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19 de out. de 2016

O filé da vida

Alguns assuntos sempre voltam. Esse é um deles. Quais foram os melhores momentos da minha vida?

Lembro de quando os meninos ainda eram pequenos. Tantas cenas doces e divertidas me vêm à mente! Eles eram tão lindos, tão frágeis e engraçados! E pensando nisso inescapavelmente lembro do quanto eu mesma era jovem, bonita e cheia de energia. Do quanto ainda sonhava, acreditava, imaginava, queria, tentava. A minha extrema juventude somada a extrema juventude deles me faz acreditar, as vezes, que aqueles foram os meus melhores anos.

Hoje me vejo avó e me deparo com a delicia de ter os filhos criados e não precisar me cobrar por mais nada em relação ao futuro deles. Nunca o futuro deles foi tão deles quanto agora. Nunca tive tão pouco a acrescentar ao futuro deles. E me olho saudável e cercada de netos, ainda cheia de possibilidades. Vivo um momento em que as cobranças, se ainda existem, são mínimas. e ignoráveis.   Estou na idade em que todo mundo quer que a gente se divirta. Não é o máximo?  Acho que em nenhum momento da vida temos tanto direito à diversão. Tudo tem um motivo... Acho que é porque essa é também a idade das grandes despedidas.

A gente se despede, definitivamente, dos sonhos que não vingaram. Há sonhos que nunca deram certo e nunca darão, motivo pelo qual devem ser sumariamente descartados.  Não há insanidade mais escravizante  do que "nunca desistir dos seus sonhos."  Aconselhar alguém a carregar até a morte seus sonhos falidos?  Pelo amor de Deus.   Precisamos ter bom senso. Há certas mochilas existenciais que não precisamos mais carregar..

Despedimo-nos de alguns sonhos, despedimo-nos dos filhos, dos amigos, de tanta gente que está morrendo!

Hoje tenho saúde e disposição. Mas conforme os netos vão crescendo vão se enchendo de amigos e disposição na mesma proporção em que nós vamos nos esvaziando da nossa disposição e dos amigos. Vai chegar o momento em que eles não vão mais querer brincar com a vovó. Seus olhos vão dar uma guinada em direção contrária e seremos apenas uma lembrança, um vulto, uma homenagem ambulante a alguém que foi. 

Hoje posso abraçá-los. Amanhã eles serão escorregadios. "Lisos que nem piaba". É a vida. Então isso tudo me faz pensar - voltamos ao ponto -  que talvez esses sejam os melhores anos da minha vida. Liberdade, saúde, filhos e netos. Mobilidade, amigos ainda. E quando tudo isso me escapar talvez eu volte aqui para dar o veredito final: quais terão sido meeeesmo os melhores anos da minha vida?

15 de out. de 2016

Dia de São Nunca

Mãos passando suavemente pelas minhas costas quando acordo. Não consigo imaginar um desejo mais simples e universal. Não consigo imaginar  um prazer mais simples e barato.

É possível fazer uma pessoa se sentir feliz e querida com bem pouco, se quisermos. Quando recebo esse tipo de carinho sinto um arrepio de prazer e felicidade, uma sensação promissora de que tudo vai dar certo só porque sou amada. Um passar de mãos sem pressa e sem pressão, sem intenção de ser nada além disso mesmo. Nada além do que já é. Gesto caríssimo e sem dificuldade que, justamente por não ter dificuldade pode ser eternamente adiado. É frequentemente o é.

Conheci pessoas que moraram no Rio de Janeiro a vida inteira sem jamais ter ido ao Pão de Açúcar ou ao Corcovado. Não o faziam porque tanto o Cristo quanto o Pão estavam lá pra sempre. Não havia pressa. "Mês que vem talvez eu vá e se não for, ainda posso adiar para o outro e mais outro." Há cariocas que morreram sem jamais ir ao Pão de Açúcar.  Não foram justamente porque poderiam ir sempre.  Adiaram para o "Dia de São Nunca."

Minhas costas não são o Pão de Açúcar. Não estarão sempre aqui. Não podem nem devem ser adiadas. O mundo pode acabar amanhã, você pode morrer ou uma bomba pode nos separar.

Dê-me mãos lisas e calmas e serei feliz.


12 de out. de 2016

Dia das crianças

Hoje é dia das crianças e a gente ouve cada coisa! O mais comum é a manjada afirmativa de que não deveríamos jamais deixar de ser crianças. Acho que as pessoas falar isso meio que sem pensar.
Como assim "jamais deixar de ser criança"?   A pessoa popularmente denominada "retardada"é exatamente aquela que jamais deixou de ser criança. Torna-se portanto alguém eternamente dependente.

Tá bom, não é isso que as pessoas queriam dizer. Talvez quisessem dizer que:

- Jamais deveríamos deixar de acreditar em toda sorte de mentira que os outros contam?
- Jamais deveríamos desconfiar das pessoas por menos confiáveis que elas fossem?
- Deveríamos rir de tudo e levar tudo na brincadeira ainda que tal atitude colocasse nossa vida em risco?
- Deveríamos nos recusar a ter uma boa alimentação preferindo sempre doces e porcarias vendidas em saquinhos?
- Deveríamos continuar tomando banho e escovando os dentes só quando fossemos obrigados a isso?
- Deveríamos continuar morrendo de medo do escuro?
- Deveríamos continuar sendo manipulado com ameaças de bicho-papão? 
- Deveríamos desconhecer os imensos prazeres que o sexo tem a nos oferecer?
- Deveríamos continuar sem capacidade de nos maravilhar com uma obra de arte mais complexa?

Amei ser criança mas estou muito bem como estou agora. Cada fase tem seu encanto e eu não queria voltar a ser criança por nada desse mundo.

Considerações sobre a verdade

Uma das coisas nos seres humanos que mais dá peninha é quando a gente diz que quer a verdade e implora por ela mesmo não temos a menor estrutura para suportá-la. O máximo que a gente aguenta são fragmentos da verdade. Mais que isso é assassinato.

  A verdade dói? Não só dói: mata.  A verdade requer uma tremenda estrutura emocional. Fragmento de verdade é luz. Verdade inteira é explosão.

Às vezes oramos a Deus pedindo que a verdade nos seja revelada. Muitos de nós temos uma mente curiosa só que curiosidade náo é evidência de preparo. Pedimos que ele complete nosso castelo de informações com os tijolinhos que nos faltam. E se ele dissesse que nenhum dos seus tijolos cabem no meu castelo ilusório? Que tudo o que penso ser verdade não passa de construção infantil da minha mente infantil e que um único tijolo dele destruiria todo o meu castelo que levei a vida toda construindo?

A verdade pesa horrores.

Por que Deus fica tantas vezes em silêncio? Porque ele não mente e a verdade, quando náo é dura demais, é complexa demais. Nós não a alcançamos por mais que nos explicasse. E se é para eu não entender, pra que explicar?

"Por que ele não me quer?"  A resposta poderia destruir você. 
Por que ainda não fui aprovado em nenhum concurso?" A verdade pode te lançar num buraco de depressão.

Talvez o caminho para a felicidade e paz de espírito não seja termos nossas perguntas respondidas. Estou convencida de que a felicidade está em não precisarmos de todas as respostas. A paz vem de amar a vida com seus mistérios e seguir em frente sem encasquetar. Se eu fizer as pazes com o silêncio estarei fazendo um pacto com a vida. Porque a verdade toda, completa, sem rodeios, pode não me fazer bem HOJE. Amanhã talvez. Na eternidade com certeza.

Por que Deus não me diz toda a verdade? Talvez não seja por nada disso que eu falei acima. Talvez não seja pela dureza ou crueldade dela mas pela sua complexidade e extensão. Talvez a verdade inteira seja tão grande mas tão grande que não me caiba.  Cada explicação, para sem verdadeira, tem que ser completa e para ser completa traria em si informações demais. Impossível qualquer ser humano seguir o raciocínio. Nem tudo pode ser resumido. Por mais que Deus "zipe"a resposta talvez nem assim ela caiba no meu HDzinho.

Talvez não devêssemos pedir a Deus  toda a verdade. Peçamos somente a verdade possível, a verdade inteligível, a verdade que convém nessa hora e nesse espaço. Ou talvez eu não devesse pedir nada, apenas confiar que ele sabe o que faz e minha parte é ser feliz.

Melhor assim, né? 

11 de out. de 2016

Coca Cola e estrelinhas

Estou eu aqui de peito estufado, satisfeita comigo mesma por não ter desperdiçado meu dia. Cumpri as tarefas propostas por mim mesma e estou cansada. Estou cansada, mas é desses cansaços dos quais a gente se orgulha e faz questão de contar para alguém. Tanto é assim que estou esfregando na cara do mundo a dureza do dia e miinha correspondente virtude.

É o cansaço dos justos. Sim, eu o tenho. Aquele cansaço que se faz muito bem acompanhar por alguma espécie de dor - de preferência nas pernas ou costas. Suponho que a glória seja maior quando alguma coisa dói.  Pois estou dolorida pelos exercícios de ontem, na academia. Não sei se conta ponto mas essas dores bem poderiam ter me impedido de ser útil mas não impediram. Decidido: conta ponto sim.

Observo então meu dia, que coloco diante de mim como quem olha satisfeito os rasgos de sua roupa de guerra.

Claro que esse sentimento exaltado não é para tanto. Não salvei nenhuma vida mas na falta de coisas mais louváveis para me orgulhar congratulo-me pelo meu pouco que não foi tão pouco assim , se não eu não estaria cansada. Se minha labuta não foi das mais gloriosas tenho a dizer que quem vence a preguiça já está no lucro. Vou então tomar banho e depois dormir cheia de estrelinhas no peito. 

Um dos efeitos nefastos de se ter um dia produtivo - sim, há efeitos nefastos! -  é isso: beber Coca Cola. É dar-se ao prazer de transgredir até contra si mesmo só por acharmos que merecemos. A trabalheira seria então uma espécie de compra de indulgência.  Brindo-me com o mal depois de ter feito o bem. Muito estranho isso: jantei, a sede veio. Ao invés do insípido copo d`água ou cansativo suco natural resolvi matar a sede com um copão de Coca Cola. Só porque posso. Só porque tenho moral pra isso.

Poucas coisas são tão loucas e contraditórias quanto as desse tipo:  a capacidade de uma pessoa premiar-se com o mal como se o mal fosse bom. Ou como se uma coisa justificasse a outra. 

A Coca Cola, no caso, é o mal supremo. É o supra-sumo do desmando alimentar. Pois veja: dou-me o direito de fazer esse absurdo só porque fui legal. Posso me comportar mal porque me comportei bem. Desse jeito o certo fica parecendo errado, pois do peso de tê-lo executado  fiz por merecer um prêmio. E o mal passa por bem porque é com ele que me compenso pelo transtorno de ter agido corretamente.

Há algo de errado nesse jogo de compensações cínicas.  Mereço uma reprimenda. Mas quem dirigiria palavras duras a uma guerreira que vai dormir com o peito cheio de estrelinhas?

4 de out. de 2016

À espera de um milagre

Vez por outra esse filme me vem à mente. Acho que já escrevi sobre ele em outras ocasiões. Mas como todos os pensamentos obsessivos, ele volta.  Volta primeiramente porque fui uma das raras pessoas que achou esse filme "um pé no saco". Chato, piegas demais, sem cabimento, bobão.  Mesmo assim  esse filme sempre "ataca de novo"porque tenho mania de ficar me medindo por ele. Tenho pouca sensibilidade? Será que sou má? As pessoas legais que conheço acharam esse filme o máximo. Estou na contramão. Deve haver algo de errado comigo.

Hoje o filme voltou novamente mas por outro motivo: ultimamente tenho me identificado com aquele personagem do bem, o "negão"(Michael Clarke Duncan  em seu personagem John Coffey) .  Eu não entendia muito a postura dele na história. Ele era apenas um mala que não dizia coisa com coisa e não fazia questão nenhuma de se defender das acusações "porque o mundo está muito cheio de maldade"é bla bla bla. Aí ele chorava, fazia careta e eu me irritava.

Sei lá... Acho que estou começando a entender o que é cansar de ver maldade. Estou amarga hoje. É muita notícia assombrosa todo dia o tempo todo. Perdi a fé na humanidade. Será que vale a pena viver e ver tanta maldade no mundo? O negao estava certo: cansou. Cansou, aceitou a pena de morte. Jogou a toalha.   Não importa que fosse inocente; ele simplesmente estava de saco cheio de se deparar com o mal sem cura, o mal persistente, o mal cínico e desafiador. O mal, enfim.

Agora uma voz lá no fundo do meu coração me diz que há beleza demais no mundo também. Há prazer demais no mundo, há música, riachos, sol, crianças, bichinhos. Se os meus olhos forem maus eu só vou ver o mal. Mas se meus olhos forem bons eu vou ver o outro lado e acabar concluindo, como todos os puros de espírito concluem, que viver vale a pena.

Vou rever o filme qualquer dia desses só pra ver se eu evolui um pouco. Até lá acho que vou continuar frequentando minha pequena sacada. A noite está fresca, há pessoas relaxando de barriga cheia em cada uma dessas janelinhas dos prédios do mundo. Há crianças rindo a valer. Estou segura, relaxada, escrevendo e ouvindo música.

Como pode tanta beleza e tanta feiura habitarem o mesmo lugar?

Empachamento

Ando ultimamente com uma sensação constante de empachamento. Como se meu estômago estivesse muito cheio e eu vestisse algo apertado. É incômodo. Não estou tão fora de forma assim mas a sensação é de um "empachamento emocional". Ainda que eu não esteja definitivamente gorda é assim que me sinto, tanto quanto me sinto "empachada"sem ter comido muito e sem estar com um jeans dois números menores.

Acho que também estou "socialmente empachada". E quem sabe até mesmo "espiritualmente empachada".
Hoje vi a notícia de que umas adolescentes pegaram uma inimiga - também adolescente - e a surraram e torturaram por horas. 

Primeira reação: angústia. Angústia por ser possível que pessoas tão jovens já estejam tão podres. E angústia por nossos sistema que incentiva tais atos. Se a pessoa faz "e não pega nada", continuará fazendo e outros, igualmente pervertidos, se animarão a cometer coisas semelhantes.

Segunda reação: Passar horas tecendo fantasias tenebrosas de vingança. Me ponho a me imaginar em tal situação, sendo mãe da vítima. Eu descobriria quem são as meninas, contrataria pessoas que as "quebrassem de porrada"até que elas se arrependessem até do que nunca fizeram. Seriam surradas impiedosamente. Ficariam meses "refletindo"em um hospital. Sim, eu pagaria. Eu me vingaria.

Terceira reação: passar dias me sentindo um lixo por ter me permitido acalentar sentimentos tão baixos, tão miseráveis, tão "das trevas", tão "nao-cristaos".   Tristeza por notar que não evolui nada, que eu não daria a outra face, que eu queria vingança. Tristeza porque minha primeira reação não foi dizer "Pai, perdoa! Elas não sabem o que fazem!"

Quem sou eu, na verdade?
Essas fantasias são uma expressão da minha verdade ou apenas bravatas da alma? Essas fantasias de vingança tem chances reais de se tornarem realidade ou na hora eu desarmaria meu coração e alcançaria a graça de perdoar?

Quem eu sou?
Quem eu sou DE VERDADE?
O que eu faria de verdade?
Eu mataria? Me vingaria? 

Isso me inquieta. Deveras.

Pai, perdoa-me. Eu não sei o que faço.

23 de set. de 2016

E tudo começou com uma moedinha...


É chato ser chamada de miserável. Mas já fui porque reclamei dos flanelinhas que insistem em se auto contratar para desempenharem a "dificílima" tarefa de olhar os nossos carros.

Por muito tempo me recusei, na medida do possível, a pagar tal imposto. Hoje me rendi. Não sei o que é pior: o olhar ameaçador desses "cidadãos de bem" ou a pressão social dos "amigos" que acham que temos que nos sentir culpados por andar de carro próprio.

Antigamente as pessoas achavam que tínhamos o dever moral de fazer papel de babacas, tudo em nome da "caridade". Disfarçavam a covardia debaixo de um sorriso bonachão e trêmulo de quem não quer conflito.   Se há uma coisa que me irrita é covardia disfarçada de caridade.     Agora como a coisa cresceu, enraizou e tomou conta de tudo, estes mesmos já começam a reclamar. Tarde demais. Antes nos chamavam de miseráveis. Agora que o valor da "taxa" só faz crescer e já estão até exigindo pagamento antecipado, reclamam.   

O brasileiro perdeu a noção dos seus direitos. Sou uma incentivadora de atos de generosidade. Não faz bem a ninguém se trancar em uma bolha de egoísmo.  Mas uma coisa é DAR e outra bem diferente é ser EXTORQUIDO.

Pra extorsão não existe valor mínimo. O valor será sempre crescente. 

É necessário entendermos que se hoje alguém se julga no direito de me exigir dois reais, nada o impedirá de aumentar o valor para vinte amanhã. Se continuarmos assim, em pouco tempo teremos que começar a pagar pedágio pra bandido.  E não espere que o poder público nos defenda. É mais fácil o governo se associar a eles.

Há uns anos, quando estive no Rio, fui estacionar perto do Pão de Açúcar e o bandido da área  queria cobrar trinta reais para eu deixar o carro em via pública. Não, eles não estão tomando conta dos carros. Eles simplesmente tomaram posse da rua e cobravam por seu uso.  Nossos governantes não fazem nada. Um ladrão não se indigna contra outro ladrão. Há uma camaradagem implícita.

Nossa idiotice é tão crassa que observei por várias vezes pessoas amigas dando dinheiro a flanelinha com ar blasè, posando como se fosse um charme muito grande fazer papel de otário. Posando como quem diz "sou bem sucedido, umas moedinhas não me farão falta. Eu posso."   Dar dinheiro seria então uma evidência de que você está acima da plebe.

Se cinquenta reais por mês não fazem diferença para você então porquê não o dá a quem trabalha? Por que não aumentar o salário da sua empregada? Ou dê de gorjeta mensal para o porteiro.

Ah, e tem mais essa: eles já têm até associação! "Associação dos Flanelinhas, Lavadores e Manobristas" . Que direito pode ter alguém que me subtrai direitos?   Lavadores e Manobristas tudo bem mas querer remuneração por "olhar" o meu carro ? E sem meu consentimento?   Eu olho centenas de carros todos os dias e nunca ganhei um tostão com isso.


Ser explorada pelo Governo é uma fatalidade para a qual eu não contribuí. Mas pagar imposto para flanelinha foi uma coisa que CADA UM DE NÓS PLANTOU por pura palermice. Você, que sempre criticou pessoas como eu, é um dos responsáveis por estarmos nas mãos deles.

E antes que você me corrija eu já vou dizendo: NÃO, isso não é caridade; é extorsão mesmo.

19 de set. de 2016

Eu perdôo o Neymar

Não entendo como é possível uma pessoa plantar manga e querer colher banana. Vejam só: pegam um adolescente pobre e, dizendo que ele é um pequeno gênio do futebol o colocam num altar.  Dali pra frente, sempre diante de holofotes e aplausos, submetem-no à seguinte rotina: eles o elogiam, adulam, lotam seus bolsos de dinheiro, comentam cada detalhe da sua vida como se isso tivesse alguma importância para o destino da humanidade, adulam, aplaudem,  imitam, oferecem a própria filha. Depois de vários anos de "tratamento intensivo" essas mesmas pessoas ficam indignadas quando descobrem que ele não se tornou um cidadão humilde.  Só pode ser piada.
Estou falando do Neymar. Vocês criaram o Neymar! 

Aprendam: quando a gente passa a vida tratando uma pessoa como se ela fosse especial, muito provavelmente essa pessoa va acabar acreditando que é mesmo uma pessoa especial. Ela foi convencida disso.

Neymar é humano e previsível. É suscetível a influencias externas. É produto do meio. Não é assim que se diz?  Então estão reclamando de quê?

Eu perdôo o Neymar.

4 de set. de 2016

Um certo tipo de beleza

Odeio usar termos batidos.  Queria uma expressão mais criativa para a velha e gasta "beleza interior". Enquanto não encontro, prossigamos.

Há um certo tipo de poder - podemos chamar assim? Um certo tipo de sedução que não se mede por exterioridades.  Essa coisa misteriosa se torna mais "perigosa" que a beleza física justamente porque nos desarmamos diante dela. Não farejamos o perigo.  Somos então pegos de surpresa.

Não estou aqui afirmando que não existam pessoas "feias". É politicamente incorreto afirmar isso mas não me importo. Existe sim. Mas essa suposta feiura não causa o estrago que alguns supõe causar.  A feiura é frequentemente desarmada por um espírito brilhante.  Ela perde o seu poder de estragar as coisas. Há  "algo mais" dentro da gente. 

Essa coisa interior que doravante chamaremos de "alma" tem sua existência comprovada justamente quando vamos a um funeral.   Na maioria das vezes a pessoa morta  não se parece muito com ela mesma quando viva. Já perceberam isso? Sempre achei estranho esse fenômeno.  

Um travesseiro cheio não se parece em nada com um travesseiro murcho. Tá bom, essa comparação não é muito boa mas dá pra entender o que eu quero dizer.

Uma pessoa tem a aparência completamente alterada quando está feliz, quando está com inveja, quando está com ódio, quando está dormindo, quando está doente, apaixonada, quando se ama, quando se odeia. Quem se acha feio, fica mais feio ainda. Ninguém precisa se achar bonito para ser menos feio. Basta que a pessoa não se importe com o julgamento dos outros, deixe esse concurso de beleza pra lá e trate de viver. Basta isso para se manifestar uma personalidade muito atraente.  

Por mais que a beleza seja relativa - e é - acho tolo demais ficar tentando convencer o feio de que ele é bonito. Pra quê? Pra ele continuar acreditando que a aparência é tudo?  O feio precisa ser convencido de que isso não importa e que a felicidade dele não depende dos aplausos alheios.  Ele precisa entender que precisa precisa deixar de ser superficial. 

Existem pessoas realmente atraentes, realmente interessantes e que  não são "bonitas". Ou são, mas daquela forma misteriosa, não da forma obvia.  Elas possuem um certo magnetismo que não sabemos explicar bem como funciona.  São bonitas mas não sabemos dizer "em quê" são bonitas.  Em suma há algo nelas que faz com que as tratemos como se fossem bonitas, que as desejemos como se fossem bonitas, que nos apaixonemos  como se fossem bonitas.  

Acho essas qualidades muito mais desejáveis do que uma aparência perfeita. Não vou ser hipócrita. Eu gostaria de ter uma aparência perfeita sim, mas esse é o tipo do tesouro que se deteriora rápido demais. É uma riqueza que se possui por muito pouco tempo.

Admito que alma também envelhece e até envilece. Mas isso não é uma sentença implacável.  Não está no script que tem que acontecer.

Para o corpo existem tratamentos, maquiagem, exercícios, roupas, remendos diversos. Para o embelezamento do espírito existe a convivência com as artes, com boas companhias, a espiritualidade sadia, o contágio do belo, a  prática do amor, o desenvolvimento do auto conhecimento, a generosidade, a prática da compaixão...

A feiura interior não é um destino de todos os mortais. Acho que por dentro talvez sejamos muito mais moldáveis do que por fora. 

Se eu pudesse escolher um tipo de beleza eu iria preferir a beleza que não desvanece. Eu ia preferir o charme irresistível que vem da alma e ofusca o corpo e tudo o mais.



1 de set. de 2016

Desunamo


Chega a ser engraçado ver pessoas "neutras"cobrarem cabeça fria dos brasileiros nesse momento triste na nossa história. A gente vê a Constituição ser prosituida, cuspida e aviltada, vê baderna, vê todo tipo de roubo e de engano. E não podemos ficar irados e manifestar livremente essa ira justa. Por que não pode? Porque incomoda os "isentos". 

Há uma categoria de pessoas que ou está do lado errado ou está "isenta". Por medo de mostrar que simpatiza com a banda podre a pessoa posa de "imparcial" nos momentos mais críticos.  Não se incomoda com os terroristas , com grupos ameaçadores, com o quebra-quebra. Nada disso incomoda. Nunca se manfestam quando essas pragas estão corroendo nossa vida social. Mas quando alguém se levanta para protestar e mostrar indignação... Aí sim a pessoa se manifesta pedindo um comportamento ZEN de quem se vê afundando. Querem que afundemos em silêncio por ser mais "elegante".

Esse tipo de pessoa, quando não está defendendo a banda podre resolve dar  o braço a torcer de uma forma muito peculiar, dizendo que tudo bem, "os dois lados estão errados".  Não podendo defender os nojentos tenta jogar todo mundo no mesmo balaio. Ou então faz como eu já disse: posa de isento e cobra isenção silenciosa (é conivente) dos outros.

Não sei essas pessoas não se mancam ou pensam que a gente não as enxerga. Não sei qual é a delas. E sinceramente não quero saber.

REALIDADES BRASILEIRAS