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30 de jul. de 2016
Anéis flutuantes

26 de jul. de 2016
A pior perda *

22 de jul. de 2016
Idiotas *

18 de jul. de 2016
É show!

Vou tomar banho, me perfumar e passar creme no rosto. Amanhã de manhã vai acontecer novamente aquele evento luminoso no qual a estrela sou eu.
Não estou aqui para me gabar mas você há de concordar que não é todo mundo que provoca um ajuntamento organizado e sorridente por onde passa. Eu provoco.
Todos os dias o meu percurso pela Almirante Barroso é um a-con-te-ci-men-to. Claro que já me perguntei o motivo. Não sou má pessoa mas também ainda não fiz nada que merecesse essa reação do público. Mas vou reclamar? Claro que não. Um dia entenderei o que me faz parecer tão nobre. Enquanto não entendo, relaxo e gozo.
É tão bom ser admirada! Digo isso porque o que mais poderia explicar a emocionada saudação que recebo das árvores todas as manhãs quando passo pela avenida principal da cidade? Como explicar os aplausos, os acenos emocionados, a discreta agitação que cresce a partir do momento em que meu carro surge lá na curvinha, no início da
Qualquer um que esteja por perto no momento da minha aparição verá as árvores perfilarem e me saudarem emocionadas, vestidinhas de verde, com as folhas recém escovadas e lustradas sem nenhuma poeira. Quanto carinho! Algumas vem em turma se amontoando na bira da calçada. Outras me acenam mais solitárias, deslocadas no meio de algum terreno mal cuidado. Não importa. Legal é saber que todas acordam cedo para me recepcionar. Cantam, assoviam, fazem chique-chique com os galhos à minha passagem. Só não pulam mesmo porque não dá. Que belo momento!
Tento entender os motivos depois. Bem depois. Na hora "hagá" não me detenho nessas questões. Por que desconfiar de gestos de amizade? Tudo o que tenho que fazer é não desapontá-las. Quando me acenam diminuo a velocdiade e retribuo com o sorriso mais simpático que consigo. É o suficiente. Amanhã estarão lá de novo, cheias de vida.
Já reparei que no terreno do Tribunal há três dessas simpáticas árvores uniformizadas. Elas são mais contidas, claro. Não levantam os braços nem fazem barulho mas o leve aceno, sem muito alarde, já me deixa alegre. Não podem fazer mais do que isso provavelmente por estarem de serviço.
Observo também aquelas que não podem ir para perto da pista, como as outras. Sei lá como é a hierarquia vegetal mas estas de baixa patente também são tão meigas! Não deixam de comparecer por nada desse mundo. Ficam disputando espaço umas com as outras debruçadas sobre os muros da avenida se acotovelando esperando eu passar. Não há espaço nem para acenar, tadinhas. Apenas arregalam um sorriso verde e brilhoso.
Não desfazendo das árvores de serviço nem das contidas pelos muros (segundo escalão) registro aqui meu especial apreço àquelas mais expansivas que sorriem festivas, agitam bandeirinhas à minha passagem, jogam folhas e assoviam. São a alma da festa, certamente. Quando vou me aproximando elas cutucam umas às outras avisando "lá vem, lá vem ela!"
Ainda vou descobrir quem organiza essa festa. Sabe, isso me põe pra cima! Até esqueço os problemas. As árvores da Almirante Barroso são super alto astral.
Tenho que admitir: existe uns dez por cento delas que são, digamos assim, menos expansivas. São as mais altas e mais e quietas. Não há vento que as anime. Não sei se isso tem a ver com a idade. Geralmente elas se colocam perfiladas próximo à Doutor Freitas. Bonitonas. Parecem - ou querem parecer - mais nobres.
Sabe, não fico ressentida com essa falta de viço. Não fazem auê mas baixam o olhar quando passo. Permitem-se um discretíssimo sorriso e pronto. Pra mim é o suficiente.
Todos os dias pela manhã para mim é Sete de Setembro.
Bora comigo amanhã. Você vai ver que animação. De repente, vendo você comigo, pode até ser que elas lhe joguem umas folhinhas também. Leve máquina.
13 de jul. de 2016
Feixe: crônica de uma mãe
Ele era um pequeno feixe de inquietudes. Precisava de uma dose maior de aconchego. Precisava precisando mesmo, não era onda. Era coisa lá de dentro, dessas que a gente enxerga e não duvida. Era um precisar comovente pulsando dentro daquele corpinho frágil e por mais que eu o socorresse nunca era o suficiente. Eu via que não era, mas não sabia o que fazer. Às vezes era como se ele estivesse perdido na noite. No cúmulo da sua inocência ele se expunha assim, tão sem medo de se mostrar, tão sem medo de que usassem sua fragilidade contra ele mesmo. Às vezes eu me expunha, a mim mesma também, porque às vezes eu me via nele e não queria que se sentisse sozinho. Ele era eu mesma, só que sem disfarces. Nele encontrei a mim, desnuda e pequena. Ele era o meu retrato mais inquietante e foi por isso, e nessa época, que passei a me vestir de preto.
Ele existia e eu o amava e não poderia deixar que ninguém lhe fizesse mal.
Eu não tinha respostas nem abraços que lhe bastassem e na maioria das vezes meu coração doía profunda e longamente em seus bracinhos finos que nada podiam fazer por mim. Então diante de mim eu tinha um feixe de sentimentos tremulando, inquieto e cheio de vida. O potencial de angustia que poderia me sobrevir por causa dele era incomensurável. Melhor que não soubesse disso. E eu seguia não sabendo como agir e me desesperando em querer ser para ele a maior bênção da vida. Eu, solícita e desajeitada.
Ele todo era feito para sentir e me lançava, sem saber, num mar de aflições pelo passado, pelo presente e pelo futuro.
9 de jul. de 2016
Tudo que há nesse mundo
2 de jul. de 2016
Inferno
28 de jun. de 2016
Aborto - para sermos coerentes
Acho que quem é a favor do aborto deve ser também a favor da pena de morte. Se quiser ser coerente e não se contradizer tem que carregar os dois pacotes.
Pense bem: se um bebê, que nunca fez mal a ninguém, pode morrer para não incomodar, quanto mais um bandido, um assassino!
Mesmo que não seja "para não incomodar" , ainda assim o assassinato de um bebê justifica o de um bandido. O estado também não consegue dar assistência aos cidadãos de bem, por que deveria sustentar bandido? Você não consegue pagar a prestação do carro, porque sustentaria uma criança?
Não estou defendendo a pena de morte. Nem o aborto. Só estou dizendo que esses assuntos estão inapelavelmente ligados.
O bandido é produto do meio e não teve chance na vida? Ok. O bebê também é produto do meio e também não lhe deram chance de mostrar todo o seu potencial à sociedade. O bebê é produto do meio sim. Ele é resultado direto do louvor ao sexo irresponsavel.
A mãe não pode ser obrigada a aturar? E por que nós seríamos obrigados a aturar bandido? É um mala que não nos interessa, tanto quanto o bebê. Não é assim?
O bandido não tem culpa? Nem o bebê. Dane-se o bebê? Então dane-se o bandido também. Não dá pra separar.
"Meu corpo, minhas regras".
"Meu país, minhas regras". O que manda não é a moralidade mas o poder. Se está me incomodando e posso matar, mato.
Lembrei daquelas tribos indígenas que matam os bebês defeituosos. Vai ver que eles estão certos. Se vai atrasar minha vida, por que não detonar? Se esta no útero ou se já saiu, isso é só um detalhe.
Nossa! Já notou como uma coisa puxa outra?
24 de jun. de 2016
Ironia
Certa vez eu estava lendo uma reportagem na qual diziam que crianças bem novinhas não conseguem entender uma ironia. Elas entendem a ironia como uma afirmativa. Não conseguem perceber que a pessoa pretende que o ouvinte entenda exatamente o contrário do que ela está dizendo. De fato há um certo grau de sofisticação nesse tipo de comunicação. É um recurso interessantíssimo e útil
É até compreensível que uma criança não o compreenda mas é difícil entender um adulto que não consegue entender ironia.
No Facebook eu sofro. De vez em quando posto alguma ironia - minha marca registrada - e depois tenho que correr pra me explicar. Lamento informar: sou uma pessoa irônica. Sei que isso não é uma virtude. Principalmente agora que pode notar que por mais ácidas que sejam as palavras e por mais estranha que seja a afirmativa algumas pessoas não entendem.
Talvez o erro esteja em mim. Vai ver que preciso refinar meu estilo. Ou vou ter que me reprogramar e abrir mão dessa interessante ferramenta da comunicação. Afinal de contas é muito chato ter que se explicar. Ironia é como piada: se explicar perde a força. Mas pior do que se explicar é não ser contestada mas ficar imaginando se aquela afirmativa fez ou não fez um estrago na sua imagem.
Mas nem tudo é ironia. As vezes a idéia é um pouco diferente: apenas passar uma mensagem sutil, nas entrelinhas, levando o leitor a se flagrar. Exemplo:
Esses dias postei um vídeo ridículo no qual eu aparecia com o rosto desfigurado pela lente da câmera. Eu estava horrorosa e falava sobre nossa futilidade em dar tanto valor à beleza exterior. Eu afirmava em tom bem irônico e idiotado que o que importa mesmo é a beleza que vem de dentro. Eu disse tudo aquilo tendo em mente a rejeição natural que a minha figura ridícula e distorcida criaria nas pessoas. Eu falava contra a valorização da imagem enquanto provava que a imagem é por demais importante e não conseguimos fugir disso. A mensagem que eu quis passar é que somos hipócritas ou tolos quando dizemos que o exterior não é importante porque todos rejeitam uma pessoa com aquela aparência que eu estava apresentando. Eu queria flagrar as pessoas sentindo repulsa pela minha aparência e em seguida sentindo repulsa por elas mesmas.
Esse tipo de truque me pareceu simples e óbvio mas as pessoas não sacaram a minha sutileza. Elas simplesmente disseram que concordavam com minhas sábias palavras e comentaram sobre o culto às aparências. Parece que ninguém refletiu sobre sua propria reação à minha feiura. Fiquei meio frustrada.
Mas agora que a coisa esfriou estou assustada é comigo mesma. Notei que ninguém se importou com a minha imagem não porque fossem broncos mas talvez a minha cara feia, a minha boca enorme e o meu riso abobalhado não tivessem importância alguma para eles e o que importava mesmo era a mensagem que eu estava passando.
No final das contas as pessoas não são tolas e a única pessoa preconceituosa e fútil sou eu! Porque não só me importei com as aparências mas supus que minha pequenez fosse universal.
No final somente eu fui apanhada em flagrante. Eu fui a única presa nessa armadilha.
22 de jun. de 2016
Perdas
Toda a tranqueira da juventude nos pesa bastante, mas a custamos a perceber. Por exemplo: enxergar bem é uma beleza, mas ver demais pesa. Enxergamos tanto as nossas imperfeições quanto as expressões faciais alheias, que preferíamos não ter notado. Pesa comparar, pesa buscar incessantemente outros olhos. Então um dia desce a nuvem da velhice e de tudo isso somos aliviados.
17 de jun. de 2016
Na natureza selvagem
Geralmente guardo o "centro da mensagem" dos filmes que assisto. Não me pergunto se o idealizador da história tinha em mente a tal mensagem central que pesquei. Mas o que importa? Traço paralelos, vejo semelhanças, "mensagens", setas apontando para cá ou para lá.
Incrível e lamentável a determinação irredutível do personagem principal. Já escrevi certa vez sobre o que seria ter sobre si os grilhões de uma liberdade que se impõe e nos impede de mudar de direção; uma liberdade que não aceita ser negociada nem diminuída.
Foco... Não podemos deixar que nosso foco degenere em algo estranho, nocivo.

"Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!"