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4 de out. de 2016

Empachamento

Ando ultimamente com uma sensação constante de empachamento. Como se meu estômago estivesse muito cheio e eu vestisse algo apertado. É incômodo. Não estou tão fora de forma assim mas a sensação é de um "empachamento emocional". Ainda que eu não esteja definitivamente gorda é assim que me sinto, tanto quanto me sinto "empachada"sem ter comido muito e sem estar com um jeans dois números menores.

Acho que também estou "socialmente empachada". E quem sabe até mesmo "espiritualmente empachada".
Hoje vi a notícia de que umas adolescentes pegaram uma inimiga - também adolescente - e a surraram e torturaram por horas. 

Primeira reação: angústia. Angústia por ser possível que pessoas tão jovens já estejam tão podres. E angústia por nossos sistema que incentiva tais atos. Se a pessoa faz "e não pega nada", continuará fazendo e outros, igualmente pervertidos, se animarão a cometer coisas semelhantes.

Segunda reação: Passar horas tecendo fantasias tenebrosas de vingança. Me ponho a me imaginar em tal situação, sendo mãe da vítima. Eu descobriria quem são as meninas, contrataria pessoas que as "quebrassem de porrada"até que elas se arrependessem até do que nunca fizeram. Seriam surradas impiedosamente. Ficariam meses "refletindo"em um hospital. Sim, eu pagaria. Eu me vingaria.

Terceira reação: passar dias me sentindo um lixo por ter me permitido acalentar sentimentos tão baixos, tão miseráveis, tão "das trevas", tão "nao-cristaos".   Tristeza por notar que não evolui nada, que eu não daria a outra face, que eu queria vingança. Tristeza porque minha primeira reação não foi dizer "Pai, perdoa! Elas não sabem o que fazem!"

Quem sou eu, na verdade?
Essas fantasias são uma expressão da minha verdade ou apenas bravatas da alma? Essas fantasias de vingança tem chances reais de se tornarem realidade ou na hora eu desarmaria meu coração e alcançaria a graça de perdoar?

Quem eu sou?
Quem eu sou DE VERDADE?
O que eu faria de verdade?
Eu mataria? Me vingaria? 

Isso me inquieta. Deveras.

Pai, perdoa-me. Eu não sei o que faço.

23 de set. de 2016

E tudo começou com uma moedinha...


É chato ser chamada de miserável. Mas já fui porque reclamei dos flanelinhas que insistem em se auto contratar para desempenharem a "dificílima" tarefa de olhar os nossos carros.

Por muito tempo me recusei, na medida do possível, a pagar tal imposto. Hoje me rendi. Não sei o que é pior: o olhar ameaçador desses "cidadãos de bem" ou a pressão social dos "amigos" que acham que temos que nos sentir culpados por andar de carro próprio.

Antigamente as pessoas achavam que tínhamos o dever moral de fazer papel de babacas, tudo em nome da "caridade". Disfarçavam a covardia debaixo de um sorriso bonachão e trêmulo de quem não quer conflito.   Se há uma coisa que me irrita é covardia disfarçada de caridade.     Agora como a coisa cresceu, enraizou e tomou conta de tudo, estes mesmos já começam a reclamar. Tarde demais. Antes nos chamavam de miseráveis. Agora que o valor da "taxa" só faz crescer e já estão até exigindo pagamento antecipado, reclamam.   

O brasileiro perdeu a noção dos seus direitos. Sou uma incentivadora de atos de generosidade. Não faz bem a ninguém se trancar em uma bolha de egoísmo.  Mas uma coisa é DAR e outra bem diferente é ser EXTORQUIDO.

Pra extorsão não existe valor mínimo. O valor será sempre crescente. 

É necessário entendermos que se hoje alguém se julga no direito de me exigir dois reais, nada o impedirá de aumentar o valor para vinte amanhã. Se continuarmos assim, em pouco tempo teremos que começar a pagar pedágio pra bandido.  E não espere que o poder público nos defenda. É mais fácil o governo se associar a eles.

Há uns anos, quando estive no Rio, fui estacionar perto do Pão de Açúcar e o bandido da área  queria cobrar trinta reais para eu deixar o carro em via pública. Não, eles não estão tomando conta dos carros. Eles simplesmente tomaram posse da rua e cobravam por seu uso.  Nossos governantes não fazem nada. Um ladrão não se indigna contra outro ladrão. Há uma camaradagem implícita.

Nossa idiotice é tão crassa que observei por várias vezes pessoas amigas dando dinheiro a flanelinha com ar blasè, posando como se fosse um charme muito grande fazer papel de otário. Posando como quem diz "sou bem sucedido, umas moedinhas não me farão falta. Eu posso."   Dar dinheiro seria então uma evidência de que você está acima da plebe.

Se cinquenta reais por mês não fazem diferença para você então porquê não o dá a quem trabalha? Por que não aumentar o salário da sua empregada? Ou dê de gorjeta mensal para o porteiro.

Ah, e tem mais essa: eles já têm até associação! "Associação dos Flanelinhas, Lavadores e Manobristas" . Que direito pode ter alguém que me subtrai direitos?   Lavadores e Manobristas tudo bem mas querer remuneração por "olhar" o meu carro ? E sem meu consentimento?   Eu olho centenas de carros todos os dias e nunca ganhei um tostão com isso.


Ser explorada pelo Governo é uma fatalidade para a qual eu não contribuí. Mas pagar imposto para flanelinha foi uma coisa que CADA UM DE NÓS PLANTOU por pura palermice. Você, que sempre criticou pessoas como eu, é um dos responsáveis por estarmos nas mãos deles.

E antes que você me corrija eu já vou dizendo: NÃO, isso não é caridade; é extorsão mesmo.

19 de set. de 2016

Eu perdôo o Neymar

Não entendo como é possível uma pessoa plantar manga e querer colher banana. Vejam só: pegam um adolescente pobre e, dizendo que ele é um pequeno gênio do futebol o colocam num altar.  Dali pra frente, sempre diante de holofotes e aplausos, submetem-no à seguinte rotina: eles o elogiam, adulam, lotam seus bolsos de dinheiro, comentam cada detalhe da sua vida como se isso tivesse alguma importância para o destino da humanidade, adulam, aplaudem,  imitam, oferecem a própria filha. Depois de vários anos de "tratamento intensivo" essas mesmas pessoas ficam indignadas quando descobrem que ele não se tornou um cidadão humilde.  Só pode ser piada.
Estou falando do Neymar. Vocês criaram o Neymar! 

Aprendam: quando a gente passa a vida tratando uma pessoa como se ela fosse especial, muito provavelmente essa pessoa va acabar acreditando que é mesmo uma pessoa especial. Ela foi convencida disso.

Neymar é humano e previsível. É suscetível a influencias externas. É produto do meio. Não é assim que se diz?  Então estão reclamando de quê?

Eu perdôo o Neymar.

4 de set. de 2016

Um certo tipo de beleza

Odeio usar termos batidos.  Queria uma expressão mais criativa para a velha e gasta "beleza interior". Enquanto não encontro, prossigamos.

Há um certo tipo de poder - podemos chamar assim? Um certo tipo de sedução que não se mede por exterioridades.  Essa coisa misteriosa se torna mais "perigosa" que a beleza física justamente porque nos desarmamos diante dela. Não farejamos o perigo.  Somos então pegos de surpresa.

Não estou aqui afirmando que não existam pessoas "feias". É politicamente incorreto afirmar isso mas não me importo. Existe sim. Mas essa suposta feiura não causa o estrago que alguns supõe causar.  A feiura é frequentemente desarmada por um espírito brilhante.  Ela perde o seu poder de estragar as coisas. Há  "algo mais" dentro da gente. 

Essa coisa interior que doravante chamaremos de "alma" tem sua existência comprovada justamente quando vamos a um funeral.   Na maioria das vezes a pessoa morta  não se parece muito com ela mesma quando viva. Já perceberam isso? Sempre achei estranho esse fenômeno.  

Um travesseiro cheio não se parece em nada com um travesseiro murcho. Tá bom, essa comparação não é muito boa mas dá pra entender o que eu quero dizer.

Uma pessoa tem a aparência completamente alterada quando está feliz, quando está com inveja, quando está com ódio, quando está dormindo, quando está doente, apaixonada, quando se ama, quando se odeia. Quem se acha feio, fica mais feio ainda. Ninguém precisa se achar bonito para ser menos feio. Basta que a pessoa não se importe com o julgamento dos outros, deixe esse concurso de beleza pra lá e trate de viver. Basta isso para se manifestar uma personalidade muito atraente.  

Por mais que a beleza seja relativa - e é - acho tolo demais ficar tentando convencer o feio de que ele é bonito. Pra quê? Pra ele continuar acreditando que a aparência é tudo?  O feio precisa ser convencido de que isso não importa e que a felicidade dele não depende dos aplausos alheios.  Ele precisa entender que precisa precisa deixar de ser superficial. 

Existem pessoas realmente atraentes, realmente interessantes e que  não são "bonitas". Ou são, mas daquela forma misteriosa, não da forma obvia.  Elas possuem um certo magnetismo que não sabemos explicar bem como funciona.  São bonitas mas não sabemos dizer "em quê" são bonitas.  Em suma há algo nelas que faz com que as tratemos como se fossem bonitas, que as desejemos como se fossem bonitas, que nos apaixonemos  como se fossem bonitas.  

Acho essas qualidades muito mais desejáveis do que uma aparência perfeita. Não vou ser hipócrita. Eu gostaria de ter uma aparência perfeita sim, mas esse é o tipo do tesouro que se deteriora rápido demais. É uma riqueza que se possui por muito pouco tempo.

Admito que alma também envelhece e até envilece. Mas isso não é uma sentença implacável.  Não está no script que tem que acontecer.

Para o corpo existem tratamentos, maquiagem, exercícios, roupas, remendos diversos. Para o embelezamento do espírito existe a convivência com as artes, com boas companhias, a espiritualidade sadia, o contágio do belo, a  prática do amor, o desenvolvimento do auto conhecimento, a generosidade, a prática da compaixão...

A feiura interior não é um destino de todos os mortais. Acho que por dentro talvez sejamos muito mais moldáveis do que por fora. 

Se eu pudesse escolher um tipo de beleza eu iria preferir a beleza que não desvanece. Eu ia preferir o charme irresistível que vem da alma e ofusca o corpo e tudo o mais.



1 de set. de 2016

Desunamo


Chega a ser engraçado ver pessoas "neutras"cobrarem cabeça fria dos brasileiros nesse momento triste na nossa história. A gente vê a Constituição ser prosituida, cuspida e aviltada, vê baderna, vê todo tipo de roubo e de engano. E não podemos ficar irados e manifestar livremente essa ira justa. Por que não pode? Porque incomoda os "isentos". 

Há uma categoria de pessoas que ou está do lado errado ou está "isenta". Por medo de mostrar que simpatiza com a banda podre a pessoa posa de "imparcial" nos momentos mais críticos.  Não se incomoda com os terroristas , com grupos ameaçadores, com o quebra-quebra. Nada disso incomoda. Nunca se manfestam quando essas pragas estão corroendo nossa vida social. Mas quando alguém se levanta para protestar e mostrar indignação... Aí sim a pessoa se manifesta pedindo um comportamento ZEN de quem se vê afundando. Querem que afundemos em silêncio por ser mais "elegante".

Esse tipo de pessoa, quando não está defendendo a banda podre resolve dar  o braço a torcer de uma forma muito peculiar, dizendo que tudo bem, "os dois lados estão errados".  Não podendo defender os nojentos tenta jogar todo mundo no mesmo balaio. Ou então faz como eu já disse: posa de isento e cobra isenção silenciosa (é conivente) dos outros.

Não sei essas pessoas não se mancam ou pensam que a gente não as enxerga. Não sei qual é a delas. E sinceramente não quero saber.

27 de ago. de 2016

Ele está de volta *

Comecei a assistir despretensiosamente.  Quase desligo porque o filme começou mal pra caramba. Achei uma droga,  sem graça, um pastelao idiota. Mas depois a historia se torna bem instigante. Levanta questões muito interessantes.
Em determinados momentos parecia que estavam se referindo ao Brasil. Cheguei a desconfiar de que o filme foi encomendado para nos cutucar.
Mas sabe o que dá mesmo um nó na cabeça? A constatação de que ao longo do filme a figura de Hitler deixa  aos poucos de causar repulsa ou revolta.  Sua postura cheia de orgulho pelo seu país, "fé  na Alemanha  e  sincero disposição em trabalhar para a grandeza do seu povo" é algo que pode conquistar pessoas a qualquer tempo,  inclusive hoje. Alguém que realmente acredite em seu povo, na grandeza da sua nação e seja capaz de insuflar isso nas pessoas. Quem não se deixaria seduzir por um lider assim?  Isso é assustador.
Com a abordagem correta, sem as formalidades do passado e uma pitada de humor  Hitler bem poderia ser reintroduzido na sociedade inclusive com a ajuda daqueles que não lhe levam a sério. Acho que ele faria sucesso aqui e agora. Porque é como ele disse: as pessoas o escolheram porque no fundo elas são como ele. 
É um perigo brincar com o mal, esquecer que o mal é mal, rir do mal. Porque de repente o mal seduz, igualzinho como no passado.
Recomendo. Mas repito: o início é uma droga.



Confira "Ele está de volta" na Netflix
www.netflix.com/title/80094357?source=android

17 de ago. de 2016

Travesseirada

Na aposentadoria a gente sente uma necessidade imperiosa de comemorar coisas. Algo tem que compensar o ocaso da nossa vida. Celebramos então a liberdade quase que total que nos acomete. É como se nos jogassem na cara um travesseiro:  é fofo, não machuca, faz até a gente rir, mas desestabiliza um pouco.    A aposentadoria é isso. 

Comemoramos também outras coisas menores, como poder viver de bermudas e chinelos. Economizar com gastos de roupas é um desses temas de comemoração de aposentados. Mas é um ganho que traz embutido uma perda. Perdemos a postura própria de quem vive bem vestido. A roupa nos molda. Ela esculpe nossos gestos, nossa forma de sentar e gesticular. 


O vestuário é também uma expressão do nosso eu e projeta nossa imagem para o mundo exterior. E essa imagem de alguma forma volta para nós, para a nossa auto percepção. Há uma retroalimentação o tempo todo. Ao abrir mão disso em prol do tênis e camiseta você se torna cada vez menos o que estava acostumado a ser.   Da feita que você vive só de bermuda, camiseta e chinelos, o seu desmonte vem em seguida. Acredite.

Sendo assim, ter que comprar roupas para trabalhar é um falso desprazer.  Ultimamente tenho passeado pelo shopping com um certo desgosto.  Olho roupas que posso comprar, mas sei que, definitivamente, não preciso delas. O que eu faria com elas?  Iriam apenas inchar meu guarda roupas.   Estou na fase de "desadquirir".  

Declaro a vocês que querer comprar mas não ter dinheiro é tão frustrante quanto querer, ter dinheiro mas não precisar por não ter onde usar. 

Cada vez menos roupas, cada vez menos sapatos e bolsas. É todo um estilho de vida sendo desmantelado para dar lugar a não sei o que exatamente. Sim, é uma nova fase um tanto melancólica. A gente descobre que gostava do que era e que não sabe se vai gostar do que passará a ser.

Encerro com uma dica: ao aposentar não pense muito a respeito nem escreva crônicas sobre o assunto. 

12 de ago. de 2016

Administrando-me

Estou um pouquinho melancólica aqui na minha sacada. Normal, pois hoje é sexta e sexta sempre foi um dia difícil para mim. Tenho uma longa história de vazios e desapontamentos em vésperas de sábados. A coisa tem sido tão marcante ao longo da vida que ainda que tudo esteja bem o perigo ronda. Preciso ficar alerta na torre de vigia. Ou alerta ou muito, muito, mas muito ocupada com outras coisas.

 Ainda que não tenha de que me queixar, ainda assim uma tristeza persistente e estranha sempre chega perto e funga no meu pescoco. Parece sair de debaixo dos móveis. Preciso passar um pano debaixo do sofá. Ali parece ter um viveiro de angústias.  

As angústias não são como gatos. São talvez emanações, vapores saídos de coisas velhas que a gente guarda. Não dá pra se desfazer de tudo, você entende. Então acontece. Vem vindo, vem vindo...  Parece que ela vigia meus momentos vagos, minhas horas de folga. Talvez vigie o pôr do sol esperando o momento mais melancólico. Talvez. Não sei. Às vezes parece que a melancolia espera a grande bola solar viajar para a outra parte do mundo para então tomar conta do pedaço.

Pois aqui estou eu, sobrevivente, na quietude.  Estou escrevendo, estou ouvindo música, tomando um licorzinho e pegando um vento na minha varanda.  E pra rebater toda essa coisa distraio-me fazendo mil planos de ser mais feliz. Tomo decisões valentes e passo a admirar a mim mesma pelas sábias atitudes que tomarei a partir de segunda feira. Sou independente, livre e antenada. 

Parece que está funcionando. Estou me sentindo quase poderosa e disposta a desprezar qualquer proposta de diversão. No momento isso me basta. Preciso não precisar: esse é o segredo da felicidade.   

Tenho dificuldade em abandonar a ideia estapafúrdia de que todo o mundo está do outro lado do navio, do lado oposto ao meu, fazendo coisas divertidíssimas. Esse pensamento não tem sentido algum. 

Tive outra idéia: preciso estudar. Vou estudar e adentrar em um portal novo e instigante. 

Está decidido. 

Vaias

Poucas coisas provam com tanta exatidão o caráter e a forca interior de uma pessoa do que uma bela salva de vaias. Acho ate que todos deveríamos ser vaiados em público pelo menos uma vez na vida, para aprendermos a ser gente. Deixar de frescura e levantar a cabeça.
Uma pessoa mimada  é uma pessoa fraca. Uma pessoa mimada não tem forca, não consegue seguir em frente,  não tenta de novo. Fica assustada, coloca o rabo entre as pernas, entra em depressão enão  quer mais nada com o mundo.
Quer saber se seu filho é um guerreiro? Submeta-o a vaias.
Esses dias vi uma manifestação da Lucinha Lins em video. Ela dizia que já fora veementemente vaiada varias vezes na vida. Uma das vezes eu lembro bem: ganhou um festival de canção com uma música ridicula que ninguem mais lembra, enquanto o Guilherme Arantes ficou em segundo lugar com uma obra prima lindissima, inesquecivel, que apaixonou o pais: Planeta Agua.
Lucinha Lins cresceu no meu conceito. Podem dizer isso a ela. Atriz e cantora, se fosse uma fraca jamais seguiria em frente. Estaria até hoje chorando e fazendo terapia.  Mas ela foi forte, não se deixou intimidar e se tornou uma profissional reconhecida. Se fosse outra iria afundar no alcool, nas drogas, na amargura.
Sim, admiro quem aguenta vaias sem desistir, sem paralizar. Acho que é a grande prova nessa vida. A rejeição escrachada e sem misericórdia.  Quem se dá valor entende que aquele momento não define seu talento, não te define como pessoa. Quem vaia apenas exerce um direito sem compromisso com nada, a não ser com a animação do momento. 
Voce pode pensar que é guerreiro mas se nunca foi vaiado você não sabe de nada. Ainda não se conhece.
Resumo de tudo: não me vaiem pelo amor de Deus. Não sei se sou guerreira. Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. E depois de uma sessão de vaias não sei se eu voltaria a levantar a cabeça algum dia.   
Pensou que eu iria terminar o texto de modo mais glorioso? Não. Poupem-me dos seus testes. Preciso de carinho.

11 de ago. de 2016

A exaustão *

Disseram por aí que a diferença entre o remédio e o veneno é a quantidade. Gostei do ditado. Aplica-se a tudo, inclusive ao fenômeno da transmissão de informações.

Imagino os transtornos que os povos antigos amargavam por pura falta de informação. Táticas de guerra falidas, alimentos prejudiciais,  tratamentos de saúde inócuos ... Como sofriam os mal informados!  

Não sei se é verdade mas li em algum lugar que há anos atrás encontraram um velho soldado vivendo em uma ilha quase deserta. Levava uma vida solitária e sofrida,  em suspense e aflição. Durante uma das batalhas havia se desgarrado do seu grupo. Então escondeu-se na selva com medo de ser feito prisioneiro.  Esperou longamente por um resgate que nunca veio e ficou sem a informação vital de que a guerra havia terminado há décadas. Se fosse hoje em poucos segundo ele já estaria arrumando sua jangadinha pra voltar pra casa. Caramba, tomara que essa história seja mentira. Coitado.

Quantos anos se passaram até que todos ficássemos perfeitamentes cientes de que Coca Cola faz realmente mal à saúde? Ou que o aspartame pode acelerar o processo de osteoporose? Quantos sabiam, há trinta anos atrás, que comer carboidrato é o mesmo que ingerir açúcar ? Essa informação em particular eu preferia nem ter tomado conhecimento.

Estou convencida de que de uns tempos para cá estamos recebendo uma overdose cavalar de informações e isso não é nada bom. Não são informações certificadas mas informações desencontradas!

É um tal de pode/não pode, verdade/mentira, as pesquisas comprovam/as pesquisas comprovaram o contrário do que já tinham comprovado. O Sudário de Turim? Já foi confirmado e escrachado umas dez vezes. Alguma coisa preciosa lá dentro de nós se desgasta, certamente.

Estamos no limiar de uma situação muito pior do que a dos nossos antepassados. Eles não tinham acesso à tantas informações mas quando as tinham, tomavam providências e mudavam o rumo de suas vidas.  As revoluções foram assim. Havia trocas e mais trocas de informações, de folhetos, manifestos e comunicados que de um modo geral ninguém questionava a veracidade da origem. E dava certo.  Hoje estamos tão encharcados de manchetes que vamos ficando com as alminhas gastas. Estamos entrando em um processo de dormência.  

Me dói imaginar que maior verdade do mundo perderá a força vital. Daqui há alguns anos ela não terá mais o poder de causar perplexidade. Nenhuma informação bombástica afetará nossos hábitos - saudáveis ou nocivos. Estaremos surdos, incrédulos e inertes.  

Hoje a gente já não acredita mais em muita coisa, é verdade. Mas mantivemos a saudável iniciativa de tentar confirmar as informações recebidas.  Mas já  estamos começando a cansar.  Pesquisar TUDO cansa. E além disso quem garante que qualquer outra informação posterior, contrária à inicial, é a fidedigna? Ninguém.

Já pensou o que acontecerá a partir do momento em que nenhuma informação for tida como verdadeira? Nem revista nem jornal ou artigo científico?  Imagine que absolutamente tudo deverá ser ""re-pesquisado" e que apesar do nosso esforço jamais cheguemos ao conforto emocional gerado pela verdade? 

Hoje ainda nos damos ao trabalho de tentar confirmar informações mas brevemente estaremos tão saturados de afirmativas ditas e desditas que passaremos a odiar os arautos de qualquer coisa.  

O próximo passo depois de não acreditar é pesquisar;  e depois disso o próximo passo é mandar tudo  às favas: não absorver mais nada.  Dias virão em que ainda que nos advirtam da existência de um precipício logo ali na curva da estrada, nosso cansaço nos fará seguir em frente. Desapareceremos no buraco. Surdez emocional mata.  

Pior do que censurar os meios de comunicação é desacreditar os meios de comunicação. Deixar que se choquem tristemente uns contra os outros, que caiam no ridículo, que se destruam pelo palavrório.  Quando nada mais for confiável entraremos novamente na idade das trevas. 

Nenhum ditador teria uma tática tão eficiente para roubar do povo o direito à informação.

A censura é um meio por demais grosseiro. É  flagrantemente canalha, ninguém gosta dela. Mas ao mesmo tempo um povo bem informado é um perigo para qualquer governo. Não dá pra soltar as verdades aí pelo mundo. Descobriram então a cartada de mestre:  que tudo vire piada, que tudo vire entretenimento!   Ninguém precisará se desgastar impondo censura. A verdade poderá ser gritada e estampada com provas sobejas, mas ninguém mais ouvirá. 

Assustador.  Acho que é isso o que temos pela frente: a exaustão. O cansaço aliado à incredulidade suicida.  

"Eles venceram e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens."










4 de ago. de 2016

Feiuras

Não acredito que tudo o que consideramos belo ou feio seja uma construção cultural.  

Já li algumas pesquisas que provam que os bebês se sentem mais atraídos e encantados por certos traços fisionômicos harmônicos. E por favor não me diga que eles, os bebês, também foram doutrinados "pela sociedade de consumo e pelos padrões do poder vigente". Existem parâmetros mínimos. Assim eu creio. Há sim o feio e o bonito. A dificuldade em defini-los não anula a sua existência. 

Mesmo assim parece muito possível que, forçando um pouco a barra, obriguemos as pessoas a professarem adesão aos padrões dos mandões do momento.  Até certo ponto o que é instintivo pode ser arredondado, aparado aqui e acolá. Mas só até certo ponto. Fora isso ainda que há pessoas impermeáveis a esse tipo de forçação de barra. Também é bom lembrar que nem todo ganho é real. Sempre há espaço para a hipocrisia humana, do tipo "ai que lindo! - só não quero pra mim". 

Não sei até que ponto conseguimos reais vitórias na militância por um gosto estético mais democrático. Penso que jamais saberemos.  Lá no fundo, nos nossos porões particularíssimos, somos o que somos e a partir disso fazemos e faremos nossas escolhas. Nada mudará isso.

REALIDADES BRASILEIRAS