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26 de mai. de 2007

As despetaladas

Conhece essa atriz? Repare com cuidado.
Este rosto pelo menos lhe parece familiar?

Trata-se de uma atriz famozézima. Uma ex-gostosa. Você assistiu novelas e filmes estrelados por ela. Você a invejava. Ela era linda, roliça. Tinha coxas grossas que configurava crime serem escondidas em calças compridas. Ela era obrigada por questões morais a usar mini saia. Era rosada e seu sorriso mostrava saúde, vitalidade e muito gás a ser gasto com amor, amor, amor. Era uma garota completamente abraçável, apalpável, apertável e fungável. O problema é que ficou famosa demais e o que se seguiu a isso foi a pressão para jogar as carnes fora. Pois é, a iludida aí trocou a beleza real pela beleza virtual, que só convence em fotos, com muita maquiagem e, de preferência, embrulhada em alta costura.

Eu, hein!

Diversas vezes me surpreendi ao rever atrizes ex-gostosas. Mulheres lindas que viraram esqueleto, envelheceram uns 8 anos, trocaram coxas por cambitos e hoje ainda conseguem sorrir confiantes. Estranho, estranho mesmo! Quando vejo essas mulheres sempre exclamo "-Por que será que ela fez isso consigo mesma? Que lástima! Ela era tão linda!"

Lembra como antigamente a Fernanda Torres era um amor em sua beleza roliça e branca? Um anjo barroco! Ela não era gorda, apenas tinha carne. Que mal havia nisso?

Outra que se detonou e envelheceu uns 10 anos rapidinho foi a Cássia Kiss. Era tão bonita! Mas emagreceu impiedosamente. Dá até agonia de olhar.

Quer mais um exemplo de mulher que estava incomodada com a própria beleza? A Débora Secco. Virou palito. Um palito bem produzido, claro. Mas palito.

Sobre a Giselle... não sei se algum dia já teve bunda, coxas e cintura. Acho que nasceu assim mesmo: rosto e cabelo. Tudo bem, não tem culpa. Mostrou-se até inteligente por ter conseguido tirar proveito da própria carência.

Agora me digam: o que esse povo da moda tem contra as coxas? Principalmente aquele par que transborda em quadris redondos, dançantes e apetitosos? Vai dizer que é feio?

Vou pedir uma coisa: nunca mais elogie uma mulher bonita. Cale-se. Finja que não viu. Elogio hoje em dia funciona como maldição: no mês seguinte a sua deusa pode ter sido transformada em escombro de ossos sorridentes. E o pior: a culpa vai ser sua!

Sendo assim, manifesto aqui meu sincero pesar por todas as antigas flores que se livraram das pétalas e hoje sobrevivem como caules.




12 de mai. de 2007

Com motivo




Tenho bons motivos para postar estas fotos.
Sei que elas estão famosas na internet. Você já deve te-las recebido mais de uma vez em seu e-mail, enviadas sob o título de "Um Minuto Antes da Surra."

Essas fotos não estão aqui apenas por serem engraçadas. A intenção não é fazer rir; é fazer lembrar... Elas estão aqui para nos trazer à memória aquela coisa deliciosa que nunca mais vivemos, nunca voltaremos a provar e que até esquecemos de que um dia existiu.

Falo da alegria pura e despreocupada de fazer travessura. Falo da euforia de criar e se divertir com a própria criação. Falo de ser dono do mundo e poder mudar a utilidade dos objetos sem nem cogitar se isso seria ou não permitido.

Pois é. Essa capacidade é uma das coisas que perdemos inapelavelmente quando ficamos adultos. Não que tenhamos deixado de fazer travessuras. As vezes até fazemos. Mas faça um teste: apronte uma "traquinagem" caprichada e corra para o espelho. Se você flagrar em seus olhos um brilho pelo menos parecido com o dessas crianças eu entrego os pontos dizendo que estou errada.

Olhe bem para elas. Não vem à lembrança o quanto era gostosa essa coisa de simplesmente não conseguirmos pensar no resultado de nossas ações?

Amigo, você perdeu isso. Meus sinceros pêsames. Você pode até fazer m... e sentir certo contentamento momentâneo mas ele logo cede lugar a uma espera torturante: o"resultado".

Mesmo sem o fantasma do resultado, as travessuras adultas não produzem esse mesmo estado de graça que percebemos nessas crianças.

Olhe só o menino da tinta branca como parece feliz! A alegria que ele sentiu produzindo e depois contemplando sua obra de arte é uma coisa maravilhosa que nós adultos simplesmente não temos mais.

Com toda a sinceridade: a foto do menino sujo de tinta me comove mesmo. Dá até um aperto no coração, uma saudade doída, uma imensa ternura por ele.

Que vontade de abraçar o menininho! Que vontade de rir com ele e esquecer o preço de cada coisa que ele estragou!

Confesso: eu queria sentir isso de novo. Sem prever o resultado, sem culpa e sem medo da chinelada.

Já não basta perdermos com o tempo a pele de pêssego, tínhamos que perder isso também? Não me parece justo...










11 de mai. de 2007

Proponha


"...Que os braços sentem
E os olhos vêem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção..." Skank

Hoje apaixone-se.
Ou invente uma paixão. Dê seu jeito.
Nada será falso. Será um delicioso quase-verdade. E afinal de contas o que é verdade nessa nossa vida?

O amor é inventável tanto quanto a história é reinterpretável. Será verdade se você quiser que seja. Se publicar em livros didáticos melhor ainda. De qualquer forma valerá pela fantasia e pelo momento mágico (mágica também é inventável!) com direito a tudo. Eu disse tudo.

Proponha isso a alguém. É bem possível que esse alguém também esteja carente de uma paixão avassaladora (e quem não está?) e tope a brincadeira. Já pensou que esse alguém também possa estar vivendo em preto-e-branco?

Monte um esquema e faça de conta que está morrendo de amores por aquela pessoa pela qual você não morre de amores. Espante os receios garantindo que à meia noite o encantamento acaba e que por isso o risco de sofrimento é mínimo. Taí uma mentira necessária.

Brinque disso mas não se assuste se de repente uma luz fora do script acender-se nesse palco.

Você vai gostar. Monte essa peça teatral só porque é bom e tem a ver com os sonhos de todos os mortais. Mate de inveja os acomodados e diga sim à pirataria.

Creia: uma encenação dessa poderá até atrair bons fluidos! Desperte a curiosidade do Amor. Quem sabe ele se aproxime de vocês só para observar. Quem sabe ele goste, encante-se e deixe-se estar. Essa é a hora: sequestre o Amor!

A idéia de sequestro lhe parece um tanto violenta? Tudo bem, fique com o plano B: finja que não notou a presença do Amor observando por trás do palco, embevecido. Capriche na encenação e espere que ele se comova. Sabe, esse tipo de esforço é mesmo tocante. E quem sabe uma vez comovido o Amor até se esqueça de ir embora.

Cristina Faraon

10 de mai. de 2007

Vai acontecer

Um dia você vai acordar e se levantar depressa demais, refeito demais.

Pela primeira vez vai conseguir ouvir todos os sons do mundo, tudo ao mesmo tempo, numa sinfonia alucinante.

Não há mais “barulhos”, mas sons que, estranhamente, convivem com o silêncio. Eles não são mais contrários. É como que se beijassem apaixonadamente. Fizeram as pazes!

O silêncio será quase palpável e cheio de significado. Você distinguirá perfeitamente as duas coisas e isso não lhe parecerá estranho. Aliás, aos poucos tudo vai se “desestranhando” diante de seus olhos, como um enorme novelo que se desembaraça.

Todas as perguntas que lhe inquietavam estarão respondidas de uma só vez. O entendimento total entrou em você como bola de fogo e as questões simplesmente desintegraram-se. Todas.

Tudo é agora tão obvio! Quais eram mesmo as suas angústias? Não importa, não importa mais. O certo é que a verdade está estampada, brilhante como o sol, despida de qualquer dubiedade. Tudo faz sentido.

Que dia é hoje?

Você entende com clareza porque e para quê nasceu, o motivo das guerras, das dores, das alegrias voláteis , galáxias... o escuro, o frio, o sol, a água, a morte, a saudade, o amor, a dor, o ódio, o êxtase, bondade, maldade...

Todas as coisas são apenas os braços sinuosos do mesmo rio - A Verdade.

Claro, claro... não poderia ser de outra forma! A noite segue-se ao dia e o dia à noite e tudo canta em seu próprio ritmo que, no entanto, juntando-se aos demais, forma um “tudo” do qual você é parte integrante e bela.

Agora você nota os bilhões de tons de cores dançando à sua frente. Cores novas e indescritíveis! Nuances deslumbrantes que jamais havia notado - e ainda assim o mundo continua o mesmo. O mesmíssimo mundo onde você nasceu. Tudo parece familiar e novo ao mesmo tempo. Todos os contrários coexistem de maneira inimaginável até pouco tempo atrás.

Como você não reparou nisso antes? É claro que o mar fala. Ele canta em tons graves - agora é possível ouvir. Tudo tem som.

Há som nas pedras e no orvalho, no arrastar sedoso das nuvens, no apodrecimento da fruta no chão, na ovulação das mulheres, no momento do enamoramento, na formação dos cristais, na dança dos vermes, nas decomposições, nas carnes mortas despregando dos ossos, na pétala que se desabraça da flor.

Algumas coisas falam, outras gritam e várias outras cantam. O fato é que tudo é som, luz e vibração. É possível ver e até contar todas as formas de vida que cabem em uma gota de água. Basta aproximar os olhos e tudo fica nítido, perfeitamente visível. É ´só aproximar os olhos e fixa-los em qualquer ponto, que toda a constituição do que você estiver olhando se descortina como um livro que se abre ao vento.

Por algum motivo essa beleza toda não oprime seu coração, não se transforma em nó na garganta, em pele arrepiada, tremor ou lágrima. Pela primeira vez você conheceu a beleza em estado bruto e mesmo assim não é possível perceber em si mesmo manifestação física alguma.

A princípio tudo isso é muito instigante. Impossível dizer quanto tempo você passa discernindo todas as combinações que compõe o universo ou deslumbrando-se diante de todas as formas de vida.

Tudo é forma de vida.

Aos poucos... uma sensação nova: uma saciedade jamais experimentada até então: saciedade de vida e de conhecimento. Tudo foi visto, rebuscado, percebido, analisado, entendido, decifrado. Um vento cálido passa ... através de você. E você entende o que ele diz, o que sem pressa lhe propõe.

Você é chamado a algo mais. Uma inquietação semelhante a uma nova curiosidade lhe impele a seguir adiante. Você ainda não sabe onde fica o "adiante" mas não há pressa - só pendor.

Então, saciado, você novamente olha em volta. Por algum motivo percebe e sente e sabe e vê que não faz mais parte. Precisa seguir. É inevitável seguir. Há um tipo diferente de magnetismo doce e irresistível. Você vibra pelo que, de alguma forma, sabe que vai acontecer. Sabe que é bom e está além, muito além.

Aos poucos você é tomado pela convicção de que o mundo todo se repete ... repete... repete... e assim será para sempre.

Alguma coisa mudou?

Você está destoando; não faz mais parte dessas coisas! Você precisa mesmo ir, quer muito, a ponto de começar a se inquietar.

De fato você se levantou rápido demais, leve demais...

Cristina Faraon

8 de mai. de 2007

Theodora e Victoria *



Doce, doce Theodora! Moreninha tão faceira
Que não se contém em seu mundo e invade nossa praça
Mas o faz tão lindamente e de forma tão certeira
Que tudo é seu num segundo e seu encanto não passa.

Seus olhos são estrelinhas com tanta vida contida
Que quisera fosse minha – filha ou melhor amiga.
Tem a beleza do cisne e a agitação da formiga.

Outro encanto é a Victória, bem princesa em seu jeito
De rio manso de águas claras morando em calmo leito
E deixa tantos sorrisos que ficam pra sempre no peito.

Lindo rio é a Victória de águas claras e puras
De sombras morenas nas margens e folhinhas na cintura
Beleza bem natural, tu serás sempre feliz
Por ter aura de pureza e meiguice até a raiz.

Desse jeito elas são hoje, mas não será sempre assim
Vão crescer, ficar mais belas e talvez esquecer de mim.
Então eu fiz esses versos pensando muito em vocês
Quem me dera, com as duas, me juntar e formar três!

Cristina Faraon
(Para duas menininhas lindas que conheci)

6 de mai. de 2007

Sereia


Estranha mistura! Mundos desiguais
Balanço macio de curta marola
Você foi pescado na beira do cais


Esquece os receios que eu tenho os meios
De tornar real o que vens a sonhar
E o mais que quiseres terás em meus seios
Conhece os segredos do fundo do mar


Conhece o segredo da tua sereia
Na malha que prende mas vai te embalar
E deita com ela, é clara a areia
Gentil purpurina no corpo a arfar


Veredas ocultas... estreito canal...
Esqueça, não busques de novo tua nau
Conhece os segredos do fundo do mar
Conhece o segredo da tua sereia
E fecha teus olhos quando ela cantar


Ah, as cores brilhantes de escamas fininhas
E os outros detalhes da tua formosa
Ah, rende-te às ondas de suas anquinhas
E agora sem medo, e agora sem culpa
Já nem te perguntas se é perigosa?


Tão bom ritual em molhada garupa
Quem manda ou obedece não dá pra saber
Em algas e ais te mantém geniosa
A deusa do mar com grilhão de mulher
Sê presa bem mansa e depois de me amar
Cativo descansa que vou te acolher
Na concha de escamas no fundo do mar
Oculto, onde o tempo tu vais esquecer.

Cristina Faraon

1 de mai. de 2007

O Que Eu Também Não Entendo


Se você é solteiro, não adianta explicar.
Se você é casado, nem precisa.
Jota Quest
Composição: Fernanda Mello e Rogério Flausino

O Que Eu Também Não Entendo

Essa não é mais uma carta de amor
São pensamentos soltos traduzidos em palavras
Pra que você possa entender
O que eu também não entendo

Amar não é ter que ter sempre certeza
É aceitar que ninguém é perfeito pra ninguém
É poder ser você mesmo e não precisar fingir
É tentar esquecer e não conseguir fugir, fugir

Já pensei em te largar
Já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém
É por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito mas com você eu posso ser
Até eu mesmo que você vai entender

Posso brincar de descobrir desenho em nuvens
Posso contar meus pesadelos
E até minhas coisas fúteis
Posso tirar a tua roupa
Posso fazer o que eu quiser
Posso perder o juízo
Mas com você eu tô tranquilo, tranquilo

Agora o que vamos fazer, eu também não sei
Afinal, será que amar é mesmo tudo?
Se isso não é amor, o que mais pode ser?
Estou aprendendo também

Já pensei em te largar, já olhei tantas vezes pro lado
Mas quando penso em alguém é por você que fecho os olhos
Sei que nunca fui perfeito
Mas com você eu posso ser até eu mesmo
Que você vai entender

Posso brincar de descobrir desenho em nuvens
Posso contar meus pesadelos
E até minhas coisas fúteis
Posso tirar a tua roupa
Posso fazer o que eu quiser
Posso perder o juízo
Mas com você eu tô tranquilo, tranquilo

Agora o que vamos fazer? Eu também não sei
Afinal, será que amar é mesmo tudo?
Se isso não é amor, o que mais pode ser?
Estou aprendendo também.

27 de abr. de 2007

Eu e a cidade


Gostou? Você já esteve em um apartamento lá em cima, no alto de tudo e já olhou a cidade envelhecida e poeirenta tentando encostar no céu e não conseguindo? Essa é uma das imagens mais tristes que conheço. Já esteve só em um final de tarde de sexta feira quando todos os mortais desligaram você de suas vidas? Já olhou para baixo e imaginou o quanto de dor e amor e dívidas e gozos, mentiras, traições, analgésicos e esperanças são representadas por cada luzinha amarela?
Notou que nenhuma luz é suficientemente clara?
Já percebeu que alguém ali no mundo adoraria te conhecer mas você simplesmente não consegue encontrar essa pessoa? Ela está sentada, cansada e os pés doem. Em seu colo, uma pasta surrada cheia de papéis e canetas. Blusa amassada. Rosto bonito. Não há sorriso. Milhões de carros com os corações apertados. Milhões de motoristas com pouco combustível. Final de dia; distrações caras e frustrantes para uma população desolada.
Final de dia, o coração explodindo de amor e você na janela. Uma muralha invisível separa você do resto do mundo. Você é como um espírito pairando absolutamente invisível.
Tenho certeza de que essa foto foi tirada em um final de sexta feira. Tenho certeza de que o dia foi quente, que a pessoa que disse que ia ligar não ligou, que o pessoal desistiu do happy hour, que o fotógrafo chegou em seu prédio primeiro que todo mundo e ninguém lhe disse “oi” no elevador. Um peso estranho amassava seu peito - isso é visível na foto.
Ele fuma.
Não toca violão. Com certeza é sexta feira e ele ainda nem tomou banho, ainda nem sabe se vai ao cinema ou se é melhor tomar comprimidos pra dormir. Não sabe se o cheque caiu, se o marido da faxineira continuará bebendo mas certamente acabaram-se os ingressos para o show. Ele não ia mesmo! Está muito cansado.
Tem sopa na geladeira. O céu ainda não está negro mas ficará e não há nada que possa ser feito quanto a isto.
Quem dera que chovesse! Mas não chove. Final de tarde e ele se lembra do tanto que riu no expediente, do tanto que o dia parecia ser promissor e do nada que isso significa agora. Todos os outdoors em seu percurso contam mentiras descaradas e riem quando ele vira as costas. Ele os ouve mas não olha pra trás.
Também odeio outdoors. São todos muito falsos.

17 de abr. de 2007

Outono

O que essa imagem sugere?


Parece outono.
Parece triste.
Parece lágrima.
Ou representa alguém que se perdeu, secou e não se importa mais com nada.

Outono significa velhice? Ou tempo de mudança sentida e dolorosa?
Outono é um sorriso discreto a nos prometer inverno a médio e primavera a longo prazo?

O que significa pra você uma folha seca sonhando na poça? O que te faz lembrar esse boiar a esmo? Lembra frio? Lembra fim? Lembra adeus?


Poderia ser uma metáfora de quando morremos? Já secos caimos da árvore no rio, rio que nos leva à outra existência... E nesse desfalecimento não há medo nem curiosidade, só um ir consentido. Rendição.


As folhas da vida caem sempre, todos os dias, sem estrondo e aos milhares. Não contabilizamos. Sonhos idos, planos órfãos, despedidas...

15 de abr. de 2007

A pergunta que não quer calar



Uma amiga - que não posso dizer o nome - comprou dia desses essa bolsa. Ela vive me perguntando se é bolsa de adolescente, se fica ridículo uma mãe de filhos usar, etc. Claro que nada respondo; não quero ser indelicada nem quero ferir seus sentimentos. Mas convenhamos: você usaria uma bolsa dessas? Que conselho você daria para essa amiga, no caso de ela ter mais de 35 anos? Procurar terapia urgente? Ou melhor: até que idade uma mulher pode usar uma bolsa com essa aparência e ainda assim e continuar sendo considerada uma pessoa normal? Outra pergunta: você contrataria uma nova funcionária se ela fosse para a entrevista de emprego usando um treco desse?

NÃO INSISTAM QUE NÃO VOU DIZER O NOME DA AMIGA.

11 de abr. de 2007

CONJECTURAS



Meu irmão como era estranho
Como era estranho você
Entre tubos marcianos
Sentindo que ia morrer
Que jeito estranho de olhar
Teus olhos com grossa escama
Que jeito amargo de ver
Esvair-te numa cama.

Ai meu Deus como eram tristes
Os lençóis amarfanhados
Tu tentavas me falar
Com gestos angustiados
Do que eu disse, o que ouvistes
Em teus dias desbotados?
O que ouviste de mim
Naquele momento pungente?
Achavas mesmo que ias
Ou dormiste inocente?
Será que o além te assustou
Ou foi um convite ameno?
Um consolo ou um temor
Pairou em teu rosto moreno?

Getsêmani a sós
Sofríamos acabrunhados
Tu e eu e todos nós
Igualmente lancetados...

Tu temeste? Qual a dor
De teu triste coração?
Quais soluços relutantes?
Tua mente ouviu canção?
Pediste a Deus mais um tempo
Ou deixaste o tempo ir
Levando tua vida aos poucos
Sem lutar ou insistir?

Como era estranho assim
Como era estranho você.
Parecias ser tão forte
Tão difícil de morrer!

Foi-te duro e rude o solo
Pra onde foste sereno
Ou tiveste da Mãe-Terra
Carinho meigo no colo,
E te sentiste um pequeno?
Brando leito já te encerra?
Festa celeste desfrutas?
Ou tu querias poder
Levar avante permutas?

Qual pedido acanhado
Me farias se pudesses?
Em que fui cruel, insana
Ou causei cruéis reveses?
Onde estava a tua alma
Quando calmo, sem mexer?
Onde estava a tua calma
Se nada podias fazer?

Tiveste angústia insana
Ou conformação sentida?
Talvez pesaste os momentos
Cruciais de tua vida.
Jamais saberei como foram
Realmente aqueles dias
Não pudeste nem contar
As contas das mil agonias

Quem dá a vida também mata...
Foi-se do mundo pra terra
Por aqui ele não volta
Entre nós nunca mais erra

No grande relógio divino
A contagem é exata
E a discussão se encerra
Se uma vida Ele arrebata.

Quem sabe na dor conseguiste
Fantasias de venturas
Pastoreando a mente
Fugiste de louca amargura;

Sorriste por breve instante
No fim, no momento fatal
Hoje, em terras verdejantes
Me esperas com o Pai, já sem mal.
Cristina Faraon



POR FIM...

Os versos que dou e que tomo,
Os versos que faço e desfaço
É o que de mais leve somo
Às coisas palpáveis, de aço.
Em versos me faço e desfaço
E brinco no espelho da vida
Penetro no denso espaço
Entrego-me à dor consentida.
Em versos, com força tamanha
Me procuro ou me escapo
Em versos de flores enfeito
Da lembrança o velho trapo.

Eu te amei, é bem verdade
Mas não disse com clareza
Quero crer que tu sabias
E disso tinhas certeza.
Mas tenho pergunta doída
(Já não podes responder...)
Por que não te disse em vida
O que acabo de dizer?

Cristina Faraon

REALIDADES BRASILEIRAS