.

.

27 de out. de 2008

Receita condenada



Época de eleições é a época em que mais repetem uma das frases que mais me irritam: "

O eleitor não sabe votar. Tudo o que está acontecendo é culpa do eleitor porque é ele quem coloca o político lá."

Sempre tem um babacão na televisão (rimou!) dizendo isso com ares de "pensem nisso!"

Sinto ânsias assassinas quando ouço esse tipo de coisa. Primeiro porque a gente só pode votar em quem é candidato. Se os candidatos que aparecem são todos da mesma estirpe, que culpa tem o eleitor?


UMA PARÁBOLA:

Imaginemos que VOCÊ vai participar de um concurso de culinária. Todos os participantes terão que preparar o mesmo prato. Para isso eles tem a disposição uma grande cozinha com todos os ingredientes necessários à execução do prato mas tem o seguinte: é exigência dos organizadores que não pode ser utilizada nem uma pitada de sal que não tenha sido fornecida por eles.

Ao final do concurso os cozinheiros estão frustrados: todos os pratos ficaram horríveis. Nenhum candidato saiu-e bem. Motivo: os ingredientes fornecidos pelos organizadores do concurso eram problemáticos: uns estavam estragados, outros eram de péssima qualidade. Observou-se também que alguns estavam com os rótulos trocados. Como cozinhar bem nessas condições?


Como você acha que os participantes se sentiriam se alguém declarasse que eles eram incompetentes?

Não seria justo dizer isso, uma vez que eles eram obrigados a se limitar ao material fornecido! Se eles pudessem escolher com o que cozinhar, não escolheriam nada do que havia naquela cozinha maldita.

MORAL DA HISTÓRIA:


O mesmo acontece conosco. Nas eleições somos incentivados a fazer grandes mudanças no país, votar com consciência blá blá blá... Louvam as maravilhas do poder do voto mas ninguém faz a ressalva de que se a receita desandar a culpa pode estar na qualidade do material oferecido.

Só posso votar em quem é candidato.

Esse é o primeiro motivo pelo qual fico irritada com a tal frase infeliz. O segundo motivo é o mesmo. O terceiro, também. Fico três vezes irada pela mesma coisa.

Cristina Faraon

24 de out. de 2008

Maldade feminina


Conversa de duas amigas durante uma apresentação de um grupo de jazz:

Amiga 1- Hmmmm... Esse músico aí é uma graça!

Amiga 2- Você acha?! Sei não...

Amiga 1- Você não acha? Bem, é que eu tenho um "problema" com músicos: tenho um fraco por eles.

Amiga 2- Ah querida! Te aconselho então a fazer terapia. Financeiramente sai bem mais em conta.

Mulheres... rsrsrs

22 de out. de 2008

Poema sem sentido


Amor se mede?
Na balança:
Sexo, companheirismo,
Capacidade de ir levando
Indefinidamente.
Indefinidamente?

Qual a prova incontestável do amor?
É treinar a surdez dos sentidos
Para não enlouquecer?
É enlouquecer tranquilamente
Como quem sangra?

Bebedeiras, surras homéricas?
Traição, ração rala, goteira,
Mau cheiro, pobreza extrema?
Tanques de roupas sujas?
Dormir no chão?
Invisibilidade mútua?
Fome, muita fome?

Qual o peso do amor?
(Não há aferidor mundiamente aceito...)
Pense nos calos do seu amor:
Quanto ele te cobra
Por passar uma temporada?
Qual o preço de capinar
Seu triste jardim no inverno?
Quais os calos do seu amor?

Um escarro - um beijo de língua
Outro escarro - eu te amo.
Um cuspe - você é tudo pra mim.

Esse poema não faz sentido...

Cristina Faraon

21 de out. de 2008

O esconderijo da felicidade

Eu mesma já repeti, em tom empolado, que "a felicidade está dentro de cada um de nós". Não vou desdizer; vou apenas implicar com isso porque hoje estou com a macaca.

Se alguém viesse hoje me dizer que a felicidade está dentro de mim eu mandaria essa pessoa catar coquinho - no mínimo.

Hoje, em um lampejo, descobri que não há nada mais cruel do que esse lance. Não haveria outro lugar mais facinho para a Felicidade se esconder não? Que saco! Dizer que ela está dentro de mim é o mesmo que ir ao médico doido de dor e ele dizer na sua cara que você não tem nada. Fica tudo na mesma exceto por um novo fato: agora você odeia os médicos.

Se a felicidade estivesse em alguma caverna, hordas de pessoas esperançosas fariam expedições. Muitas morreriam no caminho. Poucas encontrariam. Outras ainda - talvez a maioria - jamais conseguiria juntar dinheiro suficiente para sair por aí procurando a felicidade mas isso não seria assim tão ruim.

Por exemplo: não jogo na loteria mas adoro pensar que um dia pode me dar um estalo (ou algo mais glamouroso) na minha cabeça e de repente eu entrar em uma casa lotérica, apostar uns trocados e "bamburrar". Sabe, é reconfortante pensar nisso. Claro que a felicidade em potencial é uma felicidade de "um e noventa e nove" mas é melhor do que nada! Por outro lado, se proibissem as apostas para sempre eu ficaria revoltada, triste, com um pesado sentimento de perda. Não jogo mas adoro pensar que posso ficar rica, que a porta está aberta, basta economizar o dinheiro do sorvete.

Dizer que a felicidade está dentro de nós é mais ou menos como alguém dizer que você é feliz sim! "Procure dentro de si!" Ah, vai tomar no banho!

Se ela estivesse no fundo do mar, no alto da montanha, no colchão do último imperador da China, debaixo da mesquita, no turbante do Aiatolá... aí eu poderia dizer para mim mesma: não vou lá porque não tô a fim hoje mas se for, posso vir a ser a criatura mais venturosa do mundo. Ah... um dia eu me decido, podem anotar.

Mas não! Localizaram a Ventura Infinda dentro de mim. Cara, você tem idéia da bagunça que é aqui por dentro? Esconder a felicidade dentro de mim é como fazer um concurso com o intuito único de não deixar ninguém ser aprovado.

Dentro de mim tem selva, mar, caverna, luz, escuridão, almofadas velhas... Se duvidar tem até turbante de aiatolá. E peixe frito. Não duvide não. E plantação de manjericão com anjos jardineiros tocando harpa. É por aí.

Faz o seguinte: quando eu estiver de mal humor (como hoje) diga que a felicidade está no Céu com os anjinhos... Ou diga que ela não existe. Isso! Fica melhor. Mas não se atreva a afirmar que ela está dentro de mim que aí eu não respondo pelos meus atos.

Cristina Faraon

14 de out. de 2008

Preocupante

Estou percebendo em mim vários sintomas de velhice:

1- Os homens mais lindos, na minha opinião, foram lindos há uns 40 anos atrás, mais ou menos;
2- As melhores músicas que conheço foram composta há mais de vinte anos;
3- Descobri que aqueles cantores que eu considerava insuportáveis quado tinha 12 anos são, na verdade, maravilhosos;
4- Não acredito mais que eu possa mudar o mundo;
5- As músicas frenéticas tocadas ininterruptamente nas academias estão começando a me enjoar;
6- Começo a concordar que beleza é bom mas não é tão importante quanto eu imaginava;
7- Adoro ficar sentada na cadeira de balanço do pátio de casa. Estou começando a achar isso melhor do que muitos programas que antes me interessavam;
8- Não tenho mais paciência para usar, como antigamente, um sapato desconfortável só por ser lindo.
9- As roupas justas, que eu adorava, estão começando a me incomodar. Entrei numa de priorizar o conforto.
10- Estou pensando seriamente em fazer um lifting;
11- Um cruzeiro marítimo já não me parece mais uma idéia abominável.
12- Minha gaveta já tem permissão para receber algumas calcinhas confortáveis, não só as sex;
13- Começo a me sentir ridícula de mini saia - coisa que sempre adorei.
14- Uso tranquilamente roupas que há um tempo atrás eu achava "de velha".
15- Também uso bijuterias, tonalidade de batom e de esmalte que me paerciam coisas "de velha".
16- Os mais jovens já riram de algumas de minhas gírias que (dizem) não serem mais usadas há uns 15 anos pelo menos.
17- Não vejo graça nesse lance de "ficar".
18- A gritaria e risadagem sem fim dos adolescentes me cansam a beleza.
19 - Não faço mais exercícios físicos apenas por motivos estéticos.
20- Adoro ambientes tranquilos;
21- Não tenho mais a menor tesão em sair pulando atrás de um trio elétrico. Na verdade nunca saí, mas antigamente eu tinha vontade.
22- Descobri que eu não era uma adolescente horrorosa;
23- Lamento imensamente os anos que sofri me achado uma bruxa desengonçada. A adolescência é mesmo uma porcaria.
24- Nunca mais senti aquela sensação desagradável de ser horrorosa.
25- Não fico imaginando o que vou ganhar em meu aniversário ou no Natal.
26- Jamais namoraria um hippie. Antigamente eu os achava o máximo.

Tem mais, mas não vou escrever agora. Estou cansadinha.

Cristina Faraon

3 de out. de 2008

A importância de um blog em nossas vidas



Descobri que o uso do blog tem uma função social inestimável. Ele nos ajuda, entre outras coisas, a sermos mais palatáveis em nosso meio e, assim, mantermos nossos preciosos amigos.

Trocando em miúdos: a principal função de um blog é poupar os ouvidos dos outros. Um blog nos livra do mico de pulverizarmos pelo mundo as nossas opiniões desnecessárias.

Eu mesma tenho opinião pra praticamente tudo, da existência de vida extraterrestre a legalização do aborto, da importância do trema ao sexo dos anjos. É só me consultar.Lâmpada

Felizmente também tenho auto crítica e penso: será que as pessoas estão mesmo interessadas em saber como foi meu dia ou o que penso a respeito disso ou daquilo? É aí que entra o blog! Sabe, você tem a impressão de estar falando para uma multidão atenta e paciente com todo o tempo do mundo. Não é o sonho de todo orador? Não é o sonho de todo o chato? Não seria o SEU sonho, caro leitor? Dá pra curtir longamente essa fantasia como uma espécie de orgasmo múltiplo. Ao mesmo tempo não lhe pesará a dolorosa desconfiança de estar sendo um mala sem alça. Lê quem quiser - você é inocente.

Ah ... Suave consolo de quem precisa se expressar!

Olho para o meu passado e sinto um certo desconforto. Eu era chatona. Era só alguém "dar mole" que lá vinha eu com minhas idéias. Pior: todas as idéias eram defendidas, não explanadas. Sabe, acho que eu tinha um quê de militante não sei-de-quê. E como todos sabemos, e ninguém aguenta papo de militante.

Em meu achismo irrefreável acho agora que todos os militantes do mundo deveriam ter um blog. Deveriam ser forçados a isso sob pena de serem escurraçados de seu habitat. O lance é terapêutico! Eles despejariam na internet toda a sua indignação ou amargura ou seja-lá-o-que-fosse e aliviariam suas represas emocionais. O que sobraria para os nossos ouvidos seria uma ou outra palavra de ordem perfeitamente digeríveis.

Que bela trégua dariam para os amigos na mesa do bar! Já chegariam ali com a alma lavada e enxaguada. Ninguém teria medo de tocar "naquele" assunto porque saberia que o tal Ser Pensante limitar-se-ia à breve curiosidade do questionador e brindaria a todos com o mínimo necessário em palavras, uma clara e breve explicação para depois escorregar alegremente para outro assunto. Seria assim porque tudo o mais já estaria devidamente publicado no blog. Brilhante!

Mesa de bar e festa de amigo é para falar abobrinha. Até quando o assunto é sério, nessas ocasiões ele precisa ser rapidamente esculhambado se não, não tem graça. E é para ter graça.

Só para você ter uma idéia: se não fosse esse blog eu já teria sucumbido a tentação de ser militante de blog: invadiria festas e bares tentando convencer as pessoas da necessidade de blogarem para não enfadarem nem enfartarem. Como tenho esse espaço, vou salvar o texto e ficar calminha calminha.Não conte para ninguém

Cristina Faraon

30 de set. de 2008

Pedaços

Queria ter a determinação da Madonna
A simpatia da Ivete Sangalo
A beleza da Ana Paula Arósio
No meu próprio coração.

Queria ter a fluência do Maluf
A animação da Hebe
A inesgotável esperança da mamãe
E ainda os meus próprios filhos.

Escrever como Machado de Assis
Ser iluminada como Vinícius de Moraes
Ter a sensibilidade tocante do Chico Buarque
E continuar querendo entender as pessoas.

Queria a capacidade de renúncia de São Francisco de Assis
A força interior de Joana D'Arc
Falar de Jesus como o Pastor Rosivaldo
E ainda ter o mesmo passado de cuidadora de bebês.

Amar como Florbela Espanca
Como Mandela, ainda conseguir sorrir depois de tudo
Ter as mãos benfazejas de uma massagista
Ainda em minha pele morena.

Queria ser tudo o que sou
E mais o que não tenho
Sem com isso deixar de ser
Essa Cristina que você não conhece.


Cristina Faraon


28 de set. de 2008

Lá se foi mais um...

Não ando por aí chamando de bonito qualquer mais-ou-menos que apareça. Quando eu carimbo de lindo - Selo de Qualidade Cristina - é porque é mesmo e não tem discussão. Pois o Paul Newman sempre elevou-se sobre a humanidade como um dos homens mais bonitos que já "conheci". Bonito demais, indiscutivelmente másculo (virtude rara), o charme em pessoa. Tesouro. Deus o tenha.


Veja aqui mais algumas fotos delezinho.
A notícia de sua morte - 01
Notícia de sua morte - 02
Assista uma entrevista.

27 de set. de 2008

Fumando em nome de Deus



Esses dias fui à igreja (não digo o nome nem sob tortura) e ao final do "evento" o grupo musical tocava umas músicas em volume tão alto mas tão alto, que minha vontade era ... era... era fazer e dizer coisas que Cristo não aconselharia. Aquela barulheira me inspirava a agir contra o Evangelho. Era horrível, estressante. Por que não nos inspirar a um momento final mais gostoso? Porque não cooperar com os agradáveis reencontros e conversas com os amigos? Porque inviabilizar isso tudo e tornar nossos últimos minutos na casa de Deus em algo desagradável? Por que nos expulsar daquele jeito?

Tentei inutilmente conversar com algumas pessoas mas foi em vão. Gritei, irritei minha garganta, maltratei meu ouvidos... Conclusão: não tenho vontade de pisar naquele lugar no próximo domingo.

Acho o seguinte: casa de show é casa de show, boate é boate, trio elétrico é trio elétrico, feira é feira e igreja é igreja. E tem mais: "barulhar" no ouvido dos outros não é menos errado do que fumar "no pulmão" dos outros. Ambas as coisas são desagradáveis e prejudiciais à saúde. Não pense que, por o barulho ser feito "em nome de Deus", ele se tornará menos nocivo.

E tenho dito.

Cristina Faraon

20 de set. de 2008

Olhos de Fogo

Acho que esta sou eu com meu vestido amarelo de verão. Foi na década de 30 e nem sei como meu pai permitiu que eu saisse assim, para ser tão demoradamente observada por você.

Debaixo do chapéu meus cabelos negros e limpos não se deixam observar nem serem tocados sequer pelo vento. Pensei que um dia o verias solto em nossa alcova de casados... Naquela manhã ele apenas se enroscava, tranquilo guardião da minha nuca.

Creia que esta fui eu quando tinha a pele alva e preservava cuidadosamente o caminho dos meus olhos. Sim, te olhava vez por outra. Interpretava uma timidez que não tinha e que no entanto era o meu principal adorno.

Posei pra ti em uma rara manhã. As manhãs contigo eram raras. O sol se movia com vigor para o centro do céu. Meu vestido de crepe levou consigo areia quando levantei e o vento cochichou-te o meu perfume.

Essa era eu com minhas pernas fortes e coxas virgens.

Se meu pai permitisse eu posaria pra você mais vezes e em muitas outras cores. O tempo seria sempre eterno como nos quadros, como na mágica dos teus pincéis. Vez por outra verias meus dentes brancos. Deixaria que me olhasses mas não focaria teus olhos de fogo.

Queria ser a esposa que sonhaste, o sague azul, o corpo imaculado guardado em camisolas de algodão, leves como pele de ovo... e em meu quadril perfeito seriam forjados teus filhos e eu não morreria no parto.

Se eu não fosse a mulata que sou, voltaria a ser marfim de 1930. Deixar-me-ia pintar assim, fingindo ser livre e com uma sensualidade vivaz escorrendo pelo sorriso. Em meu silêncio pareceria a ti que ali mesmo poderia se tua se tão somente me tomasses pela mão.

Em algum recanto de mim sou assim. No olhar que não te lanço, no sorriso contido e nas maneiras suaves sinalizo tudo o que pressentimos que sou. Sinalizo para você, Olhos de Fogo, tudo o que nós sabemos que posso te dar se tão somente me tomares pela mão.

Cristina Faraon

12 de set. de 2008

Árdua garimpagem


É louvável descobrir novos talentos. Três vezes louvável e necessário prestar atenção às novas produções artísticas, sob pena de murcharem nossos cérebros e encolherem-se as nossas almas uma vez viciadas em sentimentos velhos e repisados. Os garimpeiros do novo são os que nos livram do ressecamento de nosso senso de beleza.
Boa sorte aos garimpeiros! Mas não esperem muita cooperação de minha parte. Claro: estou assumindo meu egoísmo e preguiça.

O que é mais prazeroso: garimpar dias e meses até conseguir uma ou outra pepita ou visitar a joalheria e deleitar-se com o que indiscutivelmente é belo, é ouro e já vem com certificado de garantia?

Claro que nem tudo o que se vê na vitrine é realmente precioso mas é muito mais fácil encontrar algo de bom ali, nos carpetes vermelhos e prateleiras de cristal do que escavando terra.

Já li algumas obras de Machado de Assis. Sempre lamento que ele não esteja mais vivo para que eu possa beija-lo, alisar-lhe a estranha barba, bajula-lo e tudo o mais. O cara era o máximo! Inteligente, deliciosamente espirituoso, criativo, cativante, profundo. Ler Machado de Assis é ir direto à joalheria e dar de cara com peças raríssimas, caríssimas e lindas. É o gozo.

Este é apenas um exemplo. Existem numerosos outros. Gabriel García Márquez também é um banquete assim como Sheakespeare, Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa. Por que eu gastaria meu precioso tempo procurando agulha em palheiro? Posso encontrar agulha em palheiro? Claro que posso, mas dá um trabalho...

Quando sinto comichões no cérebro não costumo logo aventurar-me pelos garimpos enganosos das livrarias. Não! Bem antes disso vou primeiramente (e comodamente) à lista dos grandes escritores, das grandes obras. É como pescar no aquário. Sou o Garfield das letras.

Não sou um exemplo a ser seguido. Mesmo porque se for seguido a primeira prejudicada serei eu mesma. Gosto de escrever, obviamente de ser lida e adoro imaginar que um dia serei descoberta e saudada pela crítica literária. Como torço para que eles não pensem como eu e que pacientemente me procurem, achem e finalmente consagrem. Quanto a mim... continuarei comendo só o filé do filé.

É certo que os resultados desse método de procura não são cem por cento garantidos. Há casos como “Sonhos de Uma Noite de Verão” que pelo amor de Deus! Mas esse é um caso em cem!

Antigamente eu achava que talvez os autores obscuros fossem vítimas de má vontade ou que uma nuvem de azar lhes perseguisse desde o nascimento. Não é bem assim - e note que eu mesma sou obscura! Lendo os grandes mestres noto que a distância entre eles e o comum é tão grande, mas tão grande, que eu (como obscura que sou) sinto vontade de não escrever nunca mais. Claro que essa vontade logo passa. Eu posso ser reles e eles inatingíveis, mas continuo escrevendo assim mesmo porque a final de contas preciso respirar.

Será que cada um de nós não é aquilo que merece ser? É certo que muitos estrelões só foram glorificados bem depois de mortos, apodrecidos e esfarelados pelo tempo. Tudo é tão relativo! Mas continua a pergunta: haveria mesmo um demônio de injustiça dominando os ares?

Cada um de nós é aquilo que consegue ser, e não adianta espernear. Eu estou escondida nas Serras Peladas da vida... mas como aprecio uma joalheria!

Cristina Faraon

REALIDADES BRASILEIRAS