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8 de dez. de 2014

Texto


Amanhã te escreverei um lindo verso.
Amanhã vou cantar a canção mais linda do mundo para te enternecer. Teus olhos vão lagrimar, as palavras vão sumir e o vento vai nos cercar tímido...

Amanhã juro te fazer bem, nem que para isso eu precise escalar o monte mais alto, colher a flor mais rara, casar o fogo com a água. Ainda que eu precise plantar um jardim no fundo do mar e depois domar suas ondas.

Amanhã vou te fazer um castelo. Não importa o quanto custe, terás teu castelo.

Amanhã te sentiras tão amado, mas tão amado, que terás receio de falar desta ventura para os outros. Temerás que o encanto se acabe e serás feliz atrás da porta, como criança comendo chocolate às escondidas. Assim, às escondidas, enganaremos todas as bruxas malvadas.

Tuas blusas serão brancas e perfumadas. Quando abrires a gaveta haverá pétalas de flores e isso te parecerá lindo! Então teu rosto brilhará como o de um menino travesso, como o dos heróis infantis. Mas não contaremos isso a ninguém.

Espere mais um pouqinho, amor. Vou também fazer um bolo igual àqueles de casamento. Vou vestir meu vestido branco para tocar cítara. Se as traças já o tiverem roído farei outro mais lindo ainda. Você ficará muito orgulhoso de mim e isso me deixará tímida. Baixarei a cabeça e esperarei que tu a ergas novamente com a mão em meu queixo.

Mas não se vá antes disso. Nada faças! E proiba-se de sofrer.
Acredite em mim e em cada uma dessas palavras porque tudo se cumprirá, tão certo como a coisa mais inevitável que se possa imaginar. Terei para ti meu beijo mais doce, meu carinho mais manso e até mesmo uma lágrima sentida pelo tempo que perdemos.

Hoje não. Hoje meus pés doem - olha o céu cinzento! Mas amanhã...

Quando eu estiver curada te levarei café na cama com frutas, pão fresco e pequenas margaridas ao lado dos talheres. Vou te ver sorrir! E ouvir todas as tuas histórias de garoto, desde o tempo em te apaixonaste pela menina loirinha e triste. Nada mais machucará teu coração. Seremos canto e contracanto da mesmíssima canção.

6 de dez. de 2014

Hospital

Entre a vida e a morte tudo adquire um novo significado. É como sacudir uma caixa cheia de cacarecos e perceber que depois disso tudo se realinhou e se arranjou. As crises da vida são assim: bagunçam o que parecia arrumado e arruma o que estava bagunçado.

Não tenho nada de criativo para dizer a respeito mas mesmo assim digo porque não canso de observar, cheia de interesse, a vida e suas repetições , que geralmente nos chegam de roupa nova.

Hospital é um lugar de esperança e desesperança. Junto com despedidas e desistências acabamos sem querer entrando em contato com o lado bom dos humanos e isso nos traz certo consolo. Uma senhora idosa, com o marido entre a vida e a .morte, se levanta de seu lugar para consolar a moça que não conhece e nao pára de chorar. Oferece água com açúcar e diz que Nossa Senhora vai socorre-la. Nem eu nem a moca somos católicas mas o gesto foi tao doces e sincero que me tocou o coração. Uma doce cristã.

Médicos cansados, enfermeiras gentis, serventes trabalhando para o nosso conforto... No hospital, incrivelmente, é possível darmos de encontro com o que ainda existe de bom nesse mundo.

A vida não é mesmo cheia de contradições?
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2 de dez. de 2014

Meu querido blusão de couro


"Há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa
E nessas ilhas cheias de distâncias
Meu blusão de couro se estragou..."

Amo essa música.  Ela fala de uma coisa muito dolorida: a desistência. Fala do cansaço que se segue à juventude, da dolorosa admissão de que já deu, que não vai melhorar, e é necessário voltar.

É necessário voltar quando...

Quando "aquele amigo que embarcou comigo cheio de esperança e fé  já se mandou";

É necessário voltar quando "o cara que transava a noite no Danúbio Azul"   chega um dia comentando, pensativo, que "faz sol na América do Sul e nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil."

É necessário admitir que "valeu, mas acabou"  quando até você comenta com a companheira que "quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil...".  Você diz isso na beira do caminho, ao lado dela, num dia em que percebe que não tem mais graça nenhuma viver pedindo carona e  tudo o que você mais queria na vida era o seu conforto simples: sua rede branca, seu cachorro e aqueles velhos amigos.

Chega uma hora em que é forçoso constatar que "quando eu desapareci ela arranjou outro amante. Minha normalista linda..."   e a saudade dói porque a gente não tem muita certeza de que valeu a pena.

A doce idade dos sonhos, da irresponsabilidade, da coragem, a idade de rir de si mesmo, desdenhar das perdas com muita de começar de novo - esse tempo acabou.

Sim, são muitas as evidências de que acabou, mas nada é mais veemente do que o fim do blusão de couro.

O blusão de couro é o símbolo da juventude pronta para o que der e vier. É sensualidade, independência, rebeldia e pé na estrada. O blusão que aguenta verões e invernos, companheiro de motos, poeira e caminhadas e que compunha tão bem o visual forte de quem se impõe ao mundo.  Até o blusão de couro "jogou a toalha".  Depois de tantas estradas, tantos sóis nascentes e poentes...

Um blusão de couro é uma espécie de cachorro, só que a gente veste. É a peça chave de quem não precisa de muitas coisa porque está na idade em que se basta, o corpo é lindo e o cabelo não cai.  Uma peça é mais que suficiente. Sempre haverá oportunidade de adquirir outro blusão de couro, lindo e caro, quando as coisas melhorarem - você pensou.   Mas não deu.

Se seu único blusão de couro se acabou e você ainda não está em condições de comprar outro, talvez seja a hora de voltar pra casa.

"... e vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, o humor nas praças cheias de pessoas
Agora eu quero tudo, tudo outra vez!"





29 de nov. de 2014

Serenidade

Relendo textos antigos sou forçada a admitir: a serenidade não faz bem ao meu "eu escritora".

Lembro de tempos atrás, quando estive bem mal "da alma",  noto que eu tinha muito mais inspiração e intensidade no que escrevia. Os textos eram mais criativos. Tenho que concordar com o Vinícius de Moraes quando ele disse que poeta só é bom mesmo se sofrer.

É certo que  já produzi, de lá pra cá, alguns poucos textos que considero muito bons. Depois... Depois veio a calma, o Facebook, a dispersão da mente, a frouxidão no sentir frouxo e um monte de louça pra lavar.

Lamento ou comemoro? E uma voz me responde: "Faça como quiser. Ninguém vai ficar sabendo mesmo! "

25 de nov. de 2014

Remorso & Arrependimento


O remorso é uma dor confusa que pouca gente entende. É muito confundido com o arrependimento. Não deveria ser. Eles são primos, não irmãos gêmeos.

 Enquanto o remorso se veste de névoa e sentimentos conflitantes, o arrependimento é fácil de entender. É uma dor sem mistérios.

Arrependimento dói, mas restaura. Por pior que você tenha sido, quando se arrepende está sinalizando uma mudança para melhor. Quem se arrepende é aceito com maior facilidade.

O arrependimento é a dor de ter feito o que não deveria ter feito.  Essa dor vem colada na certeza de que se a situação se repetir você não agirá da mesma maneira. Essa certeza soma-se à esperança de que se a vida lhe colocar novamente na mesma situação, finalmente você provará a si mesmo e ao mundo que mudou e que a pessoa que fez "aquilo" não é mais você. Seu "eu" passado poderá então ser tratado como se fosse uma outra entidade, um "encosto" do qual já se livrou.   Já o remorso... 

O remorso é a dor sem esperança. Por isso acho que dói mais.

Remorso é a dor dos que se sabem desassistidos pela misericórdia. Ter remorso é saber que fez o que não deveria, mas estar conscientes de que não conseguiria agir de outra forma caso a ocasião se repita.  Se o mundo der mil voltas ainda assim você sabe que fará tudo de novo - não porque ache certo mas porque seu caráter é assim. Talvez você nem goste de fazer, mas sabe que é deformado demais para incorporar outra postura. Complicado, né?

Remorso é o sentimento de quem jamais toma uma atitude.

A constatação de que faríamos tudo de novo é horrível. Por isso o sujeito que sente remorso não gosta de dizer que tem remorso. Prefere fazer de conta que está arrependido. Ele até jura para si mesmo que se arrependeu, mas no fundo sabe a verdade.  Ele não "praticou violência", ele É violento. Ele não mentiu; a vida dele é uma mentira. Ele não falhou em um compromisso: ele É um ser sem palavra e sem caráter. Isso dói mas não garante a mudança.  O que garante mudança é o arrependimento. A dor do remorso é uma dor que só leva à dor e nada mais. Uma dor vazia.

O arrependido sofre pelo que fez. O "remordido" sofre por ser o que é. 

Remorso é a dor de querer ser melhor mas não conseguir. Ou querer ser melhor para a pessoa que ama, mas saber que vai perdê-la porque não mudará. É a dor de não saber onde encontrar ajuda. 

Enquanto o arrependimento traz consigo uma esperança de que a vida lhe trará outra chance,  o remorso traz o medo de que isso aconteça e que a vida só prove que ele não presta mesmo. Se a vida repetir a cena, mais culpado o sujeito se tornará.

Entendeu agora?

23 de nov. de 2014

Limites

Acabei de assistir um video patético onde seguranças empurravam pessoas para dentro de um trem para elas caberem todas, e poderem então seguir viagem. O veiculo estava superlotado. Nao havia respeito ou cuidado algum para com os passageiros, que pareciam gado. Eram tratados como gado. Patético.

Qual o limite para a exploração ou para o desrespeito? Não ha. Quem impõe os limites é a vítima. Se não se rebelam, a tendencia é serem de respeitadas ate descerem abaixo da condição de animais e se tornarem como meros objetos.

O povo brasileiro é super desrespeitado e explorado em varias situações mas jamais aceitaria ser empurrado, socado e amassado daquele jeito para entrar no trem. Se tentassem fazer isso ia dar a maior briga com direiro a quebra quebra e tudo o mais. Ou seja: só não fazem isso com a gente porque sabem que ia dar merda. Mas eles fazem outras coisas inaceitáveis. E por que fazem? Porque SABEM que o povo aceita.

Aquele velho ditado é verdadeiro: "as pessoas só fazem com você o que VOCE DEIXA ELAS FAZEREM.

Nao ha um limite natural para a maldade, exploração ou humilhação do proximo. Sempre é possivel fazermos pior do que ja estamos fazendo. O único limite vem de um lado só: da vitima. Do outro lado a coisa é infinita.

Só quem tem o poder de deter a opressão é o próprio oprimido.

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18 de nov. de 2014

Mudanças

O tempo passou... por isso começamos a achar que:

O conforto fala mais alto que  a beleza;
O silêncio é, decididamente, a melhor "música";
Não ficamos bem na maioria das fotos que tiramos. E isso é fato, não é impressão;
Começamos a fazer exercícios físicos pensando na saúde;
Não nos assustamos mais com nossos cabelos ficando brancos. O susto agora é com os fiapos de cabelos brancos surgindo nos nossos filhos;
Nossos filhos tem mais cultura e informação do que nós;
Pensando bem, pra quê preciso de mais roupas, mais sapatos, mais bolsas?
Pensando bem, pra quê jóias?
Pensando bem, por que não dormir de pijama?
Você não quer dar de cara com um amor avassalador. Você só quer paz.
Ficar em casa é incrivelmente bom.
Comédias românticas não te deixam com inveja ou melancólica; apenas te divertem
E por aí vai.

14 de nov. de 2014

Presos



Incomoda muito ver que estamos todos presos em um ciclo interminável de repetição. A humanidade é um filme manjado.

Todos os nossos erros estão catalogados. Já aconteceram antes! Bastaria termos um pouco de conhecimento para evitar as mesmas cascas de banana. Mas estamos ocupados demais com o emprego, o namoro, a novela, o futebol, os problemas... e não queremos parar para nos inteirar de "assuntos chatos". Somos tão burros que não nos damos conta de que a história funciona como uma espécie de bola de cristal que nos mostra as possibilidades do futuro.

As pessoas não conhecem história então acreditam sempre nas mesmas mentiras dos que manipulam a história. Quem tem um pouquinho mais de conhecimento se aflige sobremaneira porque vê o buraco e não consegue evitar que o ônibus no qual viaja caia nele. Sim, porque ele está no ônibus mas é só um passageiro e não decide nada.

Por que a verdade é tão escorregadia?  O que é a história? O que eu sei? O que eu apenas penso que sei? Estou muito enganada? Ou eles estão?

Tudo que está acontecendo já aconteceu. Será que ninguém vê?  Existe alguma coisa mais aflitiva do que isso? Há um desespero da minha parte quando vejo para onde outros foram e vejo para onde estamos indo. E não há freio onde eu possa meter o pé.

Mas será que estou vendo mesmo o que penso que estou vendo? Ou sou mais uma passageira cega pensando que enxerga?  Será que estou repetindo a história justamente no pior sentido?

Se estou onde penso que estou... Se vejo o que penso que vejo... Que droga não poder mudar nada nem abrir os olhos de ninguém! Mas se é tudo uma ilusão? E se sou burra demais para perceber que meus pensamentos não são meus? E se nada mais sou do que a reles integrante de um povo tonto e cego?   

Como é cansativo procurar a verdade!

12 de nov. de 2014

Castelo e música

Amanhã  estarei fazendo mais um aniversário.  Estou ouvindo uma música que me força a recordar o passado e a pensar na brevidade da vida e no por que, afinal de contas, uma vida tão breve as vezes parece tão longa. 


Toca uma música tão linda e nem sei em quais circunstâncias de dor ou alegria foi composta. Se havia frio ou se a lareira alegremente aquecia a noite. Se os cheiros eram comuns ou se os cheiros antigos tinham alguma peculiaridade. Só sei que essa música me faz lembrar tanto de amores profundos quanto de cemitérios azuis enevoados.

E delicadamente agora alguém toca o teclado derramando mais música nesse texto disperso e meio triste. Sei que a fragilidade inevitavelmente vai vencer meu corpo é um dia não terei mais interferência alguma no mundo dos vivos . Não  consigo imaginar como será meu sentimento quanto a isso. Pasma? Aflita? Revoltada não, mas saudosa? Um dia serei menos do que sou.  Meu único medo é morrer de saudade. 

Um dia talvez verei este meu mundo palpável da mesma forma com que vejo o mundo virtual: uma possibilidade maluca e intangível .

Agora entrou o violoncello, grave e apaixonado, intenso e ininterrupto. E lembro do quanto já fui vibrante, apaixonada e intensa e o quanto  é cansativo ser assim dentro de um cofre. Hoje não sei mais se houve alguma vantagem em ser como eu era. Um dia serei lembrada por quais características? 

Não sei se está faltando alguma coisa na minha vida. Tomara não descobrir nunca.

Entrou um órgão. Órgãos me lembram casamentos , batizados e parentes antigos.

Agora me toca o som gelado do cravo e não penso em outra coisa a não ser nas pedras geladas que formam aqueles antigos castelos europeus. Quanta chuva e neve...quantas histórias e valentias vãs! E quantos amores desperdiçados.  

Esse ano realizei o sonho tão querido e acalentado de entrar em um castelo de verdade. Como uma princesa. Então  me ocorre perguntar se depois da minha morte também vão me achar lúgubre como os castelos ou desperdiçada como as princesas... Tenho alguma semelhança  como aqueles frios e silenciosos castelos que jamais conseguiram nos contar suas verdadeiras histórias?

Verrugas

Gosto de passear no shopping. Esses dias repeti a dose só pra ver as novidades e submeter-me às tentações. Não fui tentada. Por instantes adorei acreditar que evoluí.

Pensei em meu "antigamente": como me agitava frente às vitrines! Queria adquirir, adquirir, adquirir. Era extensa a lista do que eu achava que precisava. E hoje?

Hoje só me pergunto "pra quê?" 

Sonhava com jóias como se fosse possível ser contagiada pela beleza bastando tão somente cercar-me dela.  Desejava jóias. Todas pareciam ter sido feitas para mim. Era tão natural a idéia de que fossem minhas! As joias tem que pertencer a quem as deseja. Se seus olhos não brilham numa joalheria, então você não merece ter jóias.

Ainda gosto de jóias. São bonitas e nada mais. E nas poucas vezes que ainda me detenho diante de uma vitrine não consigo deixar de ouvir aquela voz a perguntar "pra quê?"

Essa perguntinha que desconstrói tem brotado em vários prazeres antigos. É como uma espécie de verruga que brotou em todos os alvos da minha cobiça.  Está tudo "enverrugado".

Pra quê eu gastaria tanto com uma coisa que não vai me deixar mais bonita nem mais magra nem mais jovem nem mais inteligente nem mais querida, só mais enfeitada e com menos dinheiro?

Tempos atrás seria absurdo alguém me desafiar com essa  indagação. A resposta me pareceria tão óbvia! Ora, "pra que sim!"   "É bonito e deixa as pessoas felizes. Isso não é suficiente?"  Pois agora isso não faz mais sentido nenhum para mim.

Vários anéis não deixariam minhas mãos mais delicadas por mais bonitos que sejam. Pra que servem então?  Colares, vestidos, sapatos... Já tenho tantos! Bolsas, coisas de griffes... tudo em cima da mesma carcaça inalterável. E enquanto penso isso me vem à mente uma imagem grotesca de mim mesma. Me sinto mal.

Não abandonei de vez as vaidades. Ainda faço compras só que são bem menos frequentes. Mesmo assim quando chego em casa e olho os pacotes noto em todos eles essa estranha  "verruga" pendurada a lhes tirar todo o charme. Quanto dinheiro jogado fora! A quantos desconhecidos tornei mais ricos! A quantos necessitados ignorei!  Então defendo-me. Saio do meu lugar e corro em direção a mim mesma, para acudir-me do achincalhe. Esse festival de acusação não pode prosperar. Declaro então perante o tribunal que "- Pequenas tolices permitidas deixam nossa vida mais divertida. A quem interessa que a civilização humana se componha de zumbis cinzentos vagando pelo mundo só para trabalhar e esperar o dia da morte? O dinheiro que uso não é roubado, é fruto do meu trabalho honesto. Por que não posso ter prazer em meio a tantos desprazeres? Porque preciso me condenar a viver em preto-e-branco? "

Ótima defesa. Convenceu.  Volto pra casa de cabeça erguida deixando aquele tribunal mofento e carrancudo para trás. Mas enquanto piso duro em retirada não consigo deixar de perguntar a mim mesma se essas mudanças pelas quais estou passando representam crescimento ou baixa auto estima? Crescimento ou culpa vazia e inútil?

O que faço com essas verrugas?

Castelo e música

Amanhã  estarei fazendo mais um aniversário.  Estou ouvindo uma música que me força a recordar o passado e a pensar na brevidade da vida e no por que, afinal de contas, uma vida tão breve as vezes parece tão longa. 


Toca uma música tão linda e nem sei em quais circunstâncias de dor ou alegria foi composta. Se havia frio ou se a lareira alegremente aquecia a noite. Se os cheiros eram comuns ou se os cheiros antigos tinham alguma peculiaridade. Só sei que essa música me faz lembrar tanto de amores profundos quanto de cemitérios azuis enevoados.

E delicadamente agora alguém toca o teclado derramando mais música nesse texto disperso e meio triste. Sei que a fragilidade inevitavelmente vai vencer meu corpo é um dia não terei mais interferência alguma no mundo dos vivos . Não  consigo imaginar como será meu sentimento quanto a isso. Pasma? Aflita? Revoltada não, mas saudosa? Um dia serei menos do que sou.  Meu único medo é morrer de saudade. 

Um dia talvez verei este meu mundo palpável da mesma forma com que vejo o mundo virtual: uma possibilidade maluca e intangível .

Agora entrou o violoncello, grave e apaixonado, intenso e ininterrupto. E lembro do quanto já fui vibrante, apaixonada e intensa e o quanto  é cansativo ser assim dentro de um cofre. Hoje não sei mais se houve alguma vantagem em ser como eu era. Um dia serei lembrada por quais características? 

Não sei se está faltando alguma coisa na minha vida. Tomara não descobrir nunca.

Entrou um órgão. Órgãos me lembram casamentos , batizados e parentes antigos.

Agora me toca o som gelado do cravo e não penso em outra coisa a não ser nas pedras geladas que formam aqueles antigos castelos europeus. Quanta chuva e neve...quantas histórias e valentias vãs! E quantos amores desperdiçados.  

Esse ano realizei o sonho tão querido e acalentado de entrar em um castelo de verdade. Como uma princesa. Então  me ocorre perguntar se depois da minha morte também vão me achar lúgubre como os castelos ou desperdiçada como as princesas... Tenho alguma semelhança  como aqueles frios e silenciosos castelos que jamais conseguiram nos contar suas verdadeiras histórias?

REALIDADES BRASILEIRAS