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2 de mar. de 2021
DOUTOR "FONTE"
25 de jan. de 2021
Meu diário, minha pirâmide *
Há anos que quase começo a escrever um diário. Antes porém passo um tempão imaginando o caderno que vou comprar. Depois me pergunto: por que não um virtual? Hoje em dia é tudo na internet. Mas diário de internet não tem o mesmo charme do diário de papel. Diários são registros secretos que existem justamente para ser encontrados. Se Anne Frank tivesse feito um diário virtual ele jamais teria sido encontrado. E se fosse estariam até hoje discutindo se era dela mesmo ou não.
Não, diário de moral é no papel. Caderno capa dura e de preferência sem linhas.
Decidi que quero um.
Diário é uma coisa bem íntima. É o receptáculo do nosso eu inconfessável. Lá estão nossas confissões e sonhos, desilusões e vaidades. Lá estão impressões e opiniões que depois mudarão radicalmente, e delas nos envergonharemos. Por que escrever algo que posso me envergonhar depois? Não sei. Aprendi que nessa vida a gente precisa de um monte de coisas das quais não precisa. E teorizar demais é inútil.
Sim, há coisas humilhantes que precisam ser ditas e em seguida caladas.
Todo diário é como uma pirâmide: tanto esmero em fazer, em decorar e encher de tesouros. Pra quê? Pra enterrar tudo no deserto. Qual o sentido? Não sei. Talvez o sentido seja a esperança inconfessável de ser encontrada, descoberta, decifrada. Ah, a estranha necessidade de fazer e ocultar, revelar e sonegar. E a esperança não dita de um dia renascer nos olhos de um apaixonado por histórias.
Essa é a função do diário: guardar e revelar. Registrar pra esconder. Não me pergunte de novo.
Por isso nunca escrevi um: porque ainda não havia entendido essa contradição. Agora entendi. Sou uma pirâmide.
Talvez só por hoje eu tenha concluído o seguinte: um diário é para ser lido sim. Ponto final. A gente quer que alguém se interesse tanto por nós a ponto de violar aquele frágil cadeadozinho. Somos como a mocinha antiga que, por pudor, não se permite beijar mas sonha romanticamente com o homem que a desejará a ponto de ignorar regras e roubar-lhe um beijo.
Mesmo assim todo diário é secreto.
Se é secreto, pra quê escrever? Se não é secreto, pra quê ocultar?
A gente escreve um diário para alguém. Alguém que não sabemos quem é ou quem será mas é alguém muito querido. Ele lerá com total interesse todos os meus suspiros e impressões. Todo diário é uma homenagem a esse alguém que, ao contrário de milhares, quis saber como me sinto.
Escrever um diário é dizer para si mesmo que essa pessoa existe. Ou existirá. Pensar nisso deixa tudo muito mais relevante. Esse alguém vai sentar quieto, cheio de tempo e boa vontade, e vai se interessar pelo que digo. Sua curiosidade virá com simpatia por tudo o que está ali, em suas mãos. Ele estará propenso a concordar comigo e acolher minhas ideias. Será uma propensão carinhosa, gentil. Ele vai achar interessante a minha visão do mundo mesmo que não concorde. Folheará minhas páginas com cuidado para não se soltarem, de velhas que são.
Talvez isso leve anos para acontecer. Tomara que leve. Mas seja quando for, meu espírito estará por perto. Vou sentar no ladinho só pra ver o jeito dele, dessa pessoa sem face.
É, vou escrever um diário. Vou amanhã comprar um caderno bonito e começar.
Sou uma pirâmide.
17 de jan. de 2021
Obs
Tenho republicado textos antigos misturados com os recentes. Noto agora que isso é um erro. Atrapalha a percepção da mudança sutil que o tempo causa nas ideias, na maturidade. Bagunça tudo. Fica parecendo que tenho surtos repentinos, mudanças drásticas de estados de alma. Acredite: não sou assim.
Mas para quem estou explicando isso? O que importa?
Quando as bolhas espocam *
Não, eu não sou escritora. Tive uns surtos tempo atrás mas perdi a mão. Perdi o trem. Houve vários trens em minha vida e todos se foram.
Há um momento ideal para as coisas acontecerem. Elas se insinuam, brilham, permanecem suspensas por alguns momentos no ar e por fim espocam sem muito alarde, como bolhas de sabão.
Revirei meu blog desde o início. Descobri que lá atrás, no começo, eu escrevia muito, mas muito mal. Ridiculamente. Desejei apagar aquele monte de banalidade mas não o fiz. Não consegui me renegar.
Pois bem, segui viagem e percebi minha fase áurea. Consegui ver aquele tempo quando "as coisas estavam suspensas no ar" sorrindo e me convidando a seguir em frente, me aperfeiçoar, evoluir. Tirei do sepulcro uns textos muito bons, de minha autoria. Tão bons que humilharam-me enormemente pois hoje não me sinto capaz de repetir as façanha. Os tais textos olharam-me de cima para baixo, meteram o dedo em minha cara e disseram: acabou pra você. Foi uma coisa pesada perceber que a fertilidade passou e que a alma também envelhece. Não me sinto mais capaz de escrever nada com aquela qualidade. As bolhas espocaram e fiquei aqui, com o copinho de sabão na mão, sem ação.
Sinto certa saudade daquela Cristina angustiada que escrevia coisas mais sensíveis. E aqui estou eu, com a sensação estranha de que não adianta correr atrás. Que a vida segue sempre em frente e isso não é necessariamente bom. Em algumas estações ela deveria parar um pouco, mas não para.
Só tenho então o computador diante da cara e um impulso tênue de dar mais uns passos só pra não perder muito o jeito de andar. Preciso continuar mesmo que não valha nada, que ninguém queira nem precise. É uma espécie de missão que tenho que cumprir, com ou sem glória. Porque a vida continua marchando feito louca e ela não quer ser esquecida. Ela quer que eu a registre mal ou bem, para a minha glória ou humilhação.
Pois registro sem glamour que é noite, tenho azia e cansei de querer coisas. Olho para trás e vejo tristezas. Sim, há alegrias bem risonhas, mas os véus da tristezas não saem da frente e atrapalham um pouco a olhadela. O futuro é um fim-de-festa onde não preciso me preocupar em limpar o salão. Só quero tirar os sapatos e tomar um banho. E ninguém quer saber o que virá.
Nada incrível vai acontecer amanhã. O que tinha que ser, já foi. E isso é tudo.
O nudistas e suas contradições
6 de jan. de 2021
POLÍTICA: esse Lego infinito
4 de jan. de 2021
SOBRE ABORTO
Bokeh - As pessoas *
"Não é um filme brilhante, arrebatador, de grandes emoções, mas é algo bem feito e que pode propiciar um estudo interessante da natureza humana. Das necessidades imediatas e daquelas que são fundamentais para o ser humano. O que é imprescindível, afinal?"
Bem, metade de tudo o que eu diria já estava lá, desconcertantemente exposto. Sendo assim fui poupada do trabalho exaustivo de primeiro explicar para vocês do quê se trata a película. Ótimo, vamos pular logo para os "finalmentes".
Possivelmente não era intenção do idealizador do filme que ele tivesse uma "moral da história". Parece que ele só queria mesmo instigar. Conseguiu. Mas fui além: achei uma "moral da história" por minha conta. Ei-la:
Por pior que pareça ser o nosso próximo, por mais desprezível que seja o vizinho e mais chatos os nossos parentes; por mais insuportáveis que sejam determinados povos e determinados conhecidos, a vida seria insuportável sem eles. Não necessariamente por motivos práticos de subsistência mas por questões emocionais. O emocional sustenta tudo.
Quando pensamos em um cenário de fim do mundo só nos preocupamos com água, comida, abrigo, energia. Coisas práticas e palpáveis para a manutenção da vida. Tendo isso geralmente pensamos: problema resolvido. Pura ilusão.
Desliguei a televisão e me senti reconfortada por ver carros passando, gente na rua, mensagens no celular, vizinhos. Eu não aguentaria o peso de seguir em frente sem eles. Sem você.
3 de jan. de 2021
Floresta âmbar *
Fome adormecida *
Quando "ouço" esse silêncio dentro de mim, criado pela contemplação de imagens como essa, é quando me dou conta do tanto de barulho que me rodeia e do quanto preciso, desesperadamente, de um casulo.
Algumas necessidades nossas só são notadas quando provocadas. É como quando passamos em uma padaria e sentimos o cheiro do pão fresco. De repente nosso paladar acorda, tudo acorda. Não sabíamos que estávamos com fome. Não se trata de gula. Estou falando de "fome adormecida".
Há fomes que adormecem em nós por pura distração. Excesso de atividades, de passa-tempo ou de barulho. O barulho desconecta nosso cérebro do corpo. Estranho percebermos de repente que estávamos dormindo, enganando nossa alma.
Quando nos apaixonamos também é assim. Abrimos os olhos e percebemos que não estávamos vivendo. Parece que tudo o mais era em preto e branco. A vida era dormente e preguiçosa, indigna de qualquer arroubo. Aí a paixão aparece e o desespero da fome antiga ressurge. "Estou viva e com fome de vida! Como consegui ficar tanto tempo sem viver?!"
Esses "despertares" são tristes e alegres. Interessantes e angustiantes. Nada garante que não adormeceremos de novo.Essas imagens me "desadormecem". Em um primeiro momento preciso do silêncio, da contemplação. Quero ouvir apenas os estalos dos galhos, zumbidos de pequenos insetos e passarinhos lá longe. Meu Deus, como quero isso!
Tomar banho, colocar a roupa mais confortável do mundo, o perfume mais fresco e simplesmente ir. Quero andar resoluta e em linha reta só por ir. Por nada e em busca de ninguém. E sem sentir os pés doerem. Depois vou querer parar em qualquer lugar por tempo infinito deixando os olhos navegarem ao acaso. E depois seguir em frente mais livre do que nunca. E, quem sabe, voltar pra casa com a alma fresca.
Os sons do mundo são opressivos. E essas gravuras despertaram minha fome antiga. Acho que tenho dormido demais.
2 de jan. de 2021
Seremos todos condenados *
Tudo muda e tudo se repete. Não é estranho?
E por quê haveríamos de ser condenados, você perguntaria? Primeiro porque todo mundo gosta de criticar os mais velhos e jura que faria tudo diferente. Outro motivo é que como algumas coisas consideradas normais ontem são consideradas absurdas hoje, esse fenômero tende a se repetir. Antigamente era muito bem aceito possuir escravos porque nem alma eles tinham, ora bolas! Hoje ninguém as tem, então empatamos. Continuamos a ter escravos como antes, mas hoje ninguém mais admite que não tenham a carteira assinada. Isso é evolução.
Marido bater na mulher? Grandes coisas, antigamente! Mas hoje isso não é mais aceito - embora a Justiça tolere bem quando a mulher bater no marido. Antigamente também era normal os pais baterem nos filhos - que horror! Hoje evoluímos: só os filhos podem bater nos pais.
Hoje em dia ninguém mais deforma os próprios pés como as chinesas de séculos atrás. Nossos pés estão incólumes, mas não podemos dizer o mesmo de nossos rostos. Pelo menos ficamos sabendo de antemão que no futuro vão ridicularizar nossas plásticas e botoxes - estamos livres de levar sustos. Minha curiosidade é: o que será deformado futuramente?
Nada como um exercício de imaginação: o que será que nós fazemos hoje e que não será tolerado amanhã? Tenho minha própria lista de palpites:
1- Não será mais tolerado que uma única pessoa ocupe espaço utilizando um veículo onde caberia cinco mortais. Nossos bisnetos vão nos detonar quando descobrirem que fazíamos isso e ainda reclamávamos do trânsito. No futuro ninguém poderá desfilar com um monstrengo sem ser apedrejado por raio laser. Carro para um será carro para um, quase uma armadura em formato de simpáticos supositórios. Mas em um futuro mais distante ainda acredito que vão abolir de vez os transportes particulares.
2- Embalagens de uso único? Nem sonhar! "Descartável" será palavrão. Quer comprar biscoito? Leve seu potinho. Quer refrigerante? Leve sua garrafa. E feijão, açúcar, até desodorante. Voltaremos ao tempo das tabernas. Favor não confundir com "tempo das cavernas".
3- Com a multiplicação da população das mulheres modificadas, vamos chegar a um ponto de esgotamento. Os homens, enjoados da perfeição artificial, vão morrer de tesão por mulher com peito caído, bunda murcha e ruguinhas. Peito duro = pinto mole. Assim como hoje não existem chinesas de pés deformados com menos de oitenta anos, no futuro só as velhinhas remanescentes serão siliconadas, lipadas, botocadas e espichadas. E as crianças se espantarão com suas fotos.
4- Todos os nossos costumes em termo de política serão execrados. Vão criar um sistema mais justo e inteligente e rirão muito de nós, com nossas campanhas ridiculamente mentirosas. Os políticos do futuro serão eleitos por concurso público no qual será incluído um teste de DNA para escanear o caráter. Estarão proibidos de discursar. O exame de laboratório falará por eles.
5- Ficar 10 horas praticamente imobilizado em uma aeronave, viajando em condições angustiantes? Não mais. Um dia as aeronaves de hoje serão vistas como navios negreiros. Os alunos da quinta série ficarão pasmos diante delas, nos museus. Nossos trisnetos ficarão penalizados quando descobrirem como eram os vôos da Gol.
6- Nossos bisnetos também vão condenas os pais de hoje, que se deixaram manipular pelos filhos. O caos social se agravará muito até descobrirem que permissividade é um câncer social. Lá no futuro vão ensinar nas aulas de historia que a ditadura dos pais resultou na ditadura dos filhos mas só agora (no futuro) eles conseguiram chegar a um meio termo aceitável. Mas que os jovens e vão rir das nossas aflições vão, quando os professores contarem, a guisa de exemplo, que antigamente era comum um pirralho sem o menor juízo determinar o horário que seus pais podiam dormir ou determinar se os pais podiam ou não sair sozinhos (sem eles) a noite.
7- Só não vão rir das nossas superstições. Seremos louvados! Assim como os babacas de hoje reverenciam as superstições e crendices do passado, as futuras gerações olharão com reverência os pés de coelho de hoje. Digo isso porque observando a nossa própria história dá pra concluir que no quesito "crendice" e "mistério", a tendência é que não evoluamos jamais.