados para nós. 

A experiência comprovada e científica do passado, uma vez perdida, pode ter subsistido até os nossos dias apenas na forma desse "gostar" ou "desgostar" nebulosos. 

Não sei, e jamais saberei, quantas civilizações se lascaram justamente por causa de coisas que afirmo não tem "nada a ver". A coisa no passado pode ter sido tão forte, mas tão forte, que mesmo perdidas as teorias, sobraram as sensações.

REALIDADES BRASILEIRAS